Há comemorações que nunca serão verdadeiramente sentidas na rua, por muito que um qualquer regime o decida por decreto. Festejar Camões com alegria e paixão, seja de bandeirinha ou copo de cerveja na mão, é coisa que nunca vimos e julgo que nunca veremos, porque o povo tem para alguns acontecimentos, memória, e como diria José Gil: Camões nunca se “inscreveu”, por muito respeito que tenhamos por um “dos maiores” da língua portuguesa – Pessoa tinha sobre esta classificação uma opinião muito interessante. Já o 25 de Abril não precisou de decreto, porque foi o povo que nas noites seguintes a 1974 saiu para a rua, e sem bandeirinhas nem copo na mão, passou a festejá-lo alegremente em improvisados passeios e encontros nas praças do país. É certo que o tempo é um grande regulador, e essa festa passou a sê-lo de uma forma mais tranquila, mas ainda, a maneira de vir à praça homenagear todos o que fizeram Abril, assim “inscrito”.
Não fosse a persistência de alguns, no exemplo seguinte, algumas, e esta festa popular de Abril em Lisboa – aqui foi 2011 - estaria há muito limitada a uma ou duas Freguesias que não a deixam morrer. Foi a persistência das herdeiras do espírito de Maria de Lurdes Pintasilgo, através da Associação Abril, que permitiu que todos os anos se celebre no Largo do Carmo o arraial que comemora aquela noite e aquele dia. A Câmara de Lisboa tem sido generosa, mas se não fosse a persistência e o empenho pessoal das dirigentes desta Associação, que forçam a isso, muitos sairiam à rua sem ter uma praça, onde de copo na mão pudessem cantar a Grândola. Cabe dizer que nem de outra maneira poderia ser, porque oficializar a organização seria contaminar a festa.
O Jardim de S. Pedro de Alcântara pode ser outra vez, este ano, a Praça da Canção, se houver o bom senso de não a dificultar, porque é preciso não deixar morrer uma das mais transversais festas políticas da nossa democracia. O programa será publicado aqui neste link.
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