De um comentário que deixei por aí: “Tenho duas opiniões sobre a polémica frase de Assis porque só posso exigir rigor se for rigoroso: uma, que o condena se de facto disse aquilo, outra, que não o pode condenar se diz que não o disse. Pense-se o que se quiser de Assis, por mim, não o tenho com a
falta de coragem suficiente para não assumir. Mas de facto, há um debate que
falta fazer quando nos acusam de populismo, porque a acusação vem sempre de
sopetão sem direito a contraditório. É uma forma de estigmatizar quem se
aventura, de maneira que ninguém se sinta confortável a debater a questão. Eu
sou de esquerda e começa a fazer-me confusão que a esquerda tenha pruridos em
abordar o problema, esquecendo que essa pode ser uma forma de deixar que o
debate se inquine. Todos sabemos qual é o ranking do país em matéria de
riqueza: não somos um país rico, mas se não somos um país pobre, pouco nos
falta. Ora, é populismo evidenciarmos os ganhos de alguns dos nossos comparados
aos ganhos dos outros, os ricos? É populismo falarmos dos vencimentos e pensões
do Catroga? Do ex-administrador do BdP, o banco de um país a caminhar para a
pobreza e os compararmos com o do banco sueco? E dos deputados? É populismo
fazermos circular aquele vídeo sobre as não-mordomias dos deputados suecos? Só
se for porque ele evidencia uma filosofia de serviço público que está muito
longe de ser a que existe entre nós? Talvez se compreenda que não convenha que estas
coisas sejam evidenciadas, mas se nos lembrarmos que nada disto se sabia antes
e que foram esses secretismos que originaram os desmandos que aconteceram na
legislação que se produziu em causa própria, naquela assembleia, talvez se
perceba melhor a tentação de falar disto. Ou já se esqueceram da pouca vergonha
das reformas antecipadas e das obscenas pensões vitalícias? Coisas só
recentemente abolidas? Populismo era se eu lhes chamasse ladrões, mas nunca
chegarei aí. Há uma coisa de que não tenho medo, é do uso das palavras, porque
sei usá-las. Façam-me um favor, sejam justos comigo e não me chamem nomes. Já
somos crescidos e sabemos onde nos pode levar a questão do populismo mas não é
por isso que temos que varrer o lixo para debaixo do tapete."
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