Sempre militei por aí, sem partido, para que um dia fosse
possível uma grande convergência das Esquerdas numa qualquer coisa de útil,
como esta que tenta o Congresso. Em vão, porque o comportamento dos partidos com
os simpatizantes tem sido comparável ao da galinha a chocar ovos. A minha
desilusão é tal, que passei a comparar a preocupação dos partidos pelas suas
metas eleitorais, com a preocupação de uma empresa comercial com as suas
vendas: ou seja, quanto mais votos, mais verba vem da dotação orçamental anual.
Tenho feito dos meus ativismos à esquerda, um permanente pragmatismo,
porque sei que o mundo não é a preto e branco. Ora, as manobras
que cada partido faz para inviabilizar o sucesso de uma qualquer ação à
esquerda, que não seja sua, chegam a lembrar-me os comportamentos dissuasores
das ditaduras de outros tempos: sobrepõem-se para eclipsar, fazendo ruído para
inviabilizar a audição do outro. Tudo, menos a solidariedade ativa que
reclamam, porque essa só vale quando são eles a pedi-la. Um partido assim é uma
coisa com cio. Como resultado, extremam-se as minhas posições e começo a achar
lógica na estiolação deste modelo. Hoje, acho que o sistema parlamentar está a
precisar de uma refundação, porque não vejo maneira de entregar o meu voto, não
a um partido, mas já a um sistema que se representa assim. Alguém falou outro
dia de uma configuração parlamentar que talvez resultasse: uma câmara composta
de duas coroas de representação, uma partidária e outra de representação
uninominal. Já não sei se sim, talvez.
Quero no entanto repelir com veemência, o discurso que tem por
vezes uma configuração de chantagem por cada vez que falamos dos males de que
enferma o sistema, porque essa, pode muito bem transformar-se numa forma de castrar
e direcionar o debate, tutelando-o logo ali. É que o povo diz e bem que não há fumo
sem fogo.
Não duvido que este Congresso das Alternativas tenha tido valor e trazido esperança, o que duvido é que lá tenham estado aqueles que precisavam ouvir o
que lá foi dito, porque esses, alguns sabem tudo, outros, sabem-na toda.
Post Scriptum: Ver ontem Alberto Martins e António Capucho,
fazerem um evidente sorriso cúmplice e simultâneo quando Mário Crespo acusou o
sistema de ter criado mordomias parlamentares vitalícias, quando falavam das
reformas antecipadas que foram permitidas a políticos, pode ser o
reconhecimento de que alguma coisa foi mal feita entre eles ao ponto de lhes
arrancar agora aquele sorriso.
Sem comentários:
Enviar um comentário