08 novembro 2012

Finalmente, a Dra. Jonet.

(2 x Reeditado)

Confesso que sempre que ouvia Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, o fazia com alguma reserva como se a cada momento a pudesse ouvir dizer um disparate. Não sei o que mais pesou nisto, se os receios do retorno de promoções pessoais à volta da caridadezinha, se imaginar que a senhora pudesse viver em Cascais, ter aquele sotaque inconfundível e ter nome Jonet. É verdade que isto não é forma de ouvir ninguém, mas também é verdade que há receios que não podemos deixar que não nos assaltem, existem em nós, e era assim que sempre a ouvia. Diga-se que os produtos alimentares que ofereci nunca foram por me lembrar da Dra. Jonet, mas dos que viriam a beneficiar da minha doação. É também verdade que é fácil vir agora dizer isto, depois desta entrevista que deu, e em que finalmente confirmei que os meus receios tinham algum fundamento. Há coisas que podemos por-nos a adivinhar com alguma taxa de sucesso, só a sorte grande é que não.

“Entãão” pronto, Dra. Jonet, aqui fica o que merece: "Pela demissão imediata da Dra. Isabel Jonet".

Reedição: As reações que se vão lendo dizem tudo sobre o seu discurso. O último que li é demolidor. É dos jovens do MSE  Movimento Sem Emprego. Leiam.

Ou no 5dias.net, que juntou à carta uma excelente paródia do Ricardo Araújo Pereira: CARTA ABERTA - Uma canja para a Jonet. Ouçam.

2ª Reedição: Seria injusto com um texto de Ricardo Sardo no Legalices se não arranjasse forma dar relevo à sua reflexão sobre este discurso da Dra. Jonet. Ainda a tempo de ser lido através da 2ª reedição deste post. Não deixem de ler, AQUI.

2 comentários:

Ricardo Sardo disse...

Já escrevi sobre o assunto. No Facebook, ainda ontem, defendi de imediato o boicote ao BA, mantendo porém a doação mas a outras instituições, como a Cáritas. No blogue já elaborei a minha posição, depois de alguma reflexão. Como escrevi há pouco, prefiro primeiro contribuir para a redução do número de carenciados (reduzir a pobreza, portanto) e só depois ajudá-los. Porque se não damos prioridade à primeira hipótese, estaremos a ajudar um nº cada vez maior de pobres, fazendo com que a nossa ajuda seja mais insignificante. Que é o que está a suceder com o actual governo com o apoio desta gente que pensa da mesma forma, que não somos todos iguais, não nascemos todos iguais nem todos temos os mesmos direitos, que existem estratos na sociedade, classes.
Abraço.

Graza disse...

Mas é exatamente isso Ricardo! É mesmo esse o caminho correto a seguir, quanto às prioridades. Também já me questionei como vou reagir quando me derem o saquinho. De fato, a Cáritas… está bem, pode ser, que a ligação às Igrejas já é coisa antiga e estamos habituados, mas este discurso foi muito mau, embora ache que não vá por em causa o projeto. Deixe-me colocar aqui um comentário que fiz noutro local porque ajuda ao esclarecimento da minha posição:
“Não me parece que se esteja a acusar a “senhora de ser rica”, e de “não precisar de trabalhar”, essas questões aparecem porque são elas que fazem ressaltar a vertigem que há muito se pressentia que um dia a levaria a fazer-lhe sair este discurso pela boca. E o que é dramático é que as Jonets não se apercebam de quanto esse discurso é chocante, de tal forma ele faz parte da sua estrutura mental em termos de pensamento político. Já a questão da “promoção à custa da miséria alheia” é um problema bem mais fundo, porque esse palavrão: “promoção”, pode vir aqui desfocar – por ser tão desagradável ser dito - a realidade do que se passa com a “dedicação” à “causa” dos pobrezinhos. Eu nunca usaria esse termo se tivesse que continuar a falar da senhora, por uma razão muito simples, corria o risco de inquinar a minha explicação da sua atividade: “- Credo! Agora a senhora quer-se promover! Pobre criatura!”. É a coisa mais simples, partir deste “promoção” para passar ao ataque. No entanto o que se passa é qualquer coisa muito próximo disso.
Podemos ir à década de sessenta buscar memórias deste tipo de caridade.”

Um abraço .