Nunca tive um gato, mas já tive um cão. Também tive periquitos.
Dos cães, curei-me ainda criança quando tive que me despedir de um fiel rafeiro.
Quanto aos periquitos, viviam numa casota grande e alta, onde eu entrava para
lhes dar de comer. Era um alvoroço de penas por cima de mim. Um dia, depois de uma
forte gripe, o médico na urgência hospitalar perguntou, com um envelope grande
na mão: De quem é esta radiografia? Acusei-me. Você alguma vez teve um grande
contacto com pássaros, periquitos ou coisa assim? Pois sim doutor, mas vê isso
na foto? Sim, o histórico que aqui está pode ser o resultado de um contacto
desse tipo. Quanto a gatos, pouco me cruzei com eles. Mas da forma como as
coisas vão, algum bem preto deve ter passado por aí. Ah, mas havia aqueles no
prédio de um amigo onde detestava entrar, porque mal se abria a porta da rua
vinha aquele bafo pestilento da mijanceira que a gataria fazia nos quintais do
rés do chão. Mijo de gato com cheiro de carapaus fritos e papa de arroz de
peixe ressequidos, que algumas velhinhas, passando pela porta de serviço, deitavam
por baixo das grades. Era um nojo naqueles verões quentes de fritar pardais.
Mas houve um gato hoje, ou melhor, o resultado da sua esfrega
num sobretudo azul e outras peças de roupa que aqui vieram parar. Sabia que
largam pelo, mas nunca me tinha apercebido da quantidade, do incómodo e do perigo
que podem ser. Coube-me a tarefa de por aquela roupa em ordem. Aspirador, escovas,
rolos de fita adesiva, a tudo resistiram, o insólito é que parecem programados
para se infiltrar nos tecidos onde se alojam como se um software na raiz os faça
entrelaçar onde caem. Foram puxados um a um, à unha, para a boca do aspirador.
Foi uma manhã nisto. Imagino por onde mais se infiltrarão nas casas onde vivam
estes mimados Hobbes. Conclusão: a seguir à tarefa a primeira operação de
pesquisa foi sobre “Pelo de gato”. Aqui está o resultado.
Olha lá, mas isso não fica pronto assim! Não? Então? É tudo
para a lavandaria! Cheira a chichi de gato! Nova conclusão: Ou estou constipado
ou a idade não perdoa e tenho que ir ao otorrino.
P.S. - Voltarei aos cães, porque desta vez a coisa é triste e dramática.
P.S. - Voltarei aos cães, porque desta vez a coisa é triste e dramática.
1 comentário:
Bela história que a verdade é que eu gosto de escrever coisas como são você, em algum momento, mas agora não tenho tempo, porque eu tenho que ir comprar um arranhador para gato
Enviar um comentário