Acabo de ouvir José Gil, na TSF,
e ele tem razão quando volta novamente com o Medo, que foi o seu tema num dos
melhores livros escritos sobre nós: Portugal Hoje – O medo de existir.
Há uma coisa que nos é comum de um modo geral nesta crise: a
forma como temos dificuldade em reagir coletivamente. Somos um povo que não
passa o patamar da verbalização em surdina, acusamos apenas, ofendemos agora governantes
em espaços públicos sofrendo com processos por difamação, mas não passamos disso.
Há um medo na sociedade portuguesa que faríamos bem em exorcizar. A que se deve
ele? Que medo é este de que o povo tem? Será o tal medo social entranhado que
vem lá de longe? E não perdeu para fazer o 25 de Abril porque não foi ele que o
fez, foi um grupo de militares, esses sim, não tiveram medo, porque sofreriam
as consequências do desastre, mas o povo não, veio apenas para a rua
apoiá-los porque tinha a noção que bastaria serem muitos para projetarem para o
outro lado da barricada o medo que sabiam existir também lá?
Que se passa com este povo? Nos comentários dos fóruns, dizem-se
as coisas mais inusitadas que nos arrepelam. Aparecem neles sempre os mesmos dois
grupos de portugueses, charneira, uma espécie de eixo central desta nossa vã
apagada e vil tristeza: um, é o dos merdosos que são contra as greves e os
sindicatos e as ações cívicas conducentes à visibilidade do protesto, apenas porque
xim. Nem são até gente de direita, embora votem no centro ou centro direita, é
gente sem convicções políticas e grandemente deficitários em cidadania. O outro
é o dos medrosos, gente convictamente de direita para quem qualquer política
exercida por um governo destes é apenas um ato de expiação dos nossos males.
Nós somos pecadores, desvairados sociais que não nos enxergamos porque exigimos
manter privilégios que só merecemos se tivermos dinheiro para os comprar, nada
pode vir de uma política redistributiva, porque isso não é bom para a economia
de mercado, a economia que segundo eles dá oportunidades a todos para o
conseguirem. E são estes dois grupos que ancestralmente continuam a ser o
atavio mais entorpecedor da nossa dinâmica como povo.
Não sei como se pode mudar um povo assim, mas receio bem que
os nossos “brandos costumes”, na sua nova e abjeta versão de “bons alunos”, tão
querida ao governo atual e à direita, mais à cobardia Presidencial que temos, sejam
uma cruz que vá durar por algumas gerações.
Ando desalentado com este povo, e vejo muita gente próxima
de mim fazer parte dele. Vai ser triste morrer num país assim.
Sem comentários:
Enviar um comentário