31 agosto 2012

RTP, Touradas e Serviço Público

“Assegurar uma programação variada, contrastada e abrangente, que corresponda às necessidades e interesses dos diferentes públicos”. É assim que começa a relação dos termos contratuais de prestação de serviço público da RTP.


O Passos disse que confessa que não sabe o que é a definição de serviço público, não espanta, porque ele não sabe muita coisa que nós sabemos. Se por essa questão ele nos pode chamar histéricos, como chamou, nós podemos chamar-lhe parvo. Sou porém dos que entende que o conceito de serviço público não se encerra naqueles programas entediantes de livros que fazia o agora Secretário da Cultura Viegas, e por essa razão iniciei o texto com aquela definição do contrato RTP.

Fui em tempos figadalmente anti touradas, mas reparei mais tarde que o era por questões relacionadas com um preconceito: a relação do universo dos touros com uma certa aristocracia; a relação com as franjas da Direita mais reacionária; a relação com o que de mau existe na “cultura marialva” porque nem tudo nela tem que ter esse estigma, enfim, por coisas destas era anti touros. Hoje sou neutro. A razão da mudança deve-se ao facto de ter entendido que o assunto é mais transversal do que entendia, e ter levado em consideração que não tinha o direito de me impor - daquela forma - a séculos de uma relação de convivência de uma grande parte do território português e das suas gentes, com os touros, de tal forma que fazem hoje parte da sua cultura.


Sabemos que tem sido a evolução do homem a por termo a coisas que hoje consideraríamos um absurdo. Já matámos elefantes para lhes tirar marfim, baleias para extrair o óleo, bonitos animais para golas de casaco, enfim, barbaridades. Mas continuamos a cometer outras: os animais no circo onde levamos as criancinhas; a forma como empilhamos frangos em criação para levar ao churrasco; a barbaridade na engorda dos gansos para lhes extrair o fois gras, enfim, coisas que um dia não serão assim. Entendo que também as touradas serão um dia coisa do passado, mas será a nossa evolução que vai determinar o fim dessa cultura. Por enquanto, quer queiramos quer não, elas fazem parte da cultura de uma vastíssima região em Portugal e Espanha. Os ribatejanos e os alentejanos que o digam. Se há um público, há um direito, o mesmo direito que concedemos às minorias que gostam dos entediantes programas de livros do Viegas. Outra coisa é o empenhamento que cada um deve ter na causa anti touradas para forçar a tal evolução. Se a transmissão de uma tourada pode ser serviço público? Porque não? Não se enquadra nos “interesses dos diferentes públicos”? Cada um é depois livre de escolher o que vê.

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