São nove da manhã. Abri o computador com o intuito de descarregar
a raiva que me vai na alma com a merda da conversa da puta da formiga macedo
sobre a fábula da cigarra e a formiga, por não me sair da cabeça desde que a ouvi.
Liguei o rádio, enquanto no computador se instalavam as ferramentas de trabalho
para que a merda da cigarra que sou - segundo a formiga macedo - cante sobre a
merda da conversa dos calões e dos mouros de trabalho a que a formiga fabulista
de pacotilha se referia, e o primeiro som que o rádio me devolve é a excelente crónica “O Fabulador”,
em Sinais, de Fernando Alves, na TSF, sobre aquela fábula de Esopo. Entro na
net e a coincidência continua: a leitura dos correios iniciais, aqui, traz-me também
para o barulho de mais cigarras, gente que não cala a indignação de não poder
trabalhar, de não poder ter o direito à esperança de se matar como se mata a
puta da formiga macedo com tanto trabalho. A raiva tinha-me alinhado um
pensamento para por o dedo em cima da puta da formiga, mas abstenho-me agora
por outros o terem feito já por mim com mais qualidade. Sobra-me a esperança
que o barulho que fazem neste final de verão seja o prenúncio da Revolta das Cigarras,
que já vai sendo tempo de reporem a honra: querem vergá-las ao trabalho escravo
de um carreiro, mas é da espécie e está no seu genes que a cultura através do
seu canto seja aquilo que as distingue dos vermes.
Esqueci-me de dizer que a puta da formiga macedo se engana
muito a meu respeito: trabalhei durante quarenta e quatro anos, fui desempregado
num processo colectivo, reformado compulsivo e que me honra muito pertencer ao
grupo das cigarras e não das formigas de merda a que ele pertence.
2 comentários:
Brilhante, amigo Grazina...
Obrigado Alexandre. Isso responde-me um pouco à dúvida de estar ou não doido por escrever assim.
Um abraço.
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