Fonte Wikipédia. Pesquisa: Maio de 68.
Não quero que encontres
muitos paralelismos neste retalho de texto, apesar de existirem alguns, para
não julgares que quero com ele fazer provocações. Quero apenas servir-me dele
para tentar esclarecer os acontecimentos no dia da Greve Geral, e dizer-te por que
razão não sou capaz de manifestar-me com uma vela e em silêncio em S.Bento, no evento Pela Paz que criaste no Facebook, ou
ir para sair à hora marcada e com a minha previsibilidade deixar sossegado
quem insiste em trazer-nos neste estado.
Se no Maio de 68 não
tivesse existido o punhado de loucos que o fez, hoje não teríamos entre nós tanta
gente a referir-se a ele com um sorriso rasgado de saudade, porque, como se
depreende do texto foram eles que o proporcionaram. Se pudéssemos voltar lá,
ouviríamos certamente os mesmos lamentos que estamos hoje a ouvir pelo que
aconteceu frente à Assembleia, porque também lá, houve grupos de bardinas
que fizeram mais do que era esperado que fizessem.
É provável que estejamos
já a atravessar uma fase pré revolucionária, e como nenhuma é igual, não
podemos pegar num manual e copiar os passos para obter uma coisa idêntica, o
que temos são causas próximas e comportamentos de resposta iguais, porque o ser humano é o mesmo. Por essa razão há conceitos que vão
necessariamente ser postos à prova, porque é isso que as revoluções fazem:
trucidar regras.
Sou igualmente como tu,
contra qualquer forma de violência. Qualquer forma, seja ela qual for, mas
talvez me digas que és em primeiro lugar contra a violência física porque essa
é a primeira delas: dói na pele. Sim, mas é aqui começam as minhas dúvidas e
divergências, porque há factos que não estão tipificados como violência porque
o determinou o sistema que deixamos que se impusesse com as nossas distrações.
Implantaram-se como violências que se perpetuam no tempo e são bem mais graves
que umas pedradas e uns caixotes queimados. Essas violências não doem na pele,
doem na alma; nessa alma que em ti é linda como diz o Bruno, mas eu acho que
não é muito menos nele, lá porque, ou se é que, ontem andou a atirar pedras. É
que o Bruno talvez tenha - quem sabe - um filho pequeno, seja pai solteiro
desempregado e amparado pelos pais reformados, mas não é isso que lhe deve
enegrecer a alma. O que ele faz é impor-se à violência que sobre a vida dele
exercem. O choque do desespero é contra quem o sistema lhe opõe como barreira: a
Polícia. Já foi assim em França em 1968 para falar apenas das revoluções
urbanas, mas exemplos não faltam. Num sentido figurado, diria que não encontras
uma batalha em que não tenhas que empregar de início um qualquer meio dissuasor
de forma a abrires brechas na defesa do adversário, e Ana Maria, o que vimos
ontem pela Europa fora é um começo qualquer. O que assistimos são os primeiros
movimentos de quem só sabe por enquanto o que não quer.
Sou contra a violência,
mas estranhamente não conseguiria pronunciar os discursos da treta, que ouvi a
Cavaco, a Passos, ao Ministro da Policia etc., etc.
Mas lá estarei para
conseguir de ti mais uma foto que te revele a alma. Agora vou ler o que se anda
por aí a escrever sobre a carga policial a que também escapei por um triz.
2 comentários:
Não sou contra o acto violento se ele se afigurar necessário!
Mas não posso ser solidário com qualquer gesto gratuito (ia a dizer arruaceiro) de, sem qualquer ligação com as massas, ter como único e objectivo resultado abafar e esvaziar uma luta...
Pois claro que não podia ser contra Rogério. No lugar do seu camarada Salgueiro Maia teria igualmente feito aqueles disparos para a fachada do quartel do Carmo. Um ato violento, mas seria um “gesto gratuito” ou traidor à Pátria se a revolução não tivesse triunfado.
No contexto de convulsões deste tipo só algum curto afastamento temporal ou histórico pode dizer o que foram ou não “gesto gratuito” e/ou “arruaceiro”, como se provou no Maio de 68, onde aqueles atos não “abafaram” nem “esvaziaram a luta”, antes pelo contrário.
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