A Dra. Isabel do Carmo não levará a mal que faça uma cópia
integral do triste desabafo que nos deixou hoje no Facebook. Os sublinhados são meus:
“O meu amigo matou-se.
É um dos motivos porque vou à manifestação do dia 2 de Março.
“O meu amigo matou-se.
É um dos motivos porque vou à manifestação do dia 2 de Março.
Vou também em nome do meu amigo. No dia 18 de Fevereiro o
meu amigo J. C. deu um tiro na cabeça. Já não vai a esta manifestação.
Era um indigente ou um faminto? Não. Era um exemplo da
chamada classe média. Gostava da vida. De comer, de dançar, de ir à praia. Ele
e a mulher comportavam-se como dois namorados, depois de todos estes anos.
Gostava dos filhos, a quem era muito chegado, gostava da neta. Gostava do
trabalho. Mas, a situação a que nos levaram criou um labirinto sem saída. De
facto, sem saída para uma grande parte da população. Deixemo-nos de flores, de
«há soluções para tudo», de «é preciso ter esperança» ou de «há-de correr bem».
Há certas situações que não têm solução à vista. Tinha os
pais em casa com oitenta e tal anos e tinham chegado ao ponto de não
conseguirem tratar de si próprios. Solução? Um «lar» custa 1300 euros para cada
um. Uma empregada permanente anda por aí.
Tinha empregados a quem tinha que pagar salários todos os
meses. Tinha empréstimos ao banco, crédito a cumprir, letras. Tinha clientes
que não pagavam, porque por sua vez não lhes pagavam a eles.
Os filhos trabalhavam, mas havia um apoio indispensável, por
causa da precariedade e por causa de situações de doença.
O senhorio acabava de, em concordância com a nova lei das
rendas, passar-lhe a renda para o dobro.
Tinha solução para esta espiral que todos os dias se
agravava? Não tinha.
Declarava insolvência, renunciava a todos os pequenos bens,
ia para a rua, abandonava pais e filhos ao destino? Claro, tudo é possível.
Mas a dignidade tem um preço.
Os amigos podiam ajudar? Muito pouco.
Foi com certeza em nome da dignidade que teve a coragem de
acabar com a vida.
Nesse mesmo dia veio ter ao Serviço de Urgência do Hospital
de Santa Maria uma senhora que se atirou para debaixo do comboio do Metro.
Salvaram-na, mas ficou sem um braço. Dias antes atirara-se a professora e o
filho de uma janela em Bragança. Na ponte da Arrábida são frequentes os
ajuntamentos porque alguém se atirou.
Estamos a assistir a uma epidemia?
Como os nossos governantes e as estruturas internacionais e
o poder financeiro mundial já não distinguem entre o Bem e o Mal, temos nós que
desobedecer às leis do Mal, protestar, mas não só. Encontrar o caminho para
derrubar este Poder. No dia 2 de Março o meu caminho começará na Maternidade
Alfredo da Costa na Maré Branca e continuará com todos os outros, através de
Lisboa.
Também em nome do meu amigo que NÃO AGUENTOU.”
1 comentário:
Antes que o país se suicide...
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