Saltem do sofá e mostrem a vossa solidariedade ao Miguel, que eu não sei quem é, mas presumo que seja um coração generoso.
Tem sido uma decepção a falta de solidariedade que se tem verificado com os que têm sido levados à justiça, apanhados por questões menores nestas lutas de protesto tão necessárias à manutenção de uma vigilância sobre as injustiças que se abatem sobre nós. Não queria estar na pele deles, não pelas consequências, mas pelo desalento que deve ser estar daquele lado só, sem apoio dos que tinham a obrigação de não me deixarem a pagar sozinho o preço da ousadia de não ter ficado calado:
Um texto de Miguel Carmo
“Olá.
O meu julgamento começa amanhã à tarde no Campus de Justiça
e prossegue, pelo menos, nas próximas duas quintas-feiras.
O Ministério Público (MP) acusa-me, com base no testemunho
de um polícia que assina o Auto de Notícia em anexo, de ter projectado uma
cadeira de uma das esplanadas do Chiado sobre uma linha de polícias que na Rua
Serpa Pinto protegia a detenção de um manifestante. Não tendo sido identificado
durante a manifestação, nem em nenhum outro momento anterior ou posterior, o
Auto refere que se fez uso para tal de informações do Núcleo de Informações da
PSP, na forma que passo a citar: “trata-se de um indivíduo que é presença
habitual neste tipo de manifestações/concentrações, pautando sempre a sua
conduta de forma agressiva para com as Forças de Autoridade”. Ainda não é certo
se este julgamento servirá para esclarecer a qualidade de polícia política que
a PSP parece requerer para si no documento citado.
Passaram agora mais de dois anos sobre os “acontecimentos do
Chiado” e a memória dilui-se. Nada que a Internet e os jornais da altura não
reponham num instante. Foi dia de greve geral combativa, com várias
manifestações a atravessarem o Chiado em direcção a São Bento. Perante a
passagem de uma delas a PSP tem a ideia genial de deter um estivador que vinha
rebentando petardos ao longo do percurso. É um homem de meia-idade com um
pacemaker, cuja detenção provoca o espanto e reacção imediata dos seus amigos e
depois a indignação de toda a manifestação. Foi este o momento inicial de um
descontrolo policial que varreu, a vários tempos e intensidades, todo o Chiado
até ao Largo de Camões com um balanço final de dezenas de feridos entre
manifestantes, jornalistas e transeuntes. Nesse dia temos o Ministro da
Administração Interna na televisão a explicar-se e dias depois a ser requerido
pelo Bloco de Esquerda para uma audiência parlamentar convocada de urgência
para o efeito; temos um inquérito aberto pelo IGAI ao comportamento da PSP,
preenchido com declarações de várias pessoas agredidas; e temos o MP a agrupar
num mega-processo penal cerca de uma dezena de queixas.
De tudo isto nada reza a história. Macedo é ainda Ministro
da Administração Interna, os resultados do IGAI são aparentemente nulos e o MP
arquiva todos os processos na fase de instrução, por falta de provas, todos à
excepção daquele contra mim. A PSP atacou uma manifestação em dia de greve
geral, o Ministro da Administração Interna defende-a e responde politicamente
no parlamento; as várias queixas apresentadas contra polícias, tanto no penal
como junto do IGAI, são arquivadas e esquecidas, sobrando um processo contra
uma pessoa que, como milhares de outras desde o último mandato de Sócrates, têm
participado e organizado várias manifestações. É disto que fala, em específico,
a ideia de que a história é sempre a história dos vencedores.
Junto algumas ligações de Internet,
As audiências serão sempre às 14h, no 5º Juízo Criminal de
Lisboa, 1º Secção (edifício “B” do Campus de Justiça, na Expo)
Agradeço divulgação em blogues e fb pois não os tenho. Que a
denúncia seja por ora a nossa arma. Se alguém quiser produzir opinião com mais
folêgo sobre esse dia/julgamento posso enviar documentação vária do processo,
nomeadamente o despacho de acusação e a nossa contestação.
Abraços e beijinhos
Miguel Carmo”
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