Estive ontem no debate “Da Corrupção à Crise - Que Fazer?”
com Paulo Morais, organizado pela Associação Abril, no auditório da Sociedade
Portuguesa de Autores, numa sessão extraordinária, talvez a que mais gostei. O
vídeo gravado pelos serviços da SPA, vai certamente ser muito importante para
ajudar a divulgar a mensagem urgente que representa o que diz Paulo Morais.
Para vos dar uma noção da importância da comunicação, tenho
que acrescentar em primeiro lugar que receio que alguma coisa possa vir a
acontecer a Paulo Morais, e não estive só nesse receio, pela razão de que em
Portugal o nosso problema não tem o nome sinistro como tem em Itália, mas
existe sem nome entranhado em todo o nosso tecido, público, privado, e até em
nós individualmente, desde há muito. Em segundo lugar, porque raramente saio de
debates destes com uma força tão inabalável para fazer coisas, com uma
convicção tão forte de que Portugal só vai conseguir sair desta situação à força,
- ponderei o que escrevi -, convicção que assenta nas minhas próprias leituras,
porque o imbricamento é de tal ordem a nível institucional, que não há
autoregeneração do sistema que medre depois da dissecação necessária a fazer
em si próprio, para que nada fique na mesma. A profundidade do que temos que fazer
é enorme, se entendermos que o mais difícil são os vícios enraizados. Pode não
mudar-se a formação de um individuo por decreto, mas é possível corrigir o seu
comportamento num coletivo e isso, já é tarefa do Estado, e se o Estado está
doente só há uma solução. Com o voto não vamos conseguir mudar nada, ainda que o
povo votasse agora ao contrário, porque a doença está espalhada por todo o
regime. O poder do Estado foi manietado e já não há parlamentar que o consiga
libertar. Entretanto há forças negras à espera que caia de maduro.
Paulo Morais tem condições excecionais para juntar forças,
várias forças, porque tem uma capacidade e uma coragem que outros não tiveram,
e essa é uma das razões porque está a ser tão ouvido, não esquecendo nunca de
nos lembrarmos como dizia Alegre: que não há homens providenciais. Tenho porém
dúvidas se não morrerá como projeto se escolher a via parlamentar. É por isso
fundamental comprar o seu livro, “Da Corrupção à Crise - Que fazer?”, incluindo
eu que ainda não o fiz, porque tenho a certeza que pode ser um ponto de partida
para cada um. Mas o debate continua no dia 28 de Outubro no mesmo local, com
Raquel Varela, que vamos ouvindo com atenção cada vez mais.
Há contudo uma questão para a qual é preciso estar alerta em
relação à forma como começamos a olhar para este sistema: é ouvir ser-nos
apontado o termo “proto fascistas” como já ouvi aflorado no Eixo do Mal,
acusação que não deixo de interpretar como chantagem para inibir. Uma coisa é
certa, a tendência da lei das probabilidades em relação ao comportamento ético
dos políticos não contempla exclusão de nenhum: estão lá para ser uma delas, como disse aqui.
Leitura sugerida sobre isto: Mito & Realidade.
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