18 janeiro 2016

Alberto.

Ontem andaste por aqui todo o dia no pensamento. Vieram à tona os tempos do Regimento de Infantaria de Leiria que fizeram de ti o amigo que passado todo este tempo não esqueço, por termos partilhado alguma aventura dos nossos anos de ouro mas que aqui fica apenas neste formato meio dito.

Com toda aquela insistência com que tentavas comunicar, não tinha outra hipótese se não fazê-lo eu também. Escolhi esta forma mais pública, para poder fazer-te a homenagem que nunca fiz, por haver amigos comuns a poder lê-la também.

Sei porque tentaste comunicar – e agora há amigos a achar que estou a bater mal porque me conhecem fora destas crenças tão fora da razão – mas como isto é público a razão tem que ficar apenas connosco.

O que por agora te quero dizer, é que todos ficamos mais ou menos marcados por alguma influência que em determinado tempo tivemos, ou experiência que vivemos, ou pessoas que foram amigas e que aproveitamos disso sempre o que mais consideramos ou nos fascina.

E era aqui que queria chegar.

Tu foste um dos amigos que mais me marcou da melhor forma. O teu ecletismo e algum vanguardismo de entre os que éramos nós, fez com que tivesses sempre a minha atenção no que fazias. Foi a poesia que confesso me levou ainda ao arremedo, foi o teu formato de letra num grafismo de desenho técnico, foram os desenhos no estilo interminável de mandala hippie, foi o Nietzche, o Zaratrusta, foram as primeiras passas à mistura com o álbum dos Uriah Heep, foi aquela empatia que estabelecias connosco numa forma só tua, por vezes, mimada e estranha para quem não te conhecia, foram uma série de coisas que me influenciaram positivamente. Vai ficar aqui o “Salisbury” em fundo, mas na verdade deveria ficar a lamechice do “A Time For Us”, porque representou um momento paralelo na vida que cada um viveu nesse período.

O único ponto em que lamento não ter tido atenção, foi àquele período danado das vidas dos jovens, entre os vinte e os trinta anos, em que na procura do seu espaço na vida criam à sua volta uma carapaça para ficarem imunes àquilo que pretenda detê-los nos objectivos, e esquecem que a vida vai continuar, e os amigos não são coisa que possa manter-se sem contacto. Falhámos aí. As nossas namoradas e famílias posteriores não eram coisas coincidentes, e nós procurávamos espaço na vida como os cachorros procuram quando querem sentar-se e dão sete voltas primeiro. Perdemo-nos algures por aí. O tempo da vida é nestas coisas madrasta e nós não estamos nesse momento preparados para observar isso.

Não acedeste ao pedido que fiz por via da tua companheira para ir ver-te ao hospital, mas talvez tivesse acontecido comigo o mesmo, porque dessa forma mantenho como querias a imagem que ainda tenho de ti. Essa outra, a do fim, já não é a nossa. Foi pelo menos assim que li a resposta.

Queria só dizer-te que o parvo do Litos discutiu comigo, com acusações estúpidas à mistura, e uma delas, a primeira, envolvia o não ter-te ido ver ao hospital – eu só sabia que estavas doente e mal, mas não no hospital naquele estado, e não meço as minhas amizades pelas visitas que lhes faço. Acabamos estupidamente de relações cortadas e ainda hoje me espanta como pode aquele tipo medir as amizades a metro como se mede tecido. Se lá estiver um dia, não venhas também aí de cima espreitar-me para dessa forma mantemos os dois a imagem que temos um do outro.

Andaste por aqui a interferir ontem, mas espero que tenha sido por uma boa razão. Um abraço à emanação de ti que estiver neste Cosmos. Fica uma fotocópia mal tirada de um trabalho teu que representa um pouco da nossa vida naquele tempo.: