27 agosto 2005

Cultura vs. Estupidez

Nem que existisse uma grande dose de Cultura, existiria sempre uma maior proporção de Estupidez, no acto que acaba de ser repetidamente praticado, numa exposição de pintura na Câmara Municipal de Mirandela.

A senhora vereadora do pelouro da Cultura, isso mesmo, “pelouro” da Cultura, mandou retirar por "duas” vezes dois quadros da exposição que ali decorria, por representarem dois “nus”. Isso mesmo! Um deles, era um belíssimo corpo feminino que exibia numa das mãos, em repouso sobre a anca, uma maçã vermelha quase comida. O outro, eram dois corpos num abraço terno...

A senhora da Cultura de Mirandela, entendeu que aquilo era uma afronta à Cultura e provalvelmente aos Transmontanos e vai daí não autorizou a exibição dos quadros e mandou retirá-los à companhia das dálias e crisântemos que ali estavam pintados.

A pintora, muito bem, retirou a exposição.

O único comentário que devo fazer antes que parta este teclado é socorrer-me de uma expressão do nosso amigo João Mateus:

“...a ameaça vem do preservativo, da perda da virgindade e do amor fora do casamento”

Digam-me que não estou louco!

Mesmo que o Presidente da Câmara já se tenha demarcado, é tarde! É tarde porque ele tem estado acompahado desta má companhia na Cultura. E alguém escolheu esta companhia. Ela não se impôs. Logo: diz-me com quem andas dir-te-ei quem és!

Assim vai o nosso país autárquico.

24 agosto 2005

A nova Floresta?


Bom, e agora foi provavelmente o Ministro que andou a ouvir o que o Miguel disse na TVI e aí está a pressa em começar a dizer coisas.

As correcções ao acumular de tanta asneira ambiental são de tal ordem que deveria haver um pouco mais de calma na apresentação de medidas. Quanto mais não seja, por duas razões: primeiro, porque estas têm que doer e aí, vão ter logo a primeira barreira a vencer. Anunciadas assim à maneira de balão de ensaio, para testar reacções, estas medidas podem, antes pelo contrário, começar a criar anti corpos, é que as pessoas acabaram de perder e não querem para já houvir falar em mais prejuizos que é a forma como encaram investimentos em floresta a longo prazo. A floresta passou a ser há poucas décadas um rendimento mais disponível a curto prazo e não é de ânimo leve, mesmo em presença da desgraça que se convencem que têm que mudar de atitude. Em segundo lugar, porque há nestas circunstâncias uma razão institiva, irracional, para dizer, não!

Bem sei que só se anunciaram intenções e que as medidas ficaram pelas generalidades, mas quando se fala da verdadeira revolução que é preciso fazer ao nível ambiental e social, não pode ser desta forma, a menos que seja muita parra e pouca uva e o esforço em projecção não esteja para aí virado e assim estarmos todos enganados.

Um silêncio perturbador.

Quanto ao "silêncio perturbador nas nossas policias de investigação", em relação ao "fogo posto" é uma afirmação que pode ser ditada pela pressa com que todos estamos em saber quantos são os "porquês" de todo este drama, mas é um silêncio que pode também ser exactamente o inverso da afirmação.

Os indiciados estão a dar tanta matéria de análise de investigação que parece ser já um desafio ao QI nos nossos rapazes! Um dia destes, fazem-nos revelações surpreendentes...

Por ora, o silêncio é estratégia. Acredito.

23 agosto 2005

Um post de fogo.

Cavaco dixit: “...O Eucalipto é o nosso Petróleo Verde”.

Acabo de ouvir Miguel Sousa Tavares na TVI falar sobre a calamidade dos fogos e as suas causas.

Tenho quanto a este blog a humildade suficiente para não achar que o Miguel passou por aqui!... Mas mesmo que tivesse passado, o seu pensamento autónomo não precisa de ser caixa de ressonância de alguma coisa. Ele tem, sobre muitas das questões que emperram os nossas prestações, noções muito claras. Um verdadeiro independente, ou freelance, como quiserem.

O que ele diz está quase inteiramente tratado nos 2º e 3º post mais a baixo a propósito do OTA TGV, dito pelo Alexandre de Castro e na resposta que lhe dei.

Ver estas questões abordadas de uma forma idêntica, apontando para algumas das mesmas causas, é sempre gratificante e empurra-nos com mais força para a defesa e apoio a estas teses. Só de forma empenhada e colectiva podemos construir alguma coisa.

Não é perseguição a ninguém, mas é perseguição a um modelo de desenvolvimento escolhido numa “determinada altura” muito precisa da nossa história. Este facto não me escapa por uma razão muito simples: quando aquela declaração foi feita e as opções foram tomadas, já o Eucalipto era para uma árvore mal vista, recordo-me das quedas que dava a brincar no chão por baixo dos eucaliptos, doíam... porque aquele chão liso, seco e gretado parecia cimento, pelo que não é fácil esquecer o estranho e fortíssimo empurrão que lhe foi dado a partir dali.

A questão já não é agora simples. Lançada a pedra pela encosta a baixo, só vai parar lá no fundo com a família toda em cima, deixando um rasto de destruição. Ou seja, será preciso esta calamidade e outras que seguirão para se atingir o fundo e então os lobbys e interesses serem vencidos pela forma mais dramática: não pela dedução das causas mas pela demonstração das consequências.

O resto, são todo um acumular de erros menores que se tornaram maiores e juntos fizeram esta enorme pira onde ardemos todos. Ouvir dizer que “o homem” não deveria estar de férias, é acreditar na providencialidade dos homens e nisso não vou, como não vou na queima ou na ressurreição politica que estas questões dão em horas de telejornal. Tanta culpa teve quem não esteve, como quem esteve. Temos é que educar este povo para a soberania de não se deixar instrumentalizar em função das vezes que o boneco aparece ou não, em bicos de pés na TV.

O exemplo que o MST deu da proposta do Bloco de Esquerda quanto à dispersão da propriedade e da exigência que deverá ser feita ao inverter-se a sua prova é um bom indicador de que o que tiver de ser feito a seguir não pode ser com punhos de renda. É preciso prepararmo-nos e exigir que se actue sem medo de combates e confrontos.

Há um silêncio perturbador nas nossas polícias de investigação, não acredito que gente honrada se deixe mercenarizar porque é um serviço onde só se deve estar quase por vocação.

15 agosto 2005

Travessias no deserto.

Para os que tiverem memória curta, é sempre bom lembrar porque desapareceu Cavaco Silva. Miguel Silva lembrou bem neste seu post: Recordações do cavaquismo. Leia.

Quando acabam em Portugal as "marinadas políticas" e as travessias no deserto?

09 agosto 2005

OTA TGV Resposta

Ao Alexandre de Castro.

Nota-se na sua recusa do OTA/TGV, uma sólida e bem estruturada fundamentação, com a qual é impossível estar em desacordo. Subscrevo inteiramente o que advoga como alternativas aos gastos brutais, cujo retorno diz ser apenas circunstancial. Mas a questão que se coloca também, é que essas alternativas, são modelos de desenvolvimento integrado tão arredios do pensamento dos nossos governantes, estes, e os outros que acabam, por esta razão, nem se colocar como alternativas.

Seria bom que houvesse no meio de toda esta catástrofe dos fogos, algum fogo regenerador. Porque estamos no tempo limite: ou invertemos agora ou vamos assistrir de “mês para mês” à desertificação de zonas que não se pensava fosse possível, tão cedo.

Assim o povo português tivesse aquela capacidade para dizer: basta! Mas prepara-se para coroar um dos padrinhos (Cavaco Silva) que não só ajudou a liquidar a hipótese de implementar essas alternativas, como as substituiu pelo seu célebre “petróleo verde” . Até à altura do seu reinado político, o eucalipto que existia no Alentejo pouco mais servia do que suporte ao acampamento de ciganos. Nunca, enquanto lá habitei, assisti à exploração de terrenos pela via destas rezinosas. Os fogos que o meu padrinho, Comandante dos Bombeiros, apagava, não tinham a proporção de catástrofe e era feito com ronceiras viaturas, mas bastavam. Depois daquela alteração, foi a inversão.

Um dia, visitei uma zona de montado de sobro e zinho onde gostava de ir. Fiquei siderado!... Durante bastante tempo não reconhecia o que estava a ver! Aquela zona havia sido replantada com eucaliptos e houve um fogo com as àrvores ainda pequenas... Resultado: como a paisagem que guardava na memória era completamente desajustada daquela, dado que desconhecia a plantação de eucaliptos, fiquei por ali completamente confundido porque a alteração ecológica era tão grande que não conseguia reconhecer um metro quadrado da paisagem bonita, rude e milenar antes conheci. Houve portanto uma altura chave nesta transformação que foi feita muito recentemente e deveria falar-se mais nos "responsáveis" por esta transformação, porque eles ainda andam aí, uns e outros.

Parece-me portanto que uma das formas de restabelecer o equilibrio ambiental do país e de cada região em especial, é dotá-las novamente das espécies autóctones que preservaram a floresta e os terrenos até há bem pouco tempo. Depois do crime ambiental irreversível cometido em meados do século passado, com a desflorestação do Alentejo para ser o “celeiro de Portugal”, voltamos a cometer outro, mas agora em prol das Celuloses que deram boas acções na bolsa e louváveis e reincidentes ministros. E um dia destes até ía sendo para campos de golfe!...

O que é estranho é que o diagnóstico que faz e não está sózinho a fazê-lo, apareça no meio de toda esta nossa descoordenação nacional, como uma utopia... Uma das questões que me leva a manter este blog que apareceu por via da alteração da lei das rendas é esta necessidade de achar que temos de estar todos empenhados, mas todos, nesta luta contra as muitas e diversas irresponsabilidades que grassam neste país.

07 agosto 2005

OTA TGV Opinião

Recebi de Alexandre de Castro um comentário ao posts anterior que pela extenção e qualidade merece o devido destaque:

O tema do TGV e do novo aeroporto deve ser exaustivamente discutido, pois qualquer decisão a ser tomada irá condicionar o País durante algumas décadas. São opções de fundo, cuja justeza só poderá ser avaliada daqui a alguns anos.As medidas de efeito imediato podem ser rapidamente corrigidas se os efeitos não forem satisfatórios.

Com uma opção política desta descomunal envergadura as coisas são diferentes, pois não há caminho de regresso. E Portugal está a pagar bem caro, neste momento,com os incêndios, a ausência de políticas correctas dirigidas para o mundo rural e para a floresta, que deveriam ter sido tomadas há bastante tempo.


Na década de 80 muitos especialistas alertaram que a desarticulação do mundo rural, com a emigração para a Europa e para os centros metropolitanos do litoral, levaria fatalmente ao desequilíbrio económico, social e ambiental, e que a não rentabilidade da floresta e o abandono da sua exploração a expunha no futuro aos incêndios. Os governos, desde Cavaco Silva, apenas pensaram na obra de betão, também necessária, e votaram ao esquecimento o interior do País, não promovendo políticas atractivas, destinadas a fixar jovens agricultores, não procedendo à reforma que se impunha, e ainda se impõe, da reestruração da propriedade fundiária, através do emparcelamento, incentivando a constituição de empresas do cluster da floresta de pinho, onde se deveriam incluir as sociedades gestoras das florestas, dirigidas por agrónomos e silvicultores, que assumiriam a gestão, a manutenção e a comercialização das florestas de propritários associados.


Só com a activação dessas políticas esclarecidas teríamos hoje a floresta limpa, ordenada e rentável e menos exposta à calamidade dos incêndios de Verão.
Assim será com o aeroporto da Ota e com TGV. Qualquer das opções a tomar, avançar com o projecto ou cancelá-lo, terá os seus efeitos positivos ou negativos. Sem partidarismos de pacotilha, é necessário ouvir as pessoas e os especialistas.