29 fevereiro 2012

Como sonhei com a Troika.

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Era ali que tomava o café das manhãs e o refresco nas tardes de Verão, e com o Charles acabava a zurzir nas catroguices deste país. Mas o efeito conjugado da crise com uma renda usurária, puseram fim a mais um estabelecimento na cidade. Virá outro empresário incauto com o qual o proprietário não terá contemplações porque para ele só há uma coisa sagrada: o sacrossanto “valor de mercado”. O mesmo que uma grande instituição do país com um vasto património imobiliário, diz que é o que lhe serve de base para os seus arrendamentos ainda que as lojas estejam meses e anos sem aluguer, apenas e só porque “não é sua política baixar os preços dos arrendamentos”. E assim se faz o valor de mercado em Lisboa.

Podemos desenhar o que vemos mas com um esforço de memória também o que sonhamos, e foi o que aconteceu. Talvez com a crise a fundir os neurónios, acabei por levar isto para uma noite de sonhos, e o Café amplo e asseado virou num tugúrio estranho e claustrofóbico. Aquele sonho/pesadelo transformou os dois empregados, em três mulheres muçulmanas, ou ciganas, não sei bem o que eram, que apenas me fitavam sem responder aos meus pedidos. Porquê três? Só encontro uma razão: tr <> troika.

26 fevereiro 2012

"O meu valor de mercado"?

Desculpem o desabafo, mas estou hoje demasiado sensível ao meu empobrecimento, o mesmo a que vocês estão também a ser sujeitos, numa despromoção social que é mais preocupante porque não é linear e é reveladora desta nossa índole de pategos, que qualquer razoável vendedor de banha da cobra engana. Poderia ilustrar este espírito reverencial perante os embustes na nossa história como povo, de outra forma, mas o que agora me ocorre é o da parte inicial deste excelente vídeo que encontrei no Alpendre da Lua, e que recomendo.

Deixámos criar nesta democracia uns mostrengos, que não sendo individualmente culpados da débâcle, servem perfeitamente como exemplo dos vendedores que na rua nos ofereciam um mundo de bugigangas para nos levarem finalmente a comprar a banha da cobra. Como na parábola das varas de vime, não são culpados isoladamente, mas são-no totalmente quando juntos. Estamos a empobrecer mas há uma casta que medra à custa do regime e nele vive alapada, como aquela praga resistente que tenho ali a definhar a planta do jardim. Começa a parecer-me que a solução não passa por aniquilar a praga, mas a fonte que a alimenta.

Hoje, somos um país acatrogado, mas já fomos num tempo de visões de oásis, um país acadilhadoaloureirado e isaltinado por indecorosas faltas de ética, nunca bastantes para impedir este povo de parar na rua para ouvir o banha da cobra. São resquícios, talvez da forma diferente como em Portugal ocorreu o feudalismo, porque nos outros é trauma que não se nota, ou ainda outra coisa mais remota. É este tremendo autismo social que continua a prestar reverencialmente tributos indecorosos a estes mostrengos, e continua a permitir que alguém, com um descaramento canalha, avinhado nas cores e cuspindo pentelhos, esfregue na cara deste povo imbecilizado, o seu rótulo: “o meu valor de mercado”.

O seu valor de mercado?… Desculpem, mas visto assim este é um povo de merda.

16 fevereiro 2012

Defender a casa com a própria vida...

Fixem-lhe o nome e o ar de beata: Assunção Cristas.



De passagem ouço ainda falar da mobilidade geográfica forçada dos funcionários públicos, etc., etc. O que é isto?! Não estaremos na orla de qualquer coisa muito perigosa? Isto não será um ovo se serpente em gestação. Sente-se.

A vida começa assim a valer pouco para alguns quando a honra é mercantilizada com este desprezo por quem governa. Até um dia… E que seja breve.

10 fevereiro 2012

Schulz num take à Bergman

Mais do que aquilo que disse o alemão Martin Schulz, sobre Portugal, perturba o silêncio dos outros que o ouviam. São os pensamentos não expressos, os olhares atentos e as palavras não ditas. Atentem no vídeo. Por muito que queiramos fugir ao preconceito de ver neles alemães, esta é uma leitura que se nos impõe pela força da imagem, parecendo que o realizador nos quis levar através delas a uma conclusão. Se quis, conseguiu, porque foi essa a que tiramos. Pode o senhor argumentar agora que estamos a fazer juízos de intenção, mas o facto é que uma imagem vale mais do que mil palavras. Ingmar Bergman, por exemplo, conduzia-nos pelos silêncios. Ali há também subentendidos, pensamentos contidos por diplomacia, e isso, foi o que mais perturbou nesta intrusão na política portuguesa, porque disse tanto ou mais do que ele quis dizer.

08 fevereiro 2012

Um hino na serenidade e na voz

Ouçam mesmo, porque Cohen merece bem a homenagem destes breves minutos. Ele é seguramente neste registo de voz, um dos melhores que nos acompanha há já tanto tempo.


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04 fevereiro 2012

225

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TAHRIR SQUARE
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Faz um ano esta solidariedade em Lisboa. Se as dúvidas eram umas, hoje são outras porque a inquietação de Tahrir parece persistir com outras formas, noutras cidades, por outras razões. Ou pelas mesmas?

Jamie Cullum in Concert

Esteve em Cascais e cantou que se fartou. Coisas que a gente perde quando anda por aí distraído. Notei-o na banda sonora do Gran Torino. Vi-o hoje na RTP2. Que grande músico.



Ou aqui e aqui

03 fevereiro 2012

O Vasco, a capelinha e o Acordo

(Reeditado)
Se o Ministro da Cultura, Viegas, já afirmou que o Acordo Ortográfico se mantém, é para implementar e essa obrigatoriedade é para o Estado, a partir de 2012, como se compreende que Vasco Graça Moura tenha na sua primeira grande decisão conhecida à frente do CCB, mandado suspender o seu uso naquela casa, inactivando até os suportes informáticos de ajuda existentes? Argumenta que a obrigatoriedade da sua implementação é para eles a partir de 2014, por se tratar de uma entidade de direito privado, mas como aceitar, que estando o Estado vinculado se coloque de fora dessa obrigação uma casa como esta, onde é fundador de referência, apenas porque o seu novo inquilino foi um dos mais acérrimos opositores do Acordo? Que imagem daremos da nossa cultura quando temos cada um a decidir no seu feudo de acordo com convicções pessoais? Ouvindo entretanto a veemência com que VGM justificou a sua decisão, diria até que ele tem em relação à medida que tomou, a certeza da cobertura por tutelas superiores. Não me surpreenderia. Que eu aproveite todos os limites da implementação do AO para me sentir mais confortável com a aplicação das novas regras, entende-se, o que não se percebe é termos entidades deste relevo a darem estas tristes imagens da forma como nos organizamos, num domínio tão importante como a Língua em que nos entendemos.

Terá sido exactamente daquele local que outro velho do Restelo bramou sem consequências contra a aventura, mas o seu espírito deve ter ficado por ali a pairar para que vindouros mediúnicos o encarnem no momento de decisões importantes, voltando sempre a mesma ladainha. Por muito Direito que lhe assista não ser pró-Acordo, não tem contudo o de ser "anti", no exercício das suas funções oficiais, só porque ganhou a sua capelinha. Foi assim Graça Moura no CCB: à primeira cavadela, minhoca! Promete.

Reedição:
Uma mensagem amiga alertou-me para o facto do Viegas não ser Ministro. Sim, agora reparo que nunca me pareceu Ministro, embora o tivesse promovido mais levado pela importância que atribuo à pasta do que ao empastado. Afinal ele é só Secretário de Estado. Bem feito para ele que não lhe bastou tanto polimento aos corredores do poder a que paulatinamente se foi chegando. Aqui fica a ressalva.