28 setembro 2011

Portugal não é a Grécia, é a Madeira.

O título é do do Jornal de Negócios. Mas indo mais longe do que o que diz Pedro Santos Guerreiro, neste excelente texto que recomendo vivamente, acho que Jardim vai novamente ganhar as eleições na Madeira, e se for pelos números de 2007: “(…) eram, 231 606 votantes, destes, só 140 697 resolveram ir votar e 90 377 votaram em Jardim, ou seja, 39% dos madeirenses inscritos são os responsáveis(…)”, e parafraseando, os madeirenses que o escolherem só mostrarão o mesmo relativismo ético de muitos portugueses que elegem pessoas que “roubam-mas-fazem”, e digo eu, à maneira daquele traficante de droga, o Pablo Escobar que se protegia com os pobres que alimentava com migalhas. O total da população da Madeira é hoje 267.938 habitantes, há portanto cerca de 170.000 que não o escolheram e não podem ser considerados em termos eleitorais, eticamente inimputáveis, mas os outros são. Ah, isso são!

Imagem do excelente HenriCartoon.

27 setembro 2011

Merkel: "incluindo a perda de soberania" ?

Estamos ainda estupefactos ao ouvir a Sra. Merkel dizer hoje que é preciso agravar sanções ou mesmo retirar soberania às economias que falharem os critérios de estabilidade! Ora, sabemos como já abdicamos de soberania com a entrada na UE e depois no Euro, mas não sabemos exactamente onde quer chegar agora, de tal modo parece grave o que acaba de dizer. Mas ainda assim, não queremos que seja tão mau o julgamento e admitimos que possa haver um melhor esclarecimento daquelas declarações. Por exemplo: alguma perda de soberania temporária em prol dos organismos europeus, se isso fosse no sentido de reforçar os mecanismos de financiamento para desenvolvimento da solidariedade nas economias do Euro, isto seria como que um deficit de soberania virtuoso. Mas desconfio que não seja nada disto, e se assim for, é preciso quanto antes por as cartas na mesa para que não se passe da ofensa à acção com resultado grave para todos.

24 setembro 2011

Reagir ao Medo.

(Acabo de ver no Parlamento, Couto dos Santos, com uma tal vergonhosa cara de Touriga Nacional, tão alarvemente tinta, que não consigo esquecer os reflexos violáceos daquele riso provocatório e aparentemente avinhado, enquanto escrevo sobre a revolta de hoje, que não tem a ver com ele mas influencia sem que o queira).
 
Mais terrível do que o aumento do custo de vida que todos os dias nos é anunciado, é uma outra coisa bem mais grave que agora começa a aflorar e essa sim, vai gerar um terramoto social de consequências imprevisíveis.

É preciso dizer antes que somos um povo com capacidades de sofrimento que não nos enobrecem. Isto não é fácil de ler nem de escrever, mas é uma verdade histórica que nos persegue. Salazar sabia-o. Por muitas padeiras que a nossa ficção reinvente, a verdade é que aturámos aqui espanhóis durante décadas e os ingleses que nos salvaram dos franceses, submeteram-nos por um período tão vexatório que ainda hoje a nossa história o omite. É nos brandos costumes que temos que procurar essa dificuldade em reagir colectivamente, a mesma que inquina o nosso desenvolvimento.
 
A nova cruzada é agora o aproveitamento da crise para um processo maquiavélico de trituração das pessoas como antes não víamos e se colectivamente não nos opusermos, isso vai ser feito à escala de um grande descalabro. Os novos Liberais, estão a fazê-lo aproveitando o nosso medo, o medo que se instalou, o medo de perder o emprego, a pensão, a casa, a saúde, a educação dos filhos, resumindo, a vida segura como a conhecíamos. O paradoxo é que estes obreiros são curiosamente os representantes dos coveiros que aqui nos trouxeram, ou seja, geraram no seio deste sistema esta crise e dela se servem agora, para fazer o que nunca antes se atreveram, nem nós sonhávamos. Têm-nos reféns pelo medo porque sabem que é esse medo que nos impede de lhes entrar casa dentro por se recusarem a contribuir como nós para este esforço nacional. Ameaçam-nos: "Eles não podem ser incomodados, se não fogem!"

Quando, como hoje, está a ser anunciada a possibilidade de um patrão poder despedir se estiver de mau humor, mentindo com um contrato por objectivos, dando a empregadores sem escrúpulos o poder de criar sobre milhões de trabalhadores e as suas famílias uma instabilidade laboral, cujas consequências desconhecemos, diz bem do drama em que estamos metidos. A seguir, virá a nova lei dos despejos na habitação e por aí fora. Tudo em nome do sacro santo capital, e da subserviência aos mercados sem rosto que a política já não controla.

Quando se experimentam medidas cortando nas contribuições patronais para a Segurança Social, que é parte do fundo das nossas pensões - o suporte psicológico de quem vai deixar de trabalhar - potenciando assim o lucro das empresas julgando que elas vão a correr criar postos de trabalho, das duas uma, ou é intenção deliberada para arruinar o Estado Social que conquistamos, ou é ingenuidade pura. Qualquer uma das opções diz bem do drama em que estamos metidos.

A única coisa que temos que temer é o medo, e eles estão mais uma vez a jogar no nosso medo, mas isso, depende de aceitarmos as condições de humilhação que o neoliberalismo desregulador nos impõe, e que novos movimentos em formação começam a enfrentar. Acredito que essa história de resistência e contestação se fará também por cima dos caducos sectarismos vigentes, mas bem instalados, que nos espartilham entre as bíblias lambidas, embora saibamos que virão depois para a foto final.

(A mim, retirem-me o bom vinho de tostão que bebo com gosto, se algum dia me apresentar naquelas cores)


20 setembro 2011

Chiça prà “pièce de resistence”

Há no dia a dia da fala dos portugueses excesso de estrangeirismos insuportáveis quando temos na Língua Portuguesa termos com a mesma significação, não tanto pela pressão que exercem porque o futuro de uma Língua viva será sempre o produto do que os seus falantes fizerem dela mas, porque estes modismo em doses maciças, lhe reduzem não só a plasticidade fazendo dela uma caixa de ressonância de outras, como revelam muitas vezes falsos sinais de erudição a roçar o pedantismo.

O caso mais recente é o da pièce de resistence que todos os dias ouvimos agora. Gostaria de saber quem foi o importador, não para o causticar, porque esse poderá ter sido o único a fazê-lo bem, mas para conhecer este estranho mecanismo da propagação virulenta de termos estrangeiros, como se tivessem acabado de ser descobertos. Ficam desta questão salvaguardados, os termos técnicos e científicos e os que não têm correspondência, alguns dos quais virão até um dia a ser definitivamente incorporados, mas por dá cá aquela palha aplicar galicismos, anglicismos e outros, sem nenhum propósito que não seja o do exibicionismo puro, deveria fazer-nos pensar enquanto parte dos muitos milhões de falantes da Língua por esse mundo.

17 setembro 2011

A Relatividade e a Madeira.

Quando nos espantam os argumentos que enaltecem a obra de Jardim na Madeira, deveríamos dar como exemplo a Teoria da Relatividade de Einstein porque, observar o desenvolvimento da Madeira através de uma óptica parada no tempo, é desonestidade intelectual ou política, ou estupidez pura. Também por cá no inicio da década de setenta ainda havia gente descalça, não tínhamos automóvel, um bilhete de eléctrico custava 7 tostões, menos de metade do valor daquela moedinha escura de 1 cêntimo que nos atrapalha os bolsos, e a maior parte dos portugueses não conhecia o Algarve. Se queremos aferir da velocidade ou qualidades relativas do outro, temos de fazê-lo também do veículo que nos transporta à nossa velocidade constante, e não parados na estação, se o não fizermos é óbvio que nos parece que o outro vai disparado. A argumentação canhestra e desonesta de alguns, tem escondido isto por táctica eleitoral e tem servido de cobertura a todo este desvario. Ainda ontem José Luis Arnaut o papagueou em comentários na TV e é destes branqueamentos que Jardim tem aproveitado.

16 setembro 2011

Ainda à solta?









Quem o prende? Cavaco Silva não é, foi lá e escondeu-se. Jaime Gama, o tal bacoco do Bokassa, não é. Guilherme Silva, o seu famigerado defensor no continente, também não. Passos Coelho e os anteriores foram o seu apoio. Depois, os madeirenses eram em 2007, 231 606 votantes, destes, só 140 697 resolveram ir votar e 90 377 votaram em Jardim, ou seja, 39% dos madeirenses são co-responsáveis pela eleição do seu bem amado líder e por este descalabro que o povo português conheceu hoje estarrecido, porque vai ser chamado a pagar, depois de ter pago durante anos os deficits orçamentais que obrigavam a por o taxímetro a zero antes de fazer-se o orçamento da nação. Mas p****, não é justo! Não é justo e temos o direito de romper-lhe os tímpanos. Deveríamos até ter o direito de nos furtar ao pagamento daquela dívida na parte que corresponde à desses co-responsáveis idiotas, porque toda a conduta deste carroceiro ao longo de anos foi a da confrontação com o povo português, para quem já fomos o pior na sua boca e a quem eles achavam muita graça no Chão da Lagoa. Para o PSD, ele era só carinhosamente truculento, um dos seus enfant terríble.

Mil cento e treze milhões de euros não é um jardim, é uma densa floresta de desonestidade nas contas. Aquele povo hipotecou com a sua falta de atenção cívica o seu futuro, não só por esta razão, mas ainda porque o modelo que Jardim escolheu para o seu desenvolvimento não é saída em lado nenhum do mundo. Uma armadilha está montada para deflagrar todos os dias nas próximas décadas e também não é justo o ónus de impopularidade que vai recair sobre quem pegar nas contas a seguir. Os responsáveis estão aí. São conhecidos.

Entretanto, Jerónimo não encontra melhor comentário do que criticar quem procura um ajuste de contas com Jardim. O que é isto? Um piscar de olhos ao eleitorado que vai desertar de Jardim, que cairá melhor para o lado de quem tiver com ele alguma compaixão? Ou obnubilação pura e simples que ofusca os alvos? É este sectarismo que nunca fará este PC ser consequente: aproximar-se da área da governação. Por vezes, parece até preferir este modelo. O problema não é Jardim: é “quem procura ajuste de contas”…Voilá!

13 setembro 2011

O fim de uma união.

À atenção da Senhora Merkel, dos alemães, dos europeus, e dos governantes portugueses de espinha mole.

O comissário europeu da Energia, o alemão Oettinger, propôs na sexta-feira num jornal alemão, que as bandeiras dos países endividados fossem colocadas a meia haste nos edifícios da União Europeia. Assim, e sem vergonha. Era de delatores como este que fugíamos na escola. Ofensas pessoais são uma coisa, outra, são ofensas a um povo através dos seus símbolos, e desconhecer isto, é revelador de uma tortuosa estrutura mental. Este crápula ofendeu descaradamente os países envolvidos.

Por cá, já era tempo de conhecermos reacções, para além das de Rui Tavares, mas só silêncio e cobardia, a mesma que usam nos desaforos de Jardim.

O que este alemão propõe à boa maneira nazi é vexar, sujeitar à reprovação pública, marcar com ferrete. Desculpem, mas isto lembra a sinalização às casas onde viviam judeus e é lamentável não estarem a existir consequências.

Ainda que venham reacções ou demissões, o mal que permitiu esta proposta vai permanecer para ter outras erupções, e esta Europa que pareceu um dia possível parece agora cada vez mais inviável, ela não pode construir-se com gente desta, nem nós nos sentimos bem com eles à mesa. É o fim da ilusão, não tanto por via da pressão dos incumprimentos, mas por esta falta de sentido de construir um caminho comum.

12 setembro 2011

Já só chega para 9 meses?

Este título é alarmista e não deveria ser escrito assim, embora a notícia esteja bem estruturada.

Mas se é alarmista na forma, é por outro lado preocupante e com razão por uma destas questões: “(…) porque o actual governo decidiu utilizar os excedentes da segurança social que anteriormente iam para este fundo para pagamento de despesas correntes (…)” e é por sabermos da qualidade de algumas despesas correntes do Estado que torna esta notícia mais alarmante. No Jornal I, d'hoje.

09 setembro 2011

Ali Babá e os 40 comparsas.

Foi este o título com que Louçã quis caricaturar Jardim num recente discurso, mas Jardim não gostou de se ver extrapolado e vai processá-lo por isso. Na verdade, nem ele é o Ali, nem aqueles comparsas são quarenta. Jardim já foi aparentado a Idi Amim, a Bokassa, a ogre de banda desenhada, mas não resistiu desta vez a ser comparado a uma figura de ficção literária. Bokassa, Amim, ogre, ainda vá, agora Ali Babá?

Este episódio recentra Jardim, novamente no pior, porque da primeira coisa que os continentais de boa índole se lembrarão é dos desaforos a altas instituições do país, ditas em formato carroceiro a que o PSD chama hipocritamente de truculento, e ainda, porque revela da sua falta de cultura ao não conhecer aquela figura do conto árabe. Mas há esperança que o juiz o seja, para não achar a comparação uma ofensa. É que a figura daquele conto era um pacato e honesto lenhador, como diz aqui Schehrazad: (...) "possuía gostos modestos e era trabalhador, tornou-se lenhador e dedicou-se a uma vida de trabalho. No entanto, soube viver com economia. Devido às duras lições que a vida lhe dera, conseguiu juntar algum dinheiro, empregando-o prudentemente, primeiro na compra de um burro, depois de dois e em seguida de três" (...) Vol. 5, de As Mil e Uma Noites, de Amigos do Livro Editores

O facto de Ali Babá ter tido a sorte de se ter livrado dos 40 meliantes que o queriam liquidar, conseguindo por outro lado ficar-lhes com o tesouro, nunca fez dele o homem mau a que Jardim julga ter sido comparado. Se esta estória for lida em tribunal, Jardim terá dificuldade em dizer qual é o parágrafo ofensivo da sua honra, a menos que seja pela questão do “mouro”…

Ora, se Louçã comparou Jardim a - erradamente - um homem bom – digo erradamente porque não tenho dele a imagem de um cidadão merecedor do meu enternecimento – como pode o juiz penalizar Louçã por ter sido àquele pacato cidadão persa? Só se for através de algum subentendimento, mas inválido em questões jurídicas. Os 40 ladrões, esses sim, eram homens maus e como sabemos comparsas, mas comparsas uns dos outros, não de Ali! E o que Ali Babá fez, com outras ajudas, foi, em legítima defesa, liquidá-los quando estes o queriam ver morto. O que não sabemos, no deslindar daquela frase/discurso, é qual era a atribuição que Louçã dava à relação entre Ali Babá e os 40 comparsas, mas ficamos mais baralhados quando é Jardim que parece alterar agora essa ligação, supondo-os amigos. É fácil perceber a contradição em que cai Jardim, mas Louçã que é um rapaz inteligente, não tem culpa que Jardim não tenha lido as estórias da Schehrazad, e tenha antes uma consciência tão transparentemente pesada que o faz atolar-se em subentendimentos, (subentender = supor; admitir mentalmente), mas isso é um problema dele.

Por mim, apelo para que o direito à indignação se manifeste, apoiando Louçã perante mais esta manobra de diversão.

07 setembro 2011

206

206

A crise e a solução.

Descobrimos com frequência soluções tão óbvias para alguns problemas, que estranhamos sempre o seu aparecimento tardio. É como na procura da perfeição, da estética, da harmonia, descobrimos sempre que é na simplicidade da solução que a vamos encontrar. Esta por exemplo, como ninguém se tinha ainda lembrado? É tão óbvio não é?

E a crise, não terá por aí uma solução destas enquanto não mudamos de saltos, digo, de paradigma? Ou não há vontade de a encontrar? É que quando há um crime a primeira pista a seguir deve recair sobre quem aproveitou com ele.

06 setembro 2011

O Medo, o Passos e o Portas.

Se alguma crise esta crise arrasta, ela é em mim, esta dificuldade em escrever o que penso sem que sinta a compulsão para apagar o que “digo”, por achar tudo já fora do tom da notícia, ou da evolução que ela toma a cada hora. Parece tudo conectado por uma estranha velocidade nos acontecimentos, não só cá dentro, lá fora também, ou sobretudo. Já não sei. Mas também não sei, se são os efeitos desta era da comunicação que os nossos cérebros não incorporam ainda nos processos que vão ditar a nossa evolução futura. E é isso que preocupa: a nossa dificuldade em acompanhar o ritmo.

Por agora, e antes de perder efeito, aqui vai: Aquela conversa do Passos sobre o “incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal”, poderia ser tomada como o emblema do tipo de um Primeiro-Ministro que não deveríamos ter escolhido para nos governar nesta crise: não era nada disto que precisávamos agora! Mas esse discurso – contraditoriamente, de incentivo à arruaça - merece ser visto à luz deste, do Portas, sobre a “onda de greves sistemáticas”,  porque ficamos sempre sem saber se este foi uma ajuda do parceiro da coligação, ou uma lição a um Primeiro-Ministro principiante e acagaçado! O drama, é estarmos a assistir a estas prestações em directo.