27 janeiro 2011

Rescaldos

(…) “mas, Manuel Alegre não tem razão! Os resultados que hoje obteve não são culpa do Homem e do Político que é mas, isso sim, da dinâmica criada pelos partidos que o apoiaram...” (…)

É preciso que Alegre tenha lido textos como este e este porque é fundamental que saiba que a culpa não foi sua, e nenhum nós aceita que o diga a não ser por respeito à elegância do jogo democrático no discurso da noite das eleições.

Antes, Salgado Zenha, Lopes Cardoso e outros, e agora Manuel Alegre, foram homens íntegros demais, para que a forma como foram tratados não ofusque definitivamente a imagem de alguém que se imagina o monarca de uma República que não lhe pertence. É aqui que deveremos começar a pesquisar as razões que lavaram à eleição por duas vezes de um dos mais tristes e pálidos Presidentes da República Portuguesa, porque recuso aceitar que o culto à personalidade interfira de forma tão desastrada no regime republicano em que acredito. A culpa tem de facto um rosto, mas nunca o de Manuel Alegre.

24 janeiro 2011

O voto branqueado.

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Estive num jantar com amigos com a televisão pelas costas. Porque me bastava saber se havia ou não segunda volta. O detalhe do que aconteceu vi depois no bom artigo de Henrique Sousa. Eles revelaram a triste realidade que constatei no jantar. Ao meu lado estava um amigo, um tradicional votante de esquerda, uma pessoa esclarecida. Votou em branco... Tive que abrir o Alegro para lhe mostrar com o quadro que fiz para este post, o logro em que caiu. Confessou-me que num jantar onde esteve discutiram a questão e a conclusão era que votariam em branco. Verifico agora que houve mais 175 363 brancos e nulos do que em 2006. Contribuiu assim com a falta de informação que assumiu, para a vergonha que é voltarmos a ter esta máscara de cera na presidência por mais cinco anos. Quando fiz aquele quadro em Excel foi por sentir que havia gente baralhada pela confusão que por aí foi lançada com e-mails fraudulentos e que nunca vi desmontados pela Comunicação Social. O próprio esclarecimento da CNE foi insípido e deixou quase tudo na mesma. Cavaco clama vitória com menos meio milhão de portugueses a apoiá-lo do que em 2006, porque houve portugueses que se enganaram, outros que foram enganados e outros que gostaram de ser enganados. Tenho pena que não sejam chamados a pagar a factura apenas os que gostaram de ser enganados, mas lamento que o meu país seja ainda a triste realidade escancarada nas declarações acéfalas de tantos e calculistas de alguns. Chego á conclusão que faço parte de uma elite da qual também fazem parte os brancos e nulos. E quer se queira, quer não, terão que ser as elites a perguntar o que é que leva um país a ter um presidente eleito apenas com 23% dos seus eleitores. Éramos quase 10 milhões de inscritos e pouco mais de 2 milhões impuseram-nos este homem por cujo perfil se babam. Fica um novo quadro que nos mostra que não é democrático não levar em conta a opinião de quem não tem lá um candidato que lhe sirva, porque isso, também é uma opinião.
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Publicado também no Alegro Pianíssimo.
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21 janeiro 2011

"É pior a emenda..."

"Costuma dizer-se que "as sondagens são o que são"... de qualquer modo, o que me preocupa é a tendência portuguesa para, por um lado, tentar penalizar o que considera causas do seu descontentamento e, por outro lado, a ainda deficitária interiorização da ética republicana que grassa na sociedade portuguesa. O que quero dizer com isto? Simplesmente que os portugueses, numa tentativa de penalização do governo e, consequentemente, do PS, podem projectar na votação no seu principal opositor a manifestação do seu "castigo"... o raciocínio é demasiado simplista e transporta em si próprio alguma perversidade que só os mais ingénuos podem descurar, para gáudio dos que fruirão desta decisão. Porque, na verdade, o exercício desta forma de acção significa que, para efeitos de provocação de um desagrado imediato ao partido do governo, os portugueses preferem não equacionar o futuro, recusando pensar nas consequências dos seus actos! De facto, se houvesse hábitos reflexivos na opinião pública, a hipótese de um cenário em que se altere a conjuntura parlamentar por via de eleições legislativas, seria colocada e a consciência de que as alternativas económicas à actual governação não são, nesse mesmo cenário, do interesse público, os cidadãos iriam perceber que votar Cavaco Silva é contribuir para legitimar um caminho que será muito mais penoso para Portugal do que o que actualmente trilhamos. Por outro lado, por razões que se prendem com a cultura democrática relativamente incipiente nas populações menos alfabetizadas, menos informadas e menos politizadas, a representação social do Presidente da República é ainda o que resta do que, entre nós, legitima o "apadrinhamento social" e a "lógica do favor" em prejuízo da "cultura do mérito" - razão pela qual a mudança presidencial se processa, no nosso país e ainda que num regime democrático, por desistência do cargo, seja por limite de mandatos ou por vontade própria... como se a essa figura coubesse uma "intocabilidade"entendida de forma ainda próxima de concepções religiosas medievais em que o poder se associava ao "sagrado"! Ganha aqui sentido a expressão "nem para si próprios sabem ser" porque esta forma de pensar aproxima a sociedade daquilo que as pessoas mais temem: o empobrecimento e o autoritarismo!... e, como sabemos, apesar de se dizer que "a vingança serve-se fria", a verdade é que a vingança nunca é a melhor forma de resolvermos os problemas!"
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Bom texto Ana Paula, no sentido em que tem pano para mangas e dizer muito de forma sintética não é fácil. Desde a deficitária interiorização da ética que grassa, até à vingança que se serve fria, há todo um cenário enquadrável numa questão que tem a ver com a tendência para o carneirismo do povo português, mesmo quando a Esquerda triunfa com Soares ou Sampaio, e é isso que me preocupa, porque, das duas uma, ou isto é vingança das corporações ou geral, ou é o efeito de seguimento do rebanho que também pode ter estado presente com os outros dois. É que quando o efeito da vingança praticado por pessoas esclarecidas pode dar CAVACO, o eucalipto secador de uma floresta que não gostamos, fica a dúvida se não será antes o do rebanho a funcionar.
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Fica a dúvida.
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A capacidade de incentivo

e mobilização de um Presidente da República é, a par da defesa intransigente da letra e do espírito da Constituição, uma das qualidades mais importantes a reter numa escolha eleitoral. Ouvindo ontem à noite Manuel Alegre no Coliseu, ficamos com as certezas reforçadas em relação à convicção de que será neste momento de crise o presidente que precisamos, porque é ele, por comparação com todos os outros o único capaz de elevar o espírito e mobilizar como foi capaz de fazer levantar das cadeiras quem esteve naquela sala. Passou por lá uma forte corrente de ânimo na qualidade e na grande força das suas palavras. Não é o espírito assustador e medroso de Cavaco que vai conseguir mover quem quer que seja, ao contrário, dará porventura com tanto derrotismo vontade de emigrar.

Considerando os Presidentes da República pelo seu desempenho Jorge Sampaio foi um dos melhores presidentes que tivemos, mas Alegre vai destacar-se pela sua capacidade de incitamento para acção, conjuntamente com a firmeza das convicções que tem, do que vai defender em Belém. Infelizmente, as televisões amplificam o folclore à volta das campanhas, mas cumpririam melhor o serviço público a que deveriam estar obrigadas, se nos dessem uma melhor ideia do que cada um deles diz e defende. Pena que os portugueses não tivessem podido ouvir a força daquele incentivo, porque nós saímos de lá com a convicção de que somos capazes. É esta capacidade que valoriza e se espera de um leader.
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Publicado também em: Alegro Pianíssmo.
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20 janeiro 2011

A folha dos candidatos

Em certo sentido, ainda bem que o período eleitoral é em si mesmo escrutinador do perfil de cada candidato. É normal que se pretenda saber mais do que a lei obriga ou é simplesmente depositado no Tribunal Constitucional, porque os cargos em disputa são de uma enorme responsabilidade perante a nação e a ética do candidato deve ser um exemplo.

Confrange por isso, em relação a Cavaco, ter como argumento de defesa, não uma resposta mas uma pergunta: “… mas porque razão aparecem agora com estas estórias?” como faz Guilherme Silva, o paladino do Alberto João no continente, como se o facto de só aparecerem agora fosse despenalização automática. É harakiri numa pergunta naif. Em relação aos casos que Cavaco tem que explicar aos portugueses, muito ou quase tudo se fica a dever ao período eleitoral, se Guilherme sabia, nós desconhecíamos totalmente a existência daquelas questões, sabíamos apenas de uma casinha Mariani. Fazer crer que o património e a sua aquisição não devem ser esclarecidos tendo no caminho os homens que trafulharam no BPN/SLN, só mesmo num país onde a ética não é para ser levada a sério.

Ao contrário, foi triste verificar os esforços para descobrir alguma coisa onde pegar em Alegre. As diferenças são abissais. Nesta matéria, Alegre elevou-se a um patamar que Cavaco nunca alcançará porque a história pode ser reescrita, mas nunca alterada. Até nisto, Manuel Alegre é um exemplo e será a garantia que os portugueses melhor têm de que será um melhor Presidente da República.
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Publicado também em: Alegro Pianíssimo
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19 janeiro 2011

Dia 20, às 16:00 no Chiado

O país acordou com uma sondagem manhosa de surpresa, mas que não é mais do que um inquérito feito a apenas 170 pessoas. Se não vejam a ficha técnica que nos diz alguma coisa mas não tudo: foram feitas 802 entrevistas mas só acederam a responder 22,6%, 170 respostas. Depois, só sabemos que esses 802 eram maiores de 18 anos, mas não sabemos a faixa etária dessas 170 respostas, porque, sendo chamadas para telefones fixos, está bem de ver qual é a faixa etária que está em casa o dia inteiro a atender telefones: idosos, reformados e reformadas, cujo pendor conservador se acentua. Isto não corresponde a nada, e no dia 23 veremos se não se configura como uma fraude que deveria merecer tratamento. Vamos descer o Chiado e dar já a resposta:

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16 janeiro 2011

Melhor que uma onda

Em complemento do que foi dito aqui e aqui, e porque também não vi ainda imagens do maior comício da campanha, aqui fica este vídeo que conclui com imagens no Teatro Gil Vicente, em Coimbra.

Mas há qualquer coisa nele que gostaria que fosse notado. É extraordinário, podermos ver nestas imagens, como os apoiantes estão ali sem rótulo na lapela com grande entusiasmo, uma coisa impensável há pouco noutro cenário, com outro protagonista. Há um ambiente neste novo apoio que não me canso de exaltar, porque não se reporta apenas às tradicionais hostes de um partido. Talvez esteja a chegar o tempo de todos humildemente aprendermos mais um pouco. Talvez. Convido-vos a ver para comprovar. Confesso que ficarei desiludido se o meu país não estiver atento no dia 23.
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Publicado também aqui

14 janeiro 2011

Uma aldeia estranha.

Começa a ser dificil justificar tudo com a estória do “mísero” professor. Senão, veja aqui:
Não é estranho tudo isto? Seremos assim todos tão crédulos, trouxas, para acharmos que a ligação a esta gente e aos negócios que estão por aí visíveis é uma coisa inócua? Ou estas ligações serão um estranho caso de naifismo político? Não haverá por aí uma metade mais um de portugueses que vá votar e diga basta a este tipo de honestidades? Vamos aplicar à Presidência da República a receita de Oeiras de Gondomar de Felgueiras? E então a ética, que nos diz que um Presidente da República tem que ter no seu histórico outra capacidade de fazer amigos e não se deixar envolver pelas suas teias?

Onde anda agora Teresa Caeiro e os arautos de campanha que se preocuparam com um pequeno texto de autor já justificado?

12 janeiro 2011

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Os ARROIOS
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Os arroios são rios guris...
Vão pulando e cantando dentre as pedras.
Fazem borbulhas d'água no caminho: bonito!
Dão vau aos burricos,
às belas morenas,
curiosos das pernas das belas morenas.
E às vezes vão tão devagar
que conhecem o cheiro e a cor das flores
que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam
e onde parece quererem sestear.
Às vezes uma asa branca roça-os, súbita emoção
como a nossa se recebêssemos o miraculoso encontrão
de um Anjo...
Mas nem nós nem os rios sabemos nada disso.
Os rios tresandam óleo e alcatrão
e refletem, em vez de estrelas,
os letreiros das firmas que transportam utilidades.
Que pena me dão os arroios,
os inocentes arroios...
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Mário Quintana (Baú de Espantos)
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Uma gentileza da Lupe, que tomo como gesto de homenagem ao Arroios e agradeço.
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07 janeiro 2011

Um Alegro na campanha

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O alheamento generalizado da coisa pública é o alimento dos emperramentos que nos entorpeçam, esta, é uma consciência que tenho cada vez mais presente. Foi por isso que aceitei o convite de um grupo de cidadãos para participar no:
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Um novo blogue de apoio á Candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República. A minha liberdade nunca ficará refém porque esse é um compromisso que Alegre estabelece sem ter que o dizer. Convoco-vos por isso a algum desassossego, porque o país está a precisar de mais empenho de todos. Participem acedendo ao blogue e entrando no debate, ou da melhor forma que a vossa consciência ditar, mas sobretudo, não deixem que este país seja apenas feito pelos outros.

04 janeiro 2011

Uma sugestão

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Manuel Amado

Conheci a pintura de Manuel Amado através de uma grande tela algures em Lisboa, e depois numa exposição individual no Palácio Galveias. Esse tempo correspondeu a um período em que eu próprio, através de experimentações que vinha fazendo, descobria que afinal muito da simplificação da pintura se reduzia á interpretação da luz. Manuel Amado e a sua forma de pintar está assim ligado a descobertas que fiz por conta própria que levaram a que a partir dali, até a própria natureza era interpretada de outra forma, como se dispusesse de dois códigos para isso. Entenderá isto melhor quem decidir aventurar-se.

Se tiver curiosidade, ele vai agora expor obras inéditas em Lisboa, nas Belas Artes (SNBA) em 13 de Janeiro.
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