28 junho 2013

Medrosos e merdosos



Acabo de ouvir José Gil, na TSF, e ele tem razão quando volta novamente com o Medo, que foi o seu tema num dos melhores livros escritos sobre nós: Portugal Hoje – O medo de existir.

Há uma coisa que nos é comum de um modo geral nesta crise: a forma como temos dificuldade em reagir coletivamente. Somos um povo que não passa o patamar da verbalização em surdina, acusamos apenas, ofendemos agora governantes em espaços públicos sofrendo com processos por difamação, mas não passamos disso. Há um medo na sociedade portuguesa que faríamos bem em exorcizar. A que se deve ele? Que medo é este de que o povo tem? Será o tal medo social entranhado que vem lá de longe? E não perdeu para fazer o 25 de Abril porque não foi ele que o fez, foi um grupo de militares, esses sim, não tiveram medo, porque sofreriam as consequências do desastre, mas o povo não, veio apenas para a rua apoiá-los porque tinha a noção que bastaria serem muitos para projetarem para o outro lado da barricada o medo que sabiam existir também lá?

Que se passa com este povo? Nos comentários dos fóruns, dizem-se as coisas mais inusitadas que nos arrepelam. Aparecem neles sempre os mesmos dois grupos de portugueses, charneira, uma espécie de eixo central desta nossa vã apagada e vil tristeza: um, é o dos merdosos que são contra as greves e os sindicatos e as ações cívicas conducentes à visibilidade do protesto, apenas porque xim. Nem são até gente de direita, embora votem no centro ou centro direita, é gente sem convicções políticas e grandemente deficitários em cidadania. O outro é o dos medrosos, gente convictamente de direita para quem qualquer política exercida por um governo destes é apenas um ato de expiação dos nossos males. Nós somos pecadores, desvairados sociais que não nos enxergamos porque exigimos manter privilégios que só merecemos se tivermos dinheiro para os comprar, nada pode vir de uma política redistributiva, porque isso não é bom para a economia de mercado, a economia que segundo eles dá oportunidades a todos para o conseguirem. E são estes dois grupos que ancestralmente continuam a ser o atavio mais entorpecedor da nossa dinâmica como povo.

Não sei como se pode mudar um povo assim, mas receio bem que os nossos “brandos costumes”, na sua nova e abjeta versão de “bons alunos”, tão querida ao governo atual e à direita, mais à cobardia Presidencial que temos, sejam uma cruz que vá durar por algumas gerações.

Ando desalentado com este povo, e vejo muita gente próxima de mim fazer parte dele. Vai ser triste morrer num país assim.

08 junho 2013

Mandriões, faltosos e mau carácter!



Pasmo com o absurdo da falta de reação. Da falta de atitude. Todos os dias o acumulamos e ele empastela-nos como a brilhantina. Andamos afinal, sebosos.

Os portugueses de hoje são os mesmos de ontem, salvo algum que panicou nestes dias, e segundo Passos Coelho os portugueses, nós todos, os de ontem, teríamos a desdita, não de sermos antes, mandriões, faltosos e mau carácter, mas de sermos primeiro, vistos agora como isso, - coisa que na frase parece ter mais importância do que a forma como -. É a tal merda do complexo com o estrangeiro. Hoje não, somos bem comportadinhos, mas ontem… oh! Ontem éramos vistos! Que discurso mais bimbo, conservador e quadrado: “Hoje somos vistos como gente trabalhadora, cumpridora e honrada”. Uma das várias gravidades deste discurso é que o tom revela e implica que ele também concordava com essa leitura pífia, porque afinal: “Hoje somos vistos…”, somos vistos agora. Ele deu-nos a todos num tom de Diácono Remédios, um raspanete: xeus mandriõezz, dexonradozz… Parecia que tinha crianças à frente numa plateia. Como é possível termos este homem a dirigir Portugal, a dizer-nos que não tem medo de nós e que vai recandidatar-se em 2015? Quem de facto somos nós? Adultos, ou somos mesmo aqueles portugueses que José Gil retratou no Portugal Hoje – O medo de existir?