21 maio 2005

O professor de Alfandega da Fé.

Num Telejornal de hoje:

Professor de Matemática, colocado na Escola C+S de Alfandega da Fé, idade provável entre os 60/63 anos, faz da sua viatura residência, por não ter possibilidade de pagar um quarto, manter a sua casa em Lisboa e sustentar dois filhos. Ali dorme, ali tem alguns livros, ali retempera forças e dali parte para dar aulas aos filhos daquela terra. Em tempos de ócio criou um clube de xadrez, para que os alunos, jogando, treinem também o raciocínio matemático.
(...que tanta falta nos faz)

É capaz de ser um exemplo entre muitos, mas este, tocou-me hoje.
Não é tanto pela gravidade da situação, senão, o verificar que é a pessoas com problemas existenciais destes que nós temos entregue a educação dos nossos jovens. Como pode um professor assim manter os níveis de eficácia no ensino que todos os dias verificamos serem mais urgentes.

A Saúde é uma questão importante? Concordo e um médico deve ter condições minimas para exercer a sua actividade, com empenho. Mas porque razão não entendemos também que temos que ter gente empenhada a ensinar?
Não é esta profissão uma das que apresenta maiores taxas de aumento de doenças do foro psiquiátrico? E porque razão será? E que efeitos tem isso no ensino?

Para quando a dignificação da carreira de professor? Se tiver que passar por um grande abanão ao nível daquelas carreiras que seja, mas parece urgente, que o Estado e a sociedade civil tem que olhar para este sector com outros olhos. De outra forma, bem podemos investir milhões na educação que o problema continuará coxo deste lado. E porque que raio, aquela Autarquia ou a Paróquia ou lá quem quer que seja, não arranja uma solução temporária àquele homem?


Ou seremos um país de merdeiros?

19 maio 2005

A revista LXF

Entrei no site da CML para saber sobre edição nº 4 da Revista LXF – Lisboa Futura que é, uma boa publicação trimestral da Câmara, com pouco mais de um ano, sobre Urbanismo, Arquitectura etc. e obtenho esta informação:

"Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e a vereadora Eduarda Napoleão, estiveram presentes, no dia 11 de Maio na cerimónia de apresentação do quarto volume (sublinhado meu) da revista “LXF” - Lisboa Futura, que teve lugar no Belém Bar Café."

Pergunto: Que estratégia leva a apresentar uma revista um ano depois, já no quarto volume? Não foi apresentada antes? Será um modismo que eu desconheço? Ou é qualquer coisa parecida com os paineis publicitários? Ou algum êxito editorial estará na razão directa do aproveitamento?


Haverá por aí uma explicação razoável?



17 maio 2005

a José Eduardo Agualusa

“...Veio-me à memória uma imagem de infância. Talvez fizesse parte do sonho: uma senhora de pele de cor de cobre, inteiramente vestida de branco, a pedalar numa sólida bicicleta, com um chapéu colonial na cabeça. É uma imagem que me persegue. Estou absolutamente certo de que vi por diversas vezes aquela senhora, na sua bicicleta azul, enquanto, ainda menino, fazia o caminho, a pé, devaneando, de casa até à escola. Perguntei aos meus irmãos. Perguntei à minha avó. Ninguém se lembra de uma figura assim. ...”
Excerto de crónica de J. E. Agualusa, Revista “Pública” do Publico de 15/05/05

Também eu, Agualusa, tenho momentos que não sei se são memórias de imagens de infância ou fazem parte de sonhos: o gritar das cigarras, a chuva a cair nas costas já sem camisa, o vapor que sai da estrada ocre de pirite que agora fica vermelha, formigas a voar naquele cheiro de terra molhada que não esquece mais, fazem o cenário tridimensional daquele velhinho binóculo View Master. O que é sonho e o que foi realidade?

Em matéria de leituras, não consigo obter o ritmo frenético de muitos. Acabo sempre por ter três ou quatro livros em leitura, tal é a vontade de os começar e a dificuldade de os encaixar nos poucos tempos de sobra. Existe assim um rol de livros e escritores que vão pacientemente esperando a sua oportunidade, nunca desistindo, sabendo que foram mais uma vez postos em espera por um “penetra” que furou a lista

Desta vez não passa, Agualusa. Só que ainda vou ter que comprar e ter que fazer a escolha, mas isto é parte do prazer da leitura. Vou finalmente fazer-lhe justiça. As minhas desculpas pelo atraso
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15 maio 2005

ANDAR POR AÍ...NA BLOGOLÂNDIA

Como terão começado todos estes blogonautas a andar por aqui? Cada um terá tido no seu inicio a sua motivação o seu impulso inicial. Não começaram todos certamente pela mesma razão. Como não tenho contactos particulares com a blogolândia desconheço os números dessa estatística.

O meu início, e julgo que outros, (?) deveu-se à consulta e comentário a um post que me obrigou à inscrição. Depois foi a aprendizagem com tentativa e erro, poucos apesar de tudo, levando em conta os simples conhecimentos de “na óptica do utilizador”. Prevendo a hipótese de alguma asneira, concentrei-me apenas no texto, servindo uma causa em que estou envolvido, e menos na perfomance visual. Consegui dar-lhe um aspecto ligeiramente diferente do standard, para me sentir mais criativo, sem ter mandado tudo às urtigas e aguardo agora pacientemente que o engenheiro informático que se formou cá em casa, desça do pedestal e ajude o pai a fazer injeva aos craques da praça.

Depois vieram as pesquisas e o ver o que faziam por aqui este universo de comunicadores. Já não me recordo por onde comecei, mas sei que tenho visto gente brilhante a fazer coisas muito boas. Desde o texto à imagem, dos efeitos às novidades, enfim, coisas de fazer inveja. Curiosamente não sinto uma grande atracção pelos recordistas de visitas, aqueles eu já vi noutro formato de comunicação e não me apelam. Outros, vêm para aqui demasiado inchados e arrogantes e trazem agarrados os vicios e o “espirito de corpo” das suas profissões. Reflexos ou camuflagens de gente por vezes profundamente infeliz. Enganam-se a eles próprios, arrogando e engando os outros.

O blog ideal deve ter nome de jeito, post com texto comedido, letra de tamanho q.b., template bem escolhido e de simples acessos, criativo, links para coisas boas e que valham a pena e miolos é obrigatório. Quanto a política, ser independente de, não quer dizer: ser poeta castrado. Vou ser injusto com alguns, mas também o seria se não dissesse que começo os meus percursos pelo LUSOFOLIA que reune quanto a mim todos aqueles padrões de qualidade: nem muito, nem pouco. Parabéns Toix, aí vai o oscar!

CORRUPÇÃO E JUSTIÇA

Dizer o mesmo, de outra forma, com o peso de António Barreto. Vale a pena ler. Aqui vai um excerto:

do Jornal O Publico, Domingo, 15 de Maio, Pág. 7

(Os sublinhados a bold são meus)

"...TUDO ISTO ME FAZ A MESMA IMPRESSÃO do que a milhares de cidadãos. Mas tudo isto não seria mais do que o resultado da pobreza secular, da miséria cultural e moral, da voracidade de quem quer enriquecer depressa, da arrogante tradição dos banqueiros e empresários de regime e da pequenez de politicos videirinhos... Não seria mais do que isso... Mas é bem pior. É o resultado das deficiências da Justiça. É a consequência da falta de justiça. Pior do que a corrupção. Pior do que a voracidade. Pior do que as impunidades das “classes altas” e dos poiticos. Pior do que tudo, é a falta de justiça pronta e eficiente."

Era também por isto que dizíamos ter medo, no post anterior. O que é preciso é haver mais gente a não ter medo de dizer que o rei vai nu. Por mim está dito: Não acredito na Justiça em Portugal, ponto final.

12 maio 2005

SOBREROS ABAXO!...ATÃ VÁ!...

Houve agricultores que pagaram pela imprudência de ter derrubado uma ou duas arvores que não podiam. Devem sentir-se agora os mais injustiçados deste país. Ali para Benavente já cairam uns milhares de sobreiros. Provavelmente ninguém vai ser culpado.

Tenho medo por este país.

Não pelos seus meliantes ou malandros, crápulas, canalhas, batoteiros, bandidos, pulhas ou patifas. Não é desta gente merdosa que o país deve ter medo. O que verdadeiramente me apavora como cidadão é ver que ninguém percebeu ainda que a doença não está no mal, mas na cura. Gente má, sempre houve em todos os tempos e o povo arranja os seus antídotos e lá lhes vai sobrevivendo.

Para o que o povo não está preparado é para a traição da classe pela qual se deixa defender. Entrega há muito a doutos senhores o seu destino. Dispensa-lhes mordomias que lhes inquinam as almas e amolecem o cérebro, usam dermocracia e fedem a burocracia, chafurdam num lamaçal de regras que vomitaram e chamam justiça. O seu conceito do homem só cabe em frases ocas de discurso oficial em dias de tédios comemorativos. Nem precisam de conluiar nos segredosos corredores das suas corporações, porque, nada atacará o statu quo que nos venderam como a salvação das almas.

São estes senhores, também de colarinho branco que me defendem que me apavoram. Porque o país vai ficando exangue e exausto. São estes senhores que fazem as leis que não sabem fazer, a que só nos obrigam a nós. Uma sociedade, uma cultura ou uma língua que não se regenera, morre. Temos no nosso país, enquistamentos, partes que não se regeneraram, zonas mortas. A questão a saber, é como pode uma sociedade sobreviver em permanente esforço de crescimento, arrastando sistemas corporativos que não se deixam tratar e nos sugam forças vitais do nosso desenvolvimento.

Mestre Almada dizia:

PORTUGAL QUE COM TODOS ESTES SENHORES CONSEGUIU A CLASSIFICAÇÃO DE PAIZ MAIS ATRAZADO DA EUROPA E DE TODO O MUNDO ! O PAÍZ MAIS SELVAGEM DE TODAS AS ÀFRICAS ! O EXÍLIO DOS DEGREDADOS E DOS INDIFFERENTES ! A ÀFRICA RECLUSA DOS EUROPEUS ! O ENTULHO DAS DESVANTAGENS E DOS SOBEJOS ! PORTUGAL INTEIRO HÁ-DE ABRIR OS OLHOS UM DIA – SE É QUE A SUA CEGUEIRA NÃO É INCURÁVEL E ENTÃO GRITARÁ COMMIGO, A MEU LADO, A NECESSIDADE QUE PORTUGAL TEM DE SER QUALQUER COISA DE ASSEIADO !

06 maio 2005

OS "CINEMA EUROPA" DESTE PAÍS.

A recente tertúlia a que tive o grato prazer de assistir, organizada pela Comissão SOS Cinema Europa, na centenária Padaria do Povo, leva-me à seguinte reflexão:

Uma das grandes dificuldades do Povo Português, é a sua enorme dificuldade em aderir de modu próprio e com empenho, a uma “causa”.

Sempre que o faz, é com paixão, mas tem que ser bastante empurrado para isso. Timor é um exemplo.

Vive, na enorme letargia de quem pensa que alguém providenciará por ele, a resolução do problema.

Auto dispensa-se da participação, parecendo até que geneticamente lhe foi transmitido o conhecimento dos mecanismos de funcionamento deste “emperramento” nacional, contra o qual não vale a pena lutar.

Descarrega a sua consciência, concordando civicamente entre muros, por vezes exibe alguma vergonha quando expõe essa aderência, temendo à sua volta os olhares da crítica.

Atribui-se a si próprio, enquanto cidadão, menos direitos do que se atribui enquanto indivíduo, no que resulta num fraco conceito de cidadania que o leva à aceitação e à resignação.

Vem isto a propósito da luta dos habitantes de Campo d’Ourique pela preservação de espaços como o Cinema Europa e o Cinema Paris. Seria bom que tivessem a consciência de que esta luta ultrapassa pelo seu sucesso ou insucesso, os limites das suas freguesias e é extensível a todo o País. Seria assim como se estivessemos em Direito e falassemos de “Jurisprudência”. É um efeito com que se pode obter o mesmo resultado.

Pode dizer-se por isso que o que está em discussão é mais do que o Cinema Europa, conforme bem explicaram os intervenientes naquela conversa, tendo ficado bem patente na apresentação dada pelo nosso amigo catalão da Galeria Zé dos Bois, ali para o Bairro Alto, com o exemplo que nos trouxe dos Centros Cívicos de Barcelona que desconheço, mas que convido todos a descobrirem.

Valia por isso a pena fazer passar a mensagem às freguesias daqueles Cinemas (Campo d’Ourique, Lapa, Prazeres e Santa Isabel) que podem muito bem fazer história, por oposição ao que foram os crimes cometidos contra obras primas como o Monumental ou o Éden e tantos outros. Mas para isso, têm que passar de um apoio passivo a uma atitude mais interventiva e dinâmica.


Não há nesta luta com os poderes económicos envolvidos vitórias antecipadas. É mesmo preciso participar, porque é a Cultura e a preservação da memória das cidades deste país que está em risco. Qualquer dia acordamos e Lisboa é um condomínio fechado "noveau riche" q.b..

05 maio 2005

ABAIXO ASSINADO, ENTREGUE.

Os Inquilinos Unidos conseguiram algumas centenas de assinaturas nos poucos dias de circulação do abaixo assinado que pede ao Primeiro Ministro o prometido debate público sobre o Arrendamento.

Para além da entregue ao destinatário, deram simultâneamente conhecimento do mesmo, através de press-release, aos seguintes orgãos de Comunicação Social:

LUSA (Local)
RTP (Economia)
RDP (Multimédia)
JORNAL PÚBLICO (Local e Correio dos Leitores)
JORNAL METRO e DESTAK (Correio dos Leitores)
RTP, SIC, TVI (Noticias em roda-pé).

...
Cumpriu-se o Mar, e o Império de desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.

Fernando Pessoa

03 maio 2005

TERTÚLIA PELA CULTURA

Fico sempre rendido a qualquer movimento que tenha como objectivo abordar a cidade do ponto de vista da sua interacção com ela.

O movimento para defesa do Cinema Europa, pode muito bem ser um exemplo desse relacionamento afectivo com a memória da sua cidade e com as necessidades efectivas da sua cidade.

Quem, melhor do que aqueles que dia a dia a usam, pode sentir o que lhes faz falta? Não serão os seus habitantes que poderão dizer que já foi atingido um qualquer limite de saturação, e que a partir dali só se for para qualificar a vida social do seu bairro?

Qualquer partido convive mal com este tipo de movimentos e tentará sempre a desvitalização ou a apropriação, compete-nos a nós exercendo o nosso direito de cidadania não deixar que isso aconteça: apoiando, estando presente e incentivando aqueles que de uma forma altruísta vão tomando o dianteira na luta por estes interesses colectivos.

Aqui está um convite para uma Tertúlia no dia 04 de Maio. Veja.

01 maio 2005

A SUBORDINAÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO!

Começa a fazer-se luz por isso destaco esta:

Queixava-se a Presisente na nossa Junta, no seu último Boletim Informativo, de que era uma bandeira do seu Executivo a abertura ao trânsito da via descendente da Av. Almirante Barroso, por ser uma artéria de vital importância para descongestionar o trânsito nesta zona da freguesia. O problema é que se depararam com uma enorme resistência e dificuldades anormais a que não eram alheios interesses privados.

Nem mais. Leu bem!

ASSIM VAI SER DIFICIL...

Passou em rodapé num telejornal mais ou menos isto:

A propósito da seca, os portugueses estão preocupados com a ecologia - a qualidade do ar e da àgua. Mas declaram nada estar a fazer porque não vêem os outros a preocupar-se. Voilá!...