29 setembro 2012

Não há guiões para revoluções... II



Quando as ações de protesto transcendem as organizações e deixam de lhes pertencer, o que entre nós começou com os “à Rasca”, atingiu um record no “15 de Setembro” e vai provavelmente repetir-se hoje no “29 de Setembro”, alguma coisa está a mudar. Não sabemos como virá a ser essa coisa, sabemos apenas que todos querem que seja linda, como diria o José Mário Branco. Veremos se cada um tem a tolerância de saber abdicar o suficiente, para que nessa diversidade todos possam ver um pouco das suas convicções triunfar.

27 setembro 2012

A Catalunha e a emergência dos egoísmos.



"Todos os povos têm o direito de autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente sua condição política e perseguem livremente seu desenvolvimento económico, social e cultural ". Do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que faz parte da Carta Internacional dos Direitos Humanos.

As regras internacionalmente aceites que definem o direito dos povos à autodeterminação e à independência, estão mais ou menos definidas sem que para isso tenha que usar-se régua e esquadro, ou o rigor jurídico de uma lei, mas ter uma língua e uma cultura próprias, são desde logo condições fundamentais neste processo. Daí que os povos vencedores da luta por um território, tenham como primeira prioridade na relação com os vencidos, a supressão das suas língua e cultura, por serem os maiores perigos para o cimento da conquista.

Sem ir muito longe na análise do caso espanhol, diria que os catalães têm reunidas as condições para a emergência como país soberano. De facto, se hoje Portugal tem uma das fronteiras mais antigas da Europa mantendo-se como pais independente desde a sua fundação deve-se à opção que Castela tomou em ocorrer à revolta na Catalunha e não ter-se virado para Portugal possibilitando dessa forma o êxito da Restauração da nossa independência no dia 1 de Dezembro de 1640. Essa diferença fez a nossa sorte, mas também o azar catalão. Não conheço as suas lutas depois dessa data, se é que as houve, mas estranho que não tenham encetado mais cedo o processo que agora começa a ameaçar a coesão que Castela impôs.

Há no entanto uma questão que agora me faz discordar desta aspiração autonómica e ela está devidamente plasmada no discurso canhestro do representante catalão quando saiu do encontro com Rajoy. Considera ele mais ou menos isto: “A Catalunha, uma das regiões mais ricas de Espanha, considera que os seus impostos irão ser usados pelo governo central de Madrid para financiar os problemas das regiões menos favorecidas, em vez de serem usados para reduzir a dívida regional e combater o desemprego (…).”

Ora, com isto os catalães introduzem uma regra que a carta das Nações não consigna para a aspiração dos povos à autodeterminação e independência, e ainda bem. O mundo já é um caldeirão de egoísmos, e não é por serem tantos que devem ser legitimados. Os catalães estão a perder a razão e a abastardar os nobres princípios da autodeterminação dos povos, e ao basearem a sua reivindicação num principio económico poderão ser mais uma ovelha ranhosa nesta fria e insensível Europa. Se os catalães acham que devem ser independentes por causa da massa, apetece-me dizer-lhes que metam o dinheiro no buraco que melhor entenderem, porque dessa forma estão a vender uma parte da sua honra.

24 setembro 2012

A Puta da Formiga



São nove da manhã. Abri o computador com o intuito de descarregar a raiva que me vai na alma com a merda da conversa da puta da formiga macedo sobre a fábula da cigarra e a formiga, por não me sair da cabeça desde que a ouvi. Liguei o rádio, enquanto no computador se instalavam as ferramentas de trabalho para que a merda da cigarra que sou - segundo a formiga macedo - cante sobre a merda da conversa dos calões e dos mouros de trabalho a que a formiga fabulista de pacotilha se referia, e o primeiro som que o rádio me  devolve é a excelente crónica “O Fabulador”, em Sinais, de Fernando Alves, na TSF, sobre aquela fábula de Esopo. Entro na net e a coincidência continua: a leitura dos correios iniciais, aqui, traz-me também para o barulho de mais cigarras, gente que não cala a indignação de não poder trabalhar, de não poder ter o direito à esperança de se matar como se mata a puta da formiga macedo com tanto trabalho. A raiva tinha-me alinhado um pensamento para por o dedo em cima da puta da formiga, mas abstenho-me agora por outros o terem feito já por mim com mais qualidade. Sobra-me a esperança que o barulho que fazem neste final de verão seja o prenúncio da Revolta das Cigarras, que já vai sendo tempo de reporem a honra: querem vergá-las ao trabalho escravo de um carreiro, mas é da espécie e está no seu genes que a cultura através do seu canto seja aquilo que as distingue dos vermes.

Esqueci-me de dizer que a puta da formiga macedo se engana muito a meu respeito: trabalhei durante quarenta e quatro anos, fui desempregado num processo colectivo, reformado compulsivo e que me honra muito pertencer ao grupo das cigarras e não das formigas de merda a que ele pertence.

23 setembro 2012

A Saúde, o Borges e as Privatizações.



Não costumo replicar aqui os alertas que recebo por correio, mas este tem a particularidade de tocar em coisas que se esvaíram no desastre informático caseiro, por isso achei interessante. Diz assim:

"Vejam esta  sequência de  acontecimentos:

1) A TROIKA sugere no "memorandum" a VENDA do negócio da SAÚDE da CGD-Caixa Geral de Depósitos;

2) O Governo nomeia ANTÓNIO BORGES como CONSULTOR para orientar a VENDA dos negócios PÚBLICOS (privatizações);

3) O Grupo SOARES DOS SANTOS (Jerónimo Martins) CONTRATA o mesmo ANTÓNIO BORGES como  ADMINISTRADOR – mantendo este as suas funções de VENDEDOR dos negócios PÚBLICOS do Governo;

4) O Grupo SOARES DOS SANTOS (Jerónimo Martins) anuncia a criação de um NOVO NEGÓCIO na área da SAÚDE (noticiado no início desta semana pela imprensa);

5) A TROIKA exige a VENDA URGENTE do negócio da SAÚDE, da CGD, já este MÊS (notícia de hoje na imprensa).

...E  NINGUÉM repara?...E  NINGUÉM diz nada? Claro que dirão que é o "mercado" a funcionar "se" o Grupo SOARES DOS SANTOS adquirir por uma bagatela a área de negócio da SAÚDE, da CGD, por ajuste directo (sem  concurso). NINGUÉM exige explicações? NINGUÉM fala em tráfico de influências? NINGUÉM aponta indícios de corrupção?...E o cipaio Barreto, agora fica calado?"

Pergunta bem: onde anda o cipaio António Barreto que só vemos multiplicar-se de TV em TV, vendendo a toda a hora a PORDATA da fundaçãozinha do patrão dos Santos?

A música é proibida no Mali

Quanto fazia uma pesquisa para encontrar a notícia de que no norte do Mali não se realizaria este ano um festival world music, por ter sido proibido por uma sharia islâmina emitida pelos dos novos senhores do território, encontrei mais esta perturbante notícia.

19 setembro 2012

O 21 de Setembro em Belém

“Para que não restem dúvidas, esclarecemos:

O link para a concentração de dia 21 de Setembro em frente ao Palácio de Belém organizada pelxs subscritorxs da manifestação de 15 de Setembro é este:


não estando xs mesmxs organizadxs em qualquer tipo de movimento"

Declaração publicada no Facebook pelos subscritores da manif do 15 de Setembro.

17 setembro 2012

Abjecto! Revoltante! Incompreensivel!

do programa "Ponto por Ponto" de ontem, de Pacheco Pereira.
.
Antes de ser premiado com uma cadeira dourada na CGD por bons serviços prestados, não à Pátria mas ao Partido, queixava-se em entrevistas dos malandros dos inquilinos pelas dores de cabeça que lhe davam na gestão das propriedades da família. Agora, pobre e mal agradecido, queixa-se do Governo, que lhe permitiu o tacho, por estar a ir-lhe ao bolso. Este tipo é um arrivista, um cata vento que devemos marcar com um ferrete para que não passe por aí despercebido. Este é daqueles que vamos ter que dispensar.

16 setembro 2012

Não há guiões para revoluções...

A totalidade da importância do que aconteceu no dia 15 de Setembro, não é ainda conhecida porque pode variar em função de evoluções que não conhecemos, mas há importâncias parciais que podemos já apontar por serem um dado adquirido.

Poucos momentos na história depois de Abril podem ser comparados a este. Não interessa aqui a quantidade de povo que esteve na rua, sendo certo que terá sido a maior manifestação depois do 1º de Maio de 1974, replicada em muitas cidades do país. A dimensão do desfile, em Lisboa, deve ser analisada por um outro prisma: não havia uma estrutura de organização que fizesse as pausas para com isso ampliar o efeito do número, era um desfile compacto, muito compacto por vezes ao longo de todo o percurso, que dizem, chegou mesmo a preencher o itinerário do principio ao fim, sempre acompanhado lateralmente pelos que queriam chegar primeiro ao destino.

Os que nasceram depois daquele Maio não sabiam do que falávamos quando contávamos o que aconteceu. Tiveram ontem uma amostra, porque dificilmente se repetirá o que foi a exultação por sairmos de uma clausura de 50 anos. Até aqui, tinham assistido a desfiles organizados, balizados por palavras de ordem pré determinadas, segundo o critério partidário que os dominava; ontem, a liberdade foi total; se cada um levava partido era no cartão de eleitor, e a Direita que desfilou perdeu por um dia o medo de ser de Esquerda.

Foi fantástico, fizemos mesmo qualquer coisa de extraordinário, mas também é verdade que subimos a fasquia, e não havendo guiões para revoluções, apenas causas potenciadoras, podemos perguntar se este é já um processo, em que fase estaremos? 

13 setembro 2012

Da indignada Roseta, a Nogueira Leite.




Uma indignação como esta da Helena Roseta, não tem mais valor do que a minha ou a vossa, mas também não lhe é inferior só porque não se gosta dela. Tem no entanto mais importância por razões de visibilidade e impacto, porque não é normal assistirmos naquele programa a indignações tão veementes. É por isso que em circunstancias destas são descabidos comentários como estes que leio no Expresso, e têm certamente muitos subscritores: “É uma 'alegria' ouvir uma senhora como Helena Roseta, que sempre andou colada aos partidos, falar como fala. Ela acha que alguém acredita na sua indignação? Ela faz parte da mesma classe política que tem inviabilizado o País.“ (…) Ou seja, só a nossa indignação é que é a verdadeira?

Ande eu pelas franjas politicas em que andar, há uma coisa que nunca quero que aconteça, que é ter medo de pragmatismos por imperativo ideológico. É que aquela indignação é muito diferente de uma outra indignação que ouvimos, a do Nogueira Leite, que disse que: “Se em 2013 me obrigarem a trabalhar mais de sete meses só para o Estado, palavra de honra que me piro" (...), um tubarão daqueles, com cadeira dourada na CGD! Querem comparar estes dois níveis de indignação?