26 fevereiro 2007

O Patriotismo

Caro Egas: Insisto nessa questão por achar que perdemos energias gostando pouco de nós e valorizando demasiado os outros. Se não gostamos do que somos e como somos, só temos uma hipótese: a instrução e a cultura, uma barrela e roupa nova. A nossa subserviência canina, responsável pela legitimação e manutenção do discurso rasca e da aceitação de outras prepotências, advem de males que já conhecemos e esses, só se combatem com um espírito aberto. Um dos problemas das sociedades menos desenvolvidas, na competição, parece-me ser a falta de valores de aferição e nesse sentido, falta-nos de facto o contacto com os outros. O mar e a Espanha ( o que a Espanha tem sido) não foram própriamente a melhor forma de o fazer. As periferias são as que menos beneficiam do contacto civilizacional. E se tiverem ainda o azar de apanhar com uns botas salvadores pelo meio, na sua vida, marcarão certamente passo durante muito tempo. É para o combate deste estado letárgico que me parece que o povo não encontra força anímica, dai que me preocupe muito sobre a falta desse catalizador que nos ponha todos ao mesmo tempo, num objectivo. A Pátria de cujos valores a Cidadania se reclama instigadora, poderá ser um dos pilares sobre os quais é possível esse despertar, daí que insista e também desanime quando vejo tanta infidelidade. Não sei a que artigos te referes no teu comentário um post abaixo, mas um dos que pode resumir o que penso, é este: Que inveja me fazem...

24 fevereiro 2007

...porque não te veste tu?

É superior às minhas forças, não posso ouvir este homem. Diz ele a propósito da demissão de um Primeiro Ministro na Hungria: “... Veja como em situação semelhante, ocorrida na Hungria, o sarilho que tem sido só pelo primeiro-ministro ter admitido que também mentiu aos húngaros".

Pois olhe, eu conheço uma melhor para si: “ Na Noruega uma Ministra demitiu-se porque o marido (o marido) foi apanhado a conduzir bêbado ”.

23 fevereiro 2007

Jogos Perigosos

Ainda a propósito de brincadeiras levianas e assumindo os custos de falta de inspiração, tornando o blog numa caixa de ressonância, mas preocupando-me apenas que o seja com mais-valias, ouçam este jogo perigoso e não menos perigoso pela comunidade que o pratica. Cliquem aqui outra vez no som dos Sinais de Fernando Alves na TSF.

Agora que já ouviram, isto não mete medo? Qualquer coisa me fez lembar Ingmar Bergman e o “O Ovo da Serpente”. Estes americanos andam em roda livre.

20 fevereiro 2007

Diálogos (Reeditado)

A propósito do Alberto e da demissão:

Graza: " Estão aqui todos os tiques dos ditadores: adoram plebiscitar-se a si próprios."
Egas: " Talvez o primeiro tirano num regime democrático da história... Se bem que isso normalmente significa que a democracia deixa de existir. Que “berbicacho”! "

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18 fevereiro 2007

Vilanagens & Manhosices

Saíu pela porta grande do edifício de uma empresa nacional, com uma indemnização de 210 000 euros (42 milhões de escudos!) e entra dois meses depois, silencioso, pela porta pequena de um anexo com um salário mensal de 5050 euros (mil contos por mês!)

A notícia não é esta, mas foi assim que a reli nos emails não apagados e faz continuar a residir em mim uma reacção pouco confessável. Virá alguém argumentar que foi tudo de acordo com os princípios da lei e nada há que a pontar ao senhor e senhores, como não houve a apontar aos outros amarais-sobrinhos-enteados-santanas-e- demais-ga(o)lpes que proliferam neste país como cogumelos, e que vão chegando em emails sucessivos com lettering renovados.

O problema não está tanto no que já aconteceu porque já lá vai, e estamos todos em vias de acabar de pagar essas prestações. O questão é que sendo um problema-não-problema, a relação dos que se perfilam como candidatos é imensa e custa-me sinceramente ter que andar a trabalhar, descontar sem apelo e esmifrado até ao último cêntimo, para verificar depois que os meus impostos não conseguem contribuir para a redução do déficit por causa destas e das próximas manhosices que vêm a seguir.

Eu tinha a solução. Mas é pouco confessável.

16 fevereiro 2007

O (não) voto: Abstenção

Esta de assinalar os abstencionismos com um ferrete, foi o sentido figurado que encontrei para penalizar esta atitude tão pouco cívica, sempre que ela corresponda a uma atitude premeditada.

Por outro lado, não deixar morrer em nós a juventude de algum espírito libertário como forma de podermos alcançar uma sociedade perfeita, e não sufragarmos um qualquer poder dominante, pode ser a única via de nos sentirmos aptos para cumprir um sonho. Diria que esta seria a única forma de considerar a abstenção como voto, ou melhor, válida. A outra, é abjecta e também eu, como diz o Vitor “... não tolero que os engripados utilizem o meu boletim de voto como acoito de ranho...”

Abstenção

“...Não sente a liberdade quem nunca viveu constrangido” - F. Pessoa em o “L. do D.”

É o recorrente problema dos indiferentes. Uma sociedade organiza-se, actuando com o objectivo de satisfazer a sua vida colectiva, com reflexos na nossa vida individual. Se por um lado, cada um tem direito às suas indiferenças e ausências dessa organização colectiva quanto lhe aprouver, como entender (ou não) por outro, que esse direito não colide com os seus deveres de reclamante nela? Ou mais prosaicamente, com que direitos e sobre que parte do seu nada, reclamam a sua quota parte?

Por mim já “senti” a liberdade e conheço o custo dos seus direitos. Ou estão todos embuidos dum outro espírito libertário ainda maior que o meu e significa que perdi faculdades? Contendo o voto várias formas de contestação ou protesto, o estatuto da abstenção deveria assinalar-se com um ferrete?

Eu acrescentaria àquela de F. Pessoa: “...E há quem passe por ditaduras sem nunca se sentir constrangido”

15 fevereiro 2007

A Lei da Rolha

" Não sou um fã do ex-bastonário Miguel Júdice. Não sei se isto começou num dado momento, em que fazia comentário político e declarou que a partir dali não voltaria a fazê-lo, se a sua previsão não se concretizasse. É claro que a sua previsão não se concretizou, o senhor fez alguma travessia no deserto e passado uns tempos voltei a vê-lo por aí, comentando. Há mais, mas destas vez tenho que lhe tirar o chapéu com esta do "arcaísmo" como entrave às mudanças e melhorias na Justiça. Se a declaração não valer só pelo encanto dialéctico da palavra, saúda-se sempre a vinda de quem ajude à desmistificação."

Isto foi um post que não editei o ano passado e que faz agora mais sentido depois de o ter visto no Prós e Contras. Finalmente temos mais gente na Justiça a não ter medo de vir à praça pública, falar-nos dos inquilosamentos nas nossas magistraturas. Ontem o Prós e Contras na RTP1, cometeu com o Dr. António Marinho e Pinho uma injustiça, porque se havia alguém com direito a assento naquele debate, ele seria o primeiro, mas saúdo a presença e as atitudes dos dois magistrados, Eurico Reis e Rui Rangel, indicando o principio de que alguém quer romper o silêncio da Lei da Rolha.

11 fevereiro 2007

O Facto e a Notícia

Posso estar a reagir a quente e isto me embotar o espírito. São 20h10 e a SIC transmite directamente a comunicação oficial da vitória dos Movimentos pelo SIM. Casualmente passei à RTP1 e verifiquei estupefacto o 1º canal nacional a transmitir outra sessão, com outra gente, noutro local, com outras palmas e outro alarido, mas estas eram do Movimento pelo NÃO. O que os espectadores que seguiam a RTP1 viram foi uma primeira reacção em festa do Movimento pelo NÃO! Esta ordem de entrada e prioridades podem ser parte da confirmação daquilo que o MIC disse aqui no seu editorial: “A RTP1 não foi isenta na campanha”!

A selecção do Egas

Descobri esta belíssima selecção de cinco virtuosos da guitarra feita pelo Egas, aqui no Doca do Tempo. Se prometerem aceder ao Doca e ir ouvir o resto, deixo-vos ouvir este, enquanto esperam pelos resultados do referendo:

10 fevereiro 2007

À Tomásia, pelo Sim.

Tomásia, era uma rapariga que tentava longe da familia e da aldeia na Beira Alta a saída para uma vida que não queria partilhar com cabras e ruralidades e cujo esforço não tinha o retorno que ambicionava para a sua vida: queria mais do que aquelas serras lhe poderiam dar. Trabalhava para pagar o aluguer de um pequeno quarto em Alfama e tentava com a ajuda esforçada dos pais, concluir o Liceu em Lisboa. Sentava-se todos os dias numa secretária ao meu lado com a concentração de quem não queria dar por inglório o esforço que o isolamento familiar lhe provocava. Era uma rapariga simples, de feições suaves e formas hirtas. Apesar disso, ninguém lhe conhecia companhia que tivesse a boa fortuna do usufruto.

Era o que nós pensávamos.

Um dia, a Tomásia quebrou a rigorosa assiduidade e não apareceu. A notícia chegou depressa: Tomásia estava na morgue do hospital. Não resistiu aos maus tratos na marquesa de uma abortadeira. Escondeu-nos durante mais de três meses, apertada entre cintas, uma gestação que não queria. Devem ter sido três longuíssimos meses entre as quatro paredes do seu pequeno quarto, só e sem apoios. E não queria, porque tudo apontava para o ruir do sonho que estava a construir. Nele não se incluía o desistir dos estudos, ser mãe solteira aos 22 anos sem dinheiro, sem apoios, sem família perto ou o regresso às serras e às cabras e o arrumar para sempre de um projecto em que provavelmente, até na construção esteve sozinha.

Recordo-me do efeito alisado do cabelo pela laca que lhe puseram e que sempre me pareceu suor seco, o único resultado visível do seu esforço talvez para aliviar o sofrimento.


Em nome da Tomásia não posso deixar de considerar o discurso do Não, hipócrita, porque nenhuma das tias passa para o lado da barreira dos pobres, fazem-no de cátedra mas sempre comodamente do outro lado e exercítam daí os percursos religiosos da sua salvação acudindo às "almas perdidas", normalmente a dos pobres...

04 fevereiro 2007

É óbvio que SIM


E não me surpreende a argumentação de quem não quer, porque esta questão vai beber muito naquela outra que ouvi, que diz que a maioria dos adeptos do Não pertencem àquela classe de pessoas que até parecem gostar de ter pobres para poder praticar a caridadezinha. Salvo raras excepções, não me parece que tenha andado muito longe, tal é a hipocrisia dos argumentos.

P.S. A imagem anterior foi substituída pela imagem SIM do MIC, já em distribuição.

03 fevereiro 2007

O cheiro da Drogaria


Já aqui antes escrevi sobre o fascínio que é e a diferença que faz comprar um livro numa livraria ou num hiper mercado. Menos uns cêntimos não justifica o aniquiliamento das livrarias por asfixia financeira, porque elas serão sempre o tranquilo espaço que o livro e a cultura merecem.

Desta vez é sobre outro fascínio mas também uma redescoberta ocasional que confesso, a longa ausência ampliou. Passava por uma drogaria na baixa de Lisboa, e vi um suavíssimo pincel de barba de pêlo de um pobre animal que não terá sido consultado sobre a sua cedência, ao qual não resisti. Há muito que não entrava numa drogaria e aquele misterioso cheiro que ainda hoje não identifico com qualquer uma substância, mas que é igual em todas elas e continua a ser o mesmo, remeteu-me para a infância. Ali estavam, não um, mas alguns vinte modelos de pincéis de barba de altíssima qualidade. Estojos de unhas, não um, mas uma dezena de bonitos modelos. E lá estavam os sabonetes de algas e alcatrão que não encontro no hiper e os limpa metais e as colónias refrescantes, a cânfora e as cêras e até a pasta Couto. Imperdível !!! - Isto, já era a amiga Gina (desculpa: Georgina, porque estamos em público) que dizía quando lhe fazía o relato e descobri que também ela tem um fascínio por aquele cheiro e usa a Drogaria.


Vou descobrir qualquer coisa para comprar outra vez ...