“...Veio-me à memória uma imagem de infância. Talvez fizesse parte do sonho: uma senhora de pele de cor de cobre, inteiramente vestida de branco, a pedalar numa sólida bicicleta, com um chapéu colonial na cabeça. É uma imagem que me persegue. Estou absolutamente certo de que vi por diversas vezes aquela senhora, na sua bicicleta azul, enquanto, ainda menino, fazia o caminho, a pé, devaneando, de casa até à escola. Perguntei aos meus irmãos. Perguntei à minha avó. Ninguém se lembra de uma figura assim. ...”
Excerto de crónica de J. E. Agualusa, Revista “Pública” do Publico de 15/05/05
Também eu, Agualusa, tenho momentos que não sei se são memórias de imagens de infância ou fazem parte de sonhos: o gritar das cigarras, a chuva a cair nas costas já sem camisa, o vapor que sai da estrada ocre de pirite que agora fica vermelha, formigas a voar naquele cheiro de terra molhada que não esquece mais, fazem o cenário tridimensional daquele velhinho binóculo View Master. O que é sonho e o que foi realidade?
Em matéria de leituras, não consigo obter o ritmo frenético de muitos. Acabo sempre por ter três ou quatro livros em leitura, tal é a vontade de os começar e a dificuldade de os encaixar nos poucos tempos de sobra. Existe assim um rol de livros e escritores que vão pacientemente esperando a sua oportunidade, nunca desistindo, sabendo que foram mais uma vez postos em espera por um “penetra” que furou a lista
Desta vez não passa, Agualusa. Só que ainda vou ter que comprar e ter que fazer a escolha, mas isto é parte do prazer da leitura. Vou finalmente fazer-lhe justiça. As minhas desculpas pelo atraso.
1 comentário:
O Agualusa é meu patrício, e no seu livro "A estação das chuvas" deu-me a incrível sensação de ser eu também um dos protagonistas daquela história.
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