11 novembro 2006

A depredação dos mares.

Texto de participação enviado ao O Livro do Mar.

É preciso entender os bens naturais do planeta como meios para a subsistência e sobrevivência da Humanidade, mas finitos, num determinado contexto. Compete-nos pois velar pelo bom equilibrio das riquezas postas à nossa disposição. Desse entendimento, deve fazer parte a convicção de que uma coisa é a colheita dos frutos disponíveis sem colocarmos em risco todo o equilibrio que levou milénios a construir e outra, é a depredação do meio ambiente, de tal forma que em meia dúzia de anos de plena União Europeia os resultados estão á vista, pelo menos nos mares da Europa.

Cada país tem o seu meio ambiente próprio e é nele soberano. Nenhum outro pode nele intervir sem criar o conflito e esta foi sempre uma razão pela qual se disputaram guerras. Contudo, há bens naturais comuns á Humanidade que estão temporáriameente de passagem ou em depósito em alguns países. Sendo próprietários deles hoje, poderão já não o ser amanhã. Os glaciares, a àgua, o ar, os peixes, são bens naturais próprios de cada meio ambiente mas enquanto lá estiverem, deixá-lo-ão de o ser quando se moverem para outro lado. Passarão depois a ser bens naturais proprietários de toda a Humanidade. Isso implica que cada país seja responsável pela boa salvaguarda desses bens enquanto estiverem da sua posse, implicando que a sua devolução seja feita nas condições ambientais de boa preservação desses bens.

Este, é um exemplo. Não acho admissível que se tenham subsidiado e deixado construir verdadeiras frotas de fábricas flutuantes de arrasto dos mares que rápidamente exauriram os recursos que temporáriamente estavam à sua guarda, como se lançaram na limpeza dos seus fundos, pertença de toda a humanidade. Para quê? Para a sua subsistência ou sobrevivência? Não. Apenas para a criação de excedentes de pesca que vendem para todo o mundo e vemos por aí espalhados em abundância por arcas frigoríficas, alguns perdendo validade. Paralelamente, verificou-se o desaparecimento por asfixia, da pesca que melhor tratava esses recursos em termos da sua preservação. É por isso tremendamente injusto para os países que não enveredaram por essas políticas de depredação do meio que se venha agora penalizá-los outra vez pelos erros que esses piratas dos mares cometeram. Há países com muitas responsabilidades também pelo enorme excesso de consumo de espécies em fase de crescimento que nem chegam à idade adulta, como as Angulas, “Jaquinzinhos”, “Petinguinhas”, Choquinhos minúsculos, parece que proibidos em Portugal há muito, mas não noutros países. Impede-se assim que as espécies completem os seus ciclos normais de procriação e de libertação de mais sustento para a humanidade! Parece claro que a política Europeia de pescas foi um falhanço para a Europa e para a Humanidade porque criou desiquilibrios intracomunitários e potenciou a depredação dos mares da Europa e do resto do mundo. Este efeito depredador, cujo o único motivo é a ganância pelo lucro rápido e fácil, dá-se da mesma forma na Agricultura, onde se estão a verificar desastres ecológicos pela contaminação dos lencóis freáticos e desagregação dos solos, com efeitos sobre as águas e por arrasto sobres os mares.


A Humanidade deve poder impor formas de contenção da exploração dos recursos sempre que elas sejam motivadas pela ganância desmesurada de depredar mais e mais depressa que o vizinho. E a própria sociedade deveria ser mais alertada para quem o faz e como o faz.

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