15 abril 2007

Antonio Lobo Antunes

Ontem, descobri aqui, já com atraso, esta auto notícia, como alguém lhe chamou.

Fiquei então, como agora. Sem jeito. O olhar no écran à frente. Incapaz de me ordenar um movimento ou pensamento que fosse digno de todas as relações que o momento envolvia. Ele não nos perdoaria qualquer laivo de lamechisse ou de aproveitamento como um post pode parecer, mas não é, porque isto não é um blogue é um diário, por isso cabe aqui o desabafo.

Em nome de um certo cometimento que estas ocasiões impõem, ler a notícia e virar a página também era uma traição a qualquer sentimento. Dalí prá frente, as páginas já não íam ser lidas, só as folhas viradas. Fechar e desligar era uma espécie de cobardia e abandono para proteger já não sei o quê. E serei tudo, menos cobarde.

O impulso que me dominava era tentar fazer com que ele soubesse, para que essa força o ajudasse - e sei que ajuda - de como todos nós o amamos, como gostávamos que ele soubesse de tantos silêncios contidos, porque ele, mesmo com aquela distância a que nos mantém, faz parte das nossas vidas. Muito do que todos nós escrevemos tem raizes, como as plantas as nossas ideias sugam alimento de algum lado, e nele, encontram uma enorme mina de àgua cristalina.

Como é tremendamente difícil dizer alguma coisa sem trair a proposta inicial, fico por aqui António.

1 comentário:

Carminda Pinho disse...

Graza, como entendo as suas palavras, eu fiquei sem elas quando li a crónica pela notícia em si e da maneira como ele o António que tanto admiro como escritor pois os seus livros têm feito parte da minha vida, mas como ia dizendo a maneira como ele escreveu a crónica emocionou-me. Muitos de nós sempre achámos que o António Lobo Antunes era um óptimo escritor mas que era um homem distante. O que ele provou escrevendo esta crónica é que a sua sensibilidade é igual ou talvez maior do que a de qualquer um de nós.
Senti-me tão perto dele naquele momento...
Um Abraço