25 abril 2007

Edmundo Pedro e Abril

Edmundo Pedro e a sua Familia foi antes de 1974 uma das maiores vítimas do regime. Mais tarde, o seu currículo foi honrado com os silêncios a que se remeteu, arrastando consigo o desvio de responsabilidades a outras personalidades públicas, na distribuição de armas a civís na crise de 1975, só recentemente reveladas. É portanto um homem de ética, de honra e de uma verticalidade cada vez mais raras em Portugal.

Mas foi este o homem que eu ouvi hoje ser assobiado na subida ao palco das comemorações do 25 de Abril, no Rossio e o que é grave é que as bandeiras eram vermelhas.

Não há nenhum princípio de solidariedade que me obrigue comungar com gente que está nestas coisas com o mesmo espírito do Chão da Lagoa, ou do estádio de futebol.

Já não ouvi os discursos e abominei os que me viram muitas vezes ao seu lado nestas lutas. Impunha-se em nome da seriedade que o aparelho partidário dos assobiadores se demarcasse da atitude e fizesse a necessária pedagogia que muitos andam a precisar. Se o não fizer consente, ou convêm.

3 comentários:

Unknown disse...

Embora sendo de uma geração pós-25 de Abril não me é indiferente que o espírito da revolução de Abril se tem vindo a diluir no tempo. Muitos limitaram-se a esquecer; outros desistiram quando viram que o Portugal sonhado não se concretizava; uns tantos nunca o quiseram e tudo fazem para que se perca no esquecimento; muitos, como eu, nunca o viveram e não sabem ao certo o que sentir (não obstante dou graças por ter havido heróis que tornaram possível a minha liberdade).
Contudo, tal como tu caro Graza, não posso deixar de me entristecer com a politização do 25 de Abril, pois muitos são também aqueles que usam o 25 de Abril para fazer o seu jogo político, desde os comunistas que se julgam os fiéis e únicos defensores do 25 de Abril, às falanges de direita que no seu jogo de fachada tentam usurpar-se de algo que não fizeram e que nitidamente não lhes conveio.
Porque os verdadeiros heróis, aqueles que ousaram lutar e enfrentar a ditadura jazem esquecidos, diria mesmo proscritos com a ingratidão.

Contudo, gostaria uma vez mais de reavivar um repto que há 1 ano atrás já tinha deixado na blogosfera: o importante não é o 25 de Abril nem o que depois se seguiu, o importante é a Liberdade. Julgo que hoje em dia se vive demasiado preso a uma ideia um tanto ao quanto desprovida do seu verdadeiro significado – Liberdade.
O mundo mudou e com ele deixamos os valores de Abril caducar. Uma festa que deveria ser do povo e plena de alegria está hoje reduzida a uma “cambada” de engravatados que no palanque sóbrio e amorfo da Assembleia da República discursam sobre um 25 de Abril que não sentem.
Urge evoluir, redescobrir novas lutas, lançar novos ideais.
Inevitavelmente o 25 de Abril acabará esbatido… a Liberdade?! Essa continuará. Por isso eu digo LIBERDADE SEMPRE!!!

(Graza no fundo talvez eu não passe de um “puto” da era das “internets” e “playstations” que nunca viveu a verdadeira opressão e repressão, daí esta última parte do meu comentário).

Unknown disse...

Graza antes de te responder tive o cuidado de me ir informar sobre Edmundo Pedro e descobri no blog Passado/Presente um artigo que considero bastante interessante:
A incrivel e útil memória de Edmundo Pedro

(P.S.: O Blog, por sinal, também me pareceu interessante!)

Graza disse...

Acho que o importante é que fique bem dito na história o que aconteceu antes, para justificar a importância do que aconteceu depois. Porque não é possível continuar a pedir a gerações que se regozigem com uma data que não viveram. Contudo, eu, como muita gente, continuo a considerar que foi um dos momentos mais bonitos da minha vida. Porque comprava um jornal que por vezes tinha que ser escondido, livros tirados de baixo do braço pela Polícia para ver o que eram. Nos cafés tinha que falar baixo e longe de pessoas suspeitas, e as canções que nos incendiavam a alma eram ouvidas com grande risco. Havia uma revolta sufocada dentro de nós por aquele espartilho invisível, uma injustiça que não se desculpava quando olhávamos para a Europa como se fosse outro Mundo. Mas isto eram os que não se deixaram fazer vítimas do regime, porque havia muita gente que vivia como se vive no Chão da Lagoa e essas eram paradoxalmente para mim, as vítimas, porque sucumbiram aos métodos da ditadura.