04 julho 2008

Portugal mete Águas

O Grupo Águas de Portugal, cujo accionista único é o Estado, deve cerca de 1,7 mil milhões de euros à Banca e este número representa 1% do PIB português. A notícia está aí e pode ser lida na TSF, RTP, Diário Económico etc..

Que tenham havido investimentos desastrosos no âmbito da cooperação do Estado Português com outros, ainda podemos argumentar com a falta de jeito do Estado para escolher negócios ou para escolher gestores, o que já não se compreende é que parte desta ruína se deva a actos de gestão como este: “Este tribunal criticou ainda a gestão do grupo e apontou várias irregularidades como a acumulação de funções dos administradores do grupo que também executam funções junto dos Conselhos de Administração das empresas participadas.”... “Os gastos de 2,5 milhões de euros em viaturas atribuídas a administradores entre 2004 e 2006 constituiu outras das críticas feitas nesta auditoria, onde se diz que esta foi uma opção de difícil explicação considerando a fraca saúde financeira do grupo”.

Ora aqueles 2,5 milhões de euros em pópós da Administração, para termos uma noção de grandeza são, em dois anos, 501 mil contos! Mas vejamos também a nuance do argumento do Tribunal de Contas: “...uma opção de difícil explicação considerando a fraca saúde financeira do grupo” isto é, só é difícil de explicar por causa da fraca saúde financeira do Grupo ( ! ). Estão a ver isto? Até o TC tem pruridos em chamar os bois pelos nomes e se sente obrigado a suavizar dizendo que é só “pela fraca saúde financeira” do Grupo, porque se não fosse, estava explicado! É esta a mentalidade de quem nos governa.

Conhecemos a forma principesca como em Portugal se remuneram as Administrações, se ainda ao menos essa fosse uma remuneração que incluísse uma taxa de risco, assim à maneira de um seguro: Pagamos bem mas aceitas o risco de tribunal se meteres a mão na massa, ainda valeria o custo, mas nada disto sucede, saltam de um lado para o outro sem nódoa no currículum. Gostaria muito de ver explicados aqueles 2,5 milhões em carrinhos pagos com o nosso suor. Se virem, digam.

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3 comentários:

Anónimo disse...

Quando for grande quero ser administrador da Águas de Portugal!

Cumprimentos.

Ricardo S

Graza disse...

Eu também, mas nem tinha que ser nesta, desde que fosse uma comparticipada do Estado.

Ricardo Sardo disse...

Mário Crespo, hoje no Jornal de Notícias:

"Nada nos objectivos e missão da Águas de Portugal a capacita para entrar nas ruinosas negociatas internacionais agora denunciadas pelo Tribunal de Contas. O que permitiu esta situação na AdP e noutras empresas públicas foram as interpretações abusivas do seu estatuto autonómico e o laxismo cúmplice de tutelas incapazes.

Foi na década de noventa que se iniciou o baile de máscaras que travestiu empresas do Estado em simulacros de corporações privadas de modelo americano. Houve na altura colossais transferências de Bruxelas para o Banco de Portugal que nos deram dinheiro como nunca se tinha visto. Verbas que a CEE confiava ao executivo português para serem usadas na tão necessária modernização do país.

A Águas de Portugal nasce dessa imensa bonança financeira, exactamente porque era dos sectores mais necessitados de infra-estruturas. E teve muito dinheiro para isso. O suficiente para desviar algum para umas apostas no jogo da roda internacional. A coberto do pretexto de que eram as suas áreas de perícia compraram-se participações financeiras no Brasil, Cabo Verde, Argélia, Angola, Moçambique e onde quer que os aguadeiros estatais precisassem de um parceiro endinheirado, esbanjador e inimputável. (...)"


Não podia estar mais correcto...
Cumprimentos.