31 dezembro 2008

Massacres em Gaza

Tenho ainda guardadas duas Revistas Visão de 27 de Março e 4 de Abril de 2002, que fazem um levantamento histórico, com mapas e diagramas importantes para compreensão do problema Israelo-Palestiniano, por altura da chamada Páscoa Negra: o assalto ao quartel-general de Arafat. Por serem tão determinantes para a compreensão do problema, guardei por aqui para memória futura e valem-me agora numa altura em que civis indefesos estão a ser massacrados por causa de erros cometidos muito antes por alguém que não eles. Não posso infelizmente reproduzir aqui aqueles mapas, mas posso transcrever parte do que Mega Ferreira escreveu numa daquelas crónicas. Dizia então da edição de 4 de Abril de 2002:

“... Dir-se-á que a escalada israelita é uma resposta à extrema violência do terrorismo palestiniano. Eu acho que é uma resposta calculada e que, neste caso, estamos à beira de uma guerra de extermínio: tremo em usar a expressão maldita “solução final”, pelas conotações históricas que ela tem.

Mas basta olhar para os elucidativos mapas e diagramas publicados na última edição desta revista. Lá está a Cisjordânia, que, em princípio, deveria constituir o grosso da área de autonomia palestiniana, se as propostas de Camp David II pudessem ter valido para alguma coisa. A concentração de colonatos judaicos nessa zona é extraordinária: é quase uma manobra de ocupação do espaço, para impedir que os palestinianos respirem. E, como um colonato nunca vem só, a sua implantação mobiliza importantes forças bélicas, que se encarregam de “conter”, “proteger”, “defender” os colonos transplantados para território que, em princípio e em paz, devia ser ocupado pelos palestinianos. Moral da história: só na Cisjordânia, cerca de 600.000 pessoas vivem em campos de refugiados, sem água, nem comida, nem casa, nem cuidados de saúde. É como viver na cozinha da própria casa, porque os quartos foram ocupados pelos vizinhos....”
e mais adiante, quando do ataque a Ramallah: “...Talvez a comparação com Auschwitz não seja feliz. (Esta comparação tinha sido feita anteriormente por Saramago) Não o é, seguramente. Mas não tenho a certeza que Saramago não tenha razão, quando sustenta que há em Israel um espírito de aniquilamento dos palestinianos que, com um calafrio, nos pode fazer lembrar o espírito de extermínio dos nazis. Não é, seguramente, generalizado em todos os sectores da sociedade. Mas existe, já existia há 20 anos, quando estive em Israel, pela primeira vez e decididamente, última vez da minha vida. Ouvi-o da boca de antigos combatentes, históricos do sionismo e da fundação de Israel; mas, para meu espanto e horror, vi-o nos gestos enfurecidos de muitos judeus jovens, alguns recém-chegados a Israel. Tinham o furor dos neófitos, e já se sabe como os convertidos de última hora são, tantas vezes, o braço comprido e infeliz das paranóias dos mais velhos....”

Passaram quase 7 anos e esta crónica parece ter sido feita esta semana.
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