30 julho 2009

Martinho da Arcada

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Se Lisboa tivesse estado mais atenta ao seu património, não teria perdido tanto dos lugares emblemáticos que fizeram parte da sua história e que são tão procurados por quem quer saber um pouco mais sobre nós.

Não sei se o Martinho da Arcada está agora envolvido nesse risco, como alerta o seu proprietario, a propósito do desassossego que é a passagem dos transportes colectivos à sua frente que lhe tiram também a dignidade, mas sei isso sim, que é tempo de mudarmos de atitude e estarmos atentos aos perigos que cercam os lugares que nos restam como este, como o Nicola, a Brasileira do Chiado ou a Vesailles. Enterrar a cabeça na areia e fingir que não se vê só porque são negócios privados é um erro, aqueles lugares são história, são património vivo, pertença da cidade. Pessoa não nos perdoaria.

Acabei por trazer de lá aquela pequena brochura, que nos ajuda a perceber melhor o valor do espaço que desde 1782 viu passar e serviu de pouso a tanta da nossa cultura. É dele que retiro o excerto de uma carta totalmente imaginária de Fernando Pessoa a Ophélia Queirós, escrita por António Tabucchi em 2004: "(...) gostaria que a Ophelinha ficasse à minha espera sentada na mesa ao lado, (...) A Ophelinha sente-se com as costas para a parede à sua mesa; eu sentar-me-ei da mesma maneira à minha. (...) Tenho uma coisa muito importante para lhe dizer, uma coisa de que a Ophelinha vai gostar com certeza. Mas é indispensável fingir que não nos conhec
emos. Só nós sabemos que fingir é conhecer-se..."

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2 comentários:

Anónimo disse...

Se a memória não me atraiçoa, no tempo do Abecassis, a CML recuperou totalmente a suas expensas (nossas) o M da A que estava completamente em ruínas. Foi anunciado que a contrapartida era que continuasse acessível a qq cidadão. Para variar, nada ficou escrito. O proprietário, reservou uma parte substancial p restaurante de luxo e deixou um pequeno espaço p snac. Depois ou antes, vendeu-o. Não sei se o actual proprietário merece a minha solidariedade. Os lisboetas devem exigir o que lhes pertence, isto é, que ele se mantenha aberto e acessível. Abç. M

Graza disse...

O que eu quero dizer, é que não deveremos deixar que os problemas aconteçam, por não olharmos para eles, fingindo que não existem. Aliás, esse tem sido o método e tem levado à ruina, a Baixa é um exemplo disso. Tenho dúvidas que o actual proprietário seja o que refere inicialmente, mas ainda assim, este problema foi criado recentemente. Acredito que é possivel uma medida de reducção do impacto referido.