25 fevereiro 2010

Os profetas do Fim

Estes discursadores da tanga parecem não entender que Portugal tem há muito um endémico problema estrutural, é sabido, basta conhecer um pouquinho da história. Não fomos para mares desconhecidos por sermos ricos e vivermos aqui felizes, foi aliás esse isolamento entre o Oceano e Espanha, que sempre nos fez de tampão à Europa, que nos obrigou a saltar. Enquanto isso, a Europa distanciava-se ainda mais tratando da sua cultura e desenvolvimento humano. Nós, acabávamos aquela aventura tolamente exangues. À entrada pobres no início do século, juntamos o efeito das guerras e os 50 anos de obscurantismo de Salazar. É assim que finalmente chegamos á massificação do ensino em 1974. Tínhamos na altura um atraso estimado de 50 anos em relação á Europa. Isto foi há 36 anos. Culpar agora Soares, Cavaco, Guterres, Barroso ou Sócrates de todos aqueles erros incrustados na cultura de um povo, é um mero exercício de retórica política. Basta olharmos para este discurso dos nossos profetas do Fim e para o comportamento individual de cada um de nós, plasmado por aí nesses ódios de estimação e nesta caça às bruxas, para percebermos que é com estas nossas limitações que temos tentado ser iguais aos povos a que nos queremos igualar. Quanto pior, melhor, desde que ganhe eu e percam os outros, é assim há muito tempo, é esta a nossa estranha forma de sermos portugueses.
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2 comentários:

Ricardo Sardo disse...

É isso mesmo. Há anos que digo que o problema principal do país somos nós próprios e os governantes apenas a imagem do povo que somos...
Abraço.

Graza disse...

Nem mais, cada um julga ter na sua opinião a salvação da Pátria. Sempre fui - num certo sentido - interiormente, um revolucionário, mas cada vez mais acredito que não há revolução que transforme no imediato os erros que levaram anos de sedimentação num povo. Esses erros, vêem-se mesmo naqueles a quem a sorte bafejou com a educação e a cultura. É uma marca de água que vai demorar a sair.