13 novembro 2010

Paulo Varela Gomes

O Paulo Varela Gomes parece estar na moda, avaliando por um texto que circula de email em email, entre gente de Direita e de Esquerda. Confesso que conheço mal o PVG, mas já o li em textos de onde me sinto muito próximo e outros que se não me deixam perplexo, me custam muito a digerir - espero que não me apareça aqui a dizer que os textos não se comem! - As pessoas não valem ou deixam de valer a partir do momento em que podemos catalogá-las politicamente, têm até uma mais valia, garantem o enfoque enquanto nos escorregam pelos dedos da análise, desde que esse perfil não corresponda ao dos impostores ou dos camaleões.

Aqui vai um texto dele de 2007 que só agora li e subscrevo, e bem me teria dado jeito para suportar o que muito escrevi na altura, como aqui: Transgredir nos transgénicos.

"Comentário de Paulo Varela Gomes (professor de arquitectura)
A reacção - histérica - ao caso de Silves e ao post do Miguel Portas é um caso dos mais interessantes acontecidos em Portugal de há muito tempo para cá. Neste país de cobardolas, qualquer gesto decidido assume de imediato foros de escândalo. Neste país que enterrou uma revolução debaixo de um manto de mentiras, silêncios e cumplicidades traidoras, qualquer recordação - por mais ténue - daquilo que se passou em 1974-75 cheira a ameaça insuportável. Neste país onde os poderosos violam a lei todos os dias, onde a polícia e os tribunais servem sobretudo para ajudar os poderosos a não cumprir a lei, onde a lentidão e ineficácia dos tribunais criam um estado de não-direito, ninguém se lembra de exigir que seja aplicada toda a força da lei (de imediato! rigorosamente!) quando os salários não são pagos, os patrões fogem aos impostos, as empresas e os bancos defraudam os cidadãos. Mas ai de quem puser o pé num centímetro quadrado da sacrossanta propriedade privada agrária, esse símbolo por excelência da Ordem multi-secular.
Que extraordinário país! Um povo todos os dias enganado, roubado, o mais pobre da Europa, o mais ridículo. E nem um carro incendiado, nem uma montra partida, nem um protesto violento. Dóceis como carneiros, que é naquilo que foram treinados, é aquilo que são - envergonham-me vocês, oh ordeiros de dedinho sentencioso no ar e voz tremeluzende de indignação só porque meia dúzia de miúdos resolveram violar a lei. Pode não ter sido correcto o que os miúdos fizeram, mas mostraram mais coragem que vocês todos juntos. Respeitem ao menos isso: que ainda haja portugueses capazes de arriscar alguma coisa por aquilo em que acreditam. Respeitem ao menos quem é capaz de um gesto."
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Texto lido em primeira mão aqui no Gaia.
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3 comentários:

uivomania disse...

O pólen das culturas transgénicas, invade os campos e culturas vizinhas. Adultera-as. Quanto a essa invasão e às suas consequências a curto e médio prazo, esse rebanho ordeiro e moralista não se pronuncia. É que para isso, tinha que se aventurar a pensar e, ao que parece - para pensar -, não tem tempo.

Graza disse...

Que essa imensa mole humana não tenha tempo, entendo, ao que custa assistir é ao apadrinhamento que as elites políticas ordeiras, de dedinho sentencioso no ar e voz tremeluzente de indignação fazem, a tudo quanto sejam poderosíssimas máquinas oficiais de fazer dinheiro, ainda que sejam no fundo verdadeiros impérios da ganância a sugar do mundo recursos e a inviabilizar recuperações futuras da vida nesta planeta, e arrastando consigo essas maiorias para concordâncias acéfalas que assim lhes servem os propósitos.

Não sendo crente, acredito contudo na existência histórica de Jesus. Acho que a humanidade vai precisar um dia de alguém que com os processos paralelos válidos para aquele período histórico, a desperte para o tempo que não tem para pensar.

Graza disse...

Que o que disse não seja confundido com a crença em Messias ou iluminados de alguma espécie. Aquele “alguém” até pode bem ser “alguma coisa”, porque se os acontecimentos locais passaram agora a ser do dominio mundial imediato, então é possível acreditar que num futuro próximo a humanidade experimente reacções concensuais em relação aos perigos que a cercam.