10 novembro 2010

Portugal e o Twitter Público

"Exportações continuam a crescer mas importações desaceleram."
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Se pedíssemos a um aluno em início do Secundário que numa frase explicasse a evolução do gráfico que se lê na frase, ele nunca utilizaria aquele mas. Gostam tão pouco do país que até uma boa notícia é difícil dar. O JMF deixou discípulos…
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Lido aqui no CC. Sublinhado meu.

6 comentários:

Alexandre de Castro disse...

Grazina:
Como sabe, para o cálculo do PIB, o valor das importações tem de ser abatido à soma dos outras três componentes que o compõem. Na realidade, se as importações diminuirem, o PIB aumenta, mas isso não assegura o desejável crescimento sustentado. É por isso que o governo, para garantir esse crescimento,tem por principal objectivo procurar o aumento do PIB, através do aumento das exportações.
E a diminuição das importações tem de ser vista sob duas perspectivas. Se a sua diminuição é consequência de menos aquisições ao mercado externo de aviões particulares, barcos de recreio e outras mercadorias de luxo, então a notícia seria boa. Mas se, pelo contrário, a retracção se verificou ao nível dos produtos básicos e essenciais, como os cereais, o vestuário, os medicamentos, principalmente para as doenças crónicas, e a maquinaria para as instalações industriais, então a notícia é muito má, pois reflecte o progressivo empobrecimento da população. E que se saiba os automóveis de alta cilindrada continuam a vender-se muito bem.
Poe isso, considero tendenciosa a informção do blogue Câmara Corporativa, blogue que não passa de de uma correia de transmissão do actual governo.Até já aconteceu uma determinada notícia ser divulgada naquele blogue, antes de chegar à imprensa.
É preciso ter muito cuidado com as informações veiculadas por aquele blogue.
Um abraço

Graza disse...

Caro Alexandre.

Não me parece que seja essa a razão do “mas”, ou seja, pela quebra das chamadas importações virtuosas: maquinaria e bens de equipamento etc., dado que o “mas” parece ter sido posteriormente substituído pelo “e”, donde, ficaria: “Exportações continuam a crescer e importações desaceleram”. Este “e” altera completamente o sentido da frase, pelo que aquele “mas” não foi um acidente, e quer se queira quer não, este nível de taxa de cobertura das importações pelas exportações é sempre uma boa notícia. Assim vale perguntar: E se o consumo interno estiver a ser feito á conta da prata da casa? E se as empresas industriais tiverem passado por um período de renovação que estanque por algum período a importação de bens de equipamento? O que não é despiciendo porque foi isso que aconteceu na indústria têxtil e é este sector que está a puxar pelo arranque das exportações. Isto não vai bem por um lado, mas não implica que ao nível económico algumas consolidações não possam estar a acontecer por outro. O que não vale é alterar realidades com a vírgula numa frase.

Abraço.

Graza disse...

Quanto ao CC, conheço-lhe a orientação, mas o que me basta é a validade dos argumentos dos textos para que faço links. Não confunda com os: desde que seja a Bem da Nação. :)

Alexandre de Castro disse...

Caro Grazina:
Para ser franco, eu já não sei, por aquilo que me diz, se a notícia do PÚBLICO saiu com a conjunção adversativa "mas" ou com a conjunção copulativa "e". Eu elaborei o meu comentário anterior, considerando a primeira hipótese, e julgo que o jornalista do PÚBLICO pretendeu relativizar a diminuição das importações, por também ter considerado que isso se deveu à perda do poder de compra dos portugueses da classe média, que já estão a sentir no bolso as medidas decretadas pelo governo.Seria uma boa notícia, e aí não se justificaria a adversativa, se aquela queda das importações tivesse por causa a diminuição do poder de compra das classes abastadas.
Concordo inteiramente com o meu amigo sobre a importância do rácio da cobertura das exportações sobre as importações. Mas também aqui há que desfazer outro equívoco.As estatísticas em questão referem-se a um período em que o euro se depreciou muito em relação ao dólar.Com a mesma quantidade de dólares passou a comprar-se mais mercadorias e serviços aos países europeus. Por sua vez, com a mesma quantidade de euros os europeus passaram a comprar menos mercadorias e serviços no exterior. Estamos, pois, perante um quadro conjuntural que baralha um pouco a comparação estatística com o período anterior, em que o euro valia mais. Isto faz a diferença, que é necessário relativizar.
Mas, apesar destas discordâncias, que não são muito importantes, pois ambos temos a perfeita consciência que esta crise é muito grave e de coincidirmos na opinião de que os governantes andaram a esconder-nos a verdade, não deixo, contudo, de creditar um mérito ao blogue Câmara Corporativa. Obrigou as pessoas a raciocinar em termos gramaticais. Todos ficámos a saber melhor a diferença entre uma conjunção coordenada e uma conjunção subordinada e entre uma conjunção adversativa e outra copulativa. Foi uma maneira diferente de discutir economia.
Um abraço
Alexandre

Graza disse...

Bem explicado! Entendido. Gostei do fliq flaq final: de facto - sou pelo Acordo Ortográfico mas está a custar-me escrever de fato...- há muita gente a precisar destas pequenas lições de gramática. Ficamos foi sem saber por que razão o Público passou do mas para o e.

Alexandre de Castro disse...

Talvez tivesse sido um floreado gramtical...