27 janeiro 2011

Rescaldos

(…) “mas, Manuel Alegre não tem razão! Os resultados que hoje obteve não são culpa do Homem e do Político que é mas, isso sim, da dinâmica criada pelos partidos que o apoiaram...” (…)

É preciso que Alegre tenha lido textos como este e este porque é fundamental que saiba que a culpa não foi sua, e nenhum nós aceita que o diga a não ser por respeito à elegância do jogo democrático no discurso da noite das eleições.

Antes, Salgado Zenha, Lopes Cardoso e outros, e agora Manuel Alegre, foram homens íntegros demais, para que a forma como foram tratados não ofusque definitivamente a imagem de alguém que se imagina o monarca de uma República que não lhe pertence. É aqui que deveremos começar a pesquisar as razões que lavaram à eleição por duas vezes de um dos mais tristes e pálidos Presidentes da República Portuguesa, porque recuso aceitar que o culto à personalidade interfira de forma tão desastrada no regime republicano em que acredito. A culpa tem de facto um rosto, mas nunca o de Manuel Alegre.

11 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

Carissimo Graza,
Fiz link.
Obrigado.
Grande abraço.

Alexandre de Castro disse...

Grazina:
A culpa tem dois rostos e não apenas um. Não aceitar esta evidência, é querer meter a cabeça na areia.
Um abraço

Graza disse...

Caro Alexandre

É bem provável que em cada eleição que se realiza haja sempre um efeito de penalização, dado expressamente ou por de abstenção, brancos e nulos. Mas essa é uma leitura quase comum a todas as eleições, e não nego que tenha existido nesta, conhecendo nós, ainda por cima, o peso que começa perigosamente a existir das corporações que degeneraram do movimento sindical.

Aqui, o que quis enfatizar, foi a presença por duas vezes, de um efeito individual não despiciendo, por se tratar de alguém com peso político relativamente elevado em disputas eleitorais, e que era por ali que “deveríamos começar”, e quer queira quer não, nunca um tão grande peso idividual existiu a condicionar e a penalizar em duas eleições sucessivas.

Graza disse...

Ana Paula.

Registo o destaque.

Uma saudação alegre :)

Alexandre de Castro disse...

Grazina:
Sem pretender gerar polémica, transcrevo parte do artigo do Sol, que se baseou na comparação das votações das últimas duas eleições presidenciais:
"Nunca o voto do eleitorado socialista se terá fragmentado tanto e em tantas direcções como nas presidenciais do passado domingo.
Manuel Alegre era o candidato oficial do PS, mas a contragosto de muitos socialistas, que não lhe perdoam a colagem dos últimos anos à esquerda radical e às teses do Bloco de Esquerda, a rebeldia antipartido do seu avanço contra Mário Soares em 2006 ou as críticas recorrentes à governação de Sócrates.
De acordo com o modelo de transferência de voto assente em matrizes a nível distrital, Alegre não terá captado mais de 1/5 dos eleitores socialistas (cerca de 405 mil dos mais de 2 milhões obtidos pelo PS nas últimas legislativas, de Setembro de 2009 - quase tantos como os 380 mil que terá ido buscar ao eleitorado do BE...)".
Não meparece que o monarca republicano do PS, Mário Soares, tenha assim tanta influência entre os militantes e os eleitores socialistas.
Um abraço

Alexandre de Castro disse...

Deixo-lhe também, se é que ainda não o leu, o meu pequeno texto sobre Alegre e o PS, publicado hoje, no Alpendre da Lua:
"Manuel Alegre pagou caro a sua rebeldia. Mário Soares montou-lhe a armadilha e José Sócrates acabou por lhe fazer a cama. Quer um, quer outro, são ardilosos na vingança e não perdoam a ousadia de quem os afronta. Foi deprimente ver Manuel Alegre praticamente sozinho, na noite eleitoral. Os seus amigos socialistas abandonaram-o; Maria Belém, por dever de ofício, ficou, embora, já antes, na conferência de imprensa em que anunciou a derrota do candidato, tivesse exibido o ar mais distante e descontraído do mundo, como a dizer que aquilo não era nada com ela. Francisco Louçã, que já aprendeu todas as manhas dos políticos, apareceu no fim do velório. Passou à margem da derrota. Ninguém referiu a derrota do BE, e, para Louçã, isso já foi uma meia vitória, porque o derrotado foi o Manuel Alegre".

Graza disse...

Caro Alexandre, reporto-me ao seu comentário das 9:14.

Habituamo-nos a ter sempre na noite das eleições várias leituras e aconteceu muitas vezes em que todos ganharam, desta vez não fugiu á regra. Até Cavaco que ganhou, não passou de uma triste vitória, fixou o eleitorado da Direita, mas não deixou de ter menos 516.449 votos do que nas eleições anteriores, apesar de estarem desta vez mais 794.393 eleitores inscritos (9 629 630 contra 8 835 237 de 2006). Mas foi uma vitória…
Se até o PCP não consegue segurar o seu eleitorado tendo levado um rombo de 35,51% face a 2006 (466 507 contra 300 845 deste ano) porque razão haveria o candidato apoiado pelo PS, que sujeito aos vários desgaste, ter comportamento diferente? Pessoalmente acreditei que isso não aconteceria, mas isso eram as convicções de quem andam numa causa, porque de outra forma não valeria a pena andar lá.

Mas deixe que refute alguma coisa do que diz, sublinhando apenas a bold para debater consigo quando tomarmos novamente um café por aí:
“Manuel Alegre era o candidato oficial do PS, mas a contragosto de muitos socialistas, que não lhe perdoam a colagem dos últimos anos à esquerda radical e às teses do Bloco de Esquerda, a rebeldia antipartido do seu avanço contra Mário Soares em 2006 ou as críticas recorrentes à governação de Sócrates.” Há aqui afirmações a precisar de correcção…

Graza disse...

Reporto-me agora ao seu comentário das 9:24.

É evidente que um noite eleitoral da derrota na é igual á da vitória, mas não concordo quando se refere á presença dos partidos porque estava lá quem deveria estar. Quanto Louçã nunca andou de braço dado com Sócrates nestas lides, não espanta por isso que não tenha estado sentado ao lado dele e que aquela noite pudesse ter outro ambiente. Quando diz que foi deprimente ver Alegre praticamente sozinho, tomo a expressão como um empolamento seu da situação, mas, e simultaneamente, o melhor indicativo de que a candidatura de Alegre regressou ao seu ponto de partida: ela própria, sem ninguém, como nasceu. À excepção deste movimento de cidadãos mais ou menos anónimos que estão desde o inicio com ele.

Alexandre de Castro disse...

Grazina:
A frase que sublinhou a bold e que, na sua opinião, contém "afirmações a precisar de correcções", não é minha, como incorrectamente diz. É uma transcrição do artigo do jornal o SOL, tal como referi no meu segundo comentário.
Mas, francamente, não consigo ver essas incorrecções, a não ser aquela da colagem, pois ficou-se sem se saber se foi Alegre a colar-se ao BE ou o BE a colar-se a Alegre, o que, em termos políticos, é irrelevante, pois só se cola quem se deixa colar e só se cola quem se quer colar, o que vem dar ao mesmo.
Um abraço

Graza disse...

Transcrever, não é dizer ou escrever, é verdade, pese embora o facto de a transcrição ter sido apresentada por si como suporte de um argumento e nunca como prova do contrário.

Sem prejuizo da conversa em agenda, valerá a pena lembrar como nasce também nesta segunda vez a candidatura de Manuel Alegre, para que a partir desse ponto fique dada a resposta à questão da “candidatura oficial” e a quem colou a quem. É um facto que o dicionário político tem regras, mas nem sempre os vocábulos usados correspondem à realidade que o povo percepciona. Eu diria que Alegre foi o candidato apoiado pelo PS, e menos que foi o seu candidato oficial, para o destinguir de um candidato como por exemplo, Francisco Lopes, esse sim, um candidato oficial. Mas nesta questão, o processo foi transparente por parte de Alegre e ele nada tem a ver com os avanços ou recuos de quem o apoiou de um lado e de outro.

Não posso contudo concordar com esta forte expressão “quem se deixa colar”, porque, estamos a falar de cidadãos que têm em termos democráticos o mesmo direito de se sentirem representados não por um, mas por outro candidato e que por muito que goste ou não dessa escolha, o candidato terá que acolher que há alguém que o está a indigitar como o seu representante máximo da República. Isto é uma decorrência dos princípios republicanos que nenhum candidato tem o direito de enjeitar, e conhecendo o espírito com que Manuel Alegre os encara, foi com honra que os representou, estou seguro disso

Alexandre de Castro disse...

Grazina:
A expressão que utilizei "quem se deixa colar" não era de maneira nenhuma dirigida aos apoiantes de Manuel Alegre, apoiantes que eu respeito muito. Eu próprio iria votar com eles, se Manuel Alegre fosse à sua volta. A frase dirigia-se exclusivamente a Alegre e a Francisco Louçã. Entre os dois não sei quem iniciou o processo de colagem. Bem, mas sobre isto a conversa tinha de rumar em outras direcções.
Para terminar direi: Em 2006, Alegre foi brilhante, porque adoptou ums estratégia correcta. Em 2011, perdeu a sua independência, e ficou refém de Sócrates e de Louçã, os dois políticos mais brilhantes da actualidade política, a que tenho de juntar Paulo Portas.
Só mais uma coisa. A democracia portuguesa necessita de mais iniciativas políticas de esquerda, como a do Manuel Alegre, em 2006, a fim de furar o espartilho partidário, que se instalou na Assembleia da República.
Um abraço
Um abraço