10 março 2011

A Revolução que subscrevo.

Recorte de um texto de Nicolau Santos recebido do Justino por e-mail:
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“Ricardo Salgado diz: “O sistema capitalista é amoral, tem de produzir resultados. As pessoas é que podem ser morais ou imorais, mas o sistema tem que ser amoral”. Amoral significa: “que supõe a ausência de toda a obrigação moral”; pessoa que não tem a noção de moral. Assim, tanto faz que as pessoas sejam morais ou imorais, para o sistema quem é valorizado é quem produz os melhores resultados. Ora, se o sistema capitalista para produzir resultados tem que ser amoral então os fins justificam todos os meios para atingir esse desiderato. E foi com base nessa amoralidade que se construiu a violenta crise em que o Mundo está mergulhado.”

E sobre isto sublinha o Justino:

“Os Jovens que pretendem fazer uma manifestação pelos seus direitos e contra a precariedade, contra quem é que se manifestam, (quer no seu manifesto quer, como se vê, na sua prática política)? Contra os capitalistas/empresários/empreendedores que limitam a economia, concentrando e não distribuindo a riqueza, quer não a distribuindo aos cidadãos quer não a distribuindo entre si, quer limitando o Consumo?
Porque os que limitam assim a economia na verdade travam o seu potencial de crescimento concentrando, inutilmente como Adam Smith recorda acima, a Riqueza em muito poucas mãos, e impedindo o alargamento do potencial de Consumo, pelo que um protesto contra eles seria bem natural.
Não.
Os Jovens que pretendem fazer a manifestação pelos seus direitos e contra a precariedade, decidem centrar o fogo dos seus protestos contra quem cada vez mais pouco pode – os que gerem o Estado. (…) Pelo que o alvo escolhido por estes Jovens está absoluta e lamentavelmente errado.”

Justino tem alguma razão na reflexão que faz, porque se virmos os gráficos do desemprego e vencimentos na Europa, veremos que a Grécia, Irlanda, Islândia, Portugal, Espanha, Itália, Hungria e outros que começam a dar sinais, não passaram de repente a ter maus governos. Parece haver assim uma desfocagem neste protesto que cada vez começa a ser mais global. Desde Adam Smith que a regra é esta: "O mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta, é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade.". Talvez se esteja então em fim de ciclo, porque o que Smith não previu, foi que o mercador ou comerciante, transformados agora nestes monstros capitalistas sem rosto, se transformassem nos Estados da era moderna. São eles que governam, os governos vão assistindo à sua evolução e gerindo os danos que provocam, porque não há pátrias para eles nem as contemplações de ordem moral ou imoral, que Ricardo Salgado subscreve. Seria contra eles/estes que os jovens que pelo Mundo se começam a manifestar, deveriam apontar os seus protestos, embora ache que quando um dia se fizer a arqueologia económica dos tempos que vivemos em Portugal, se ache um absurdo que o presidente de uma companhia de aviação ganhe num ano o que um Presidente da República ganha em cinco ou o que um padeiro ganha numa vida. Foi a lógica de Smith que o mercado foi instalando que nos trouxe a este paradigma e nisso os jovens têm toda a razão. É este sistema desumano que é preciso implodir, e o governo, ou os governos, são meros peões dele. No caso português então, apontar-lhe baterias é substitui-lo por outro neo-liberal mais radical ainda, e com menos vontade de controlo sobre os desvarios que as teorias de Smith provocaram. É por isso que me revolta a escandalosa grudagem que o Cavacolas, de Tacci, agora transformado outra vez em PR, fez aos jovens, no seu discurso, aliando-se assim à manif dos “à Rasca”. Se eu tinha alguma intenção de ir ver, perdi-a com este apelo. Eu não consigo estar onde está Cavaco, porque Cavaco não quer as mesmas revoluções que eu.

Entretanto, as corporações que se instalaram vão aproveitando o desânimo para tratar da vidinha e para sugar mais um pouco do Orçamento, colando-se oportunistamente ajudando ao desfoque do problema. Ainda não é esta a revolução que subscrevo.

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