29 maio 2011

A Política: "uma grande empresa"?


Um Partido, uma grande empresa. De facto, alguns possuem até já valores patrimoniais assinaláveis. Mas esta questão menos elevada da actividade partidária em Democracia, é outro tema. Como Paulo Portas, é também aquela a percepção que temos do que está a acontecer na política. “Uma grande empresa”! Quem diria. Não sei se este juízo é uma inevitabilidade do processo de crise, mas ele é uma erosão perigosa. Não é uma questão de acharmos menos nobre a carreira política, admitimos sim que a tenhamos envolvido de uma roupa que não merecia, e assim, talvez esta Democracia como a conhecemos esteja enferma, ou então exigimos demais e ela sempre foi isto. Não nos sentimos devidamente representados, e esta representatividade está a falhar porque a sociedade está a evoluir numa dinâmica que os partidos - quais “grandes empresas” - não comportam. Há uma fossilização nos processos de transferência das aspirações do homem da rua para a prática política, e a participação neste formato é cada vez menos sentida, menos vivida. Não nos sentimos “a fazer” nem sentimos que o façam por nós. Os objectivos só são os mesmos, na hora da arruada e da feira, depois, as nossas preocupações nunca se reflectem em coisa nenhuma. Aquilo que achamos escandaloso só vamos lendo em emails trocados entre nós, porque os actores, políticos, comentadores, jornalistas, economistas enfim, a nata que nos entra em casa, sonega ao discurso aquilo que achamos importante e que ninguém quer falar porque, ou são beneficiários em causa própria, ou o cheque mensal não lhes permite a independência, e aquilo continua a acontecer ou a perpectuar-se. E assim vamos sentido que estas “grandes empresas” se distanciam de nós até nos voltarem a assediar na hora de nova subscrição de capital. Mas pode estar a acontecer que não haja vontade de investir e cada um esteja antes vendedor, e esta Bolsa da Democracia esteja à beira do risco e do crash. Quem sabe porém se com os anos de evolução democrática que tivemos, não faremos dele um risco virtuoso, seguindo o conselho de não reconstruir nada, mas reconstruir tudo?

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