Cesária Évora veio um dia a um programa de televisão, e o Herman esforçava-se para lhe arrancar a descontracção que permitisse aquela conversa dos afectos, mas Cesária permanecia insensível mais ainda para além daquela sua postura altiva não permitindo o êxito da entrevista, até que nos deu um murro no estômago respondendo a uma pergunta, quando disse: “A minha segunda pátria é França”. Não foi o conteúdo do que disse mas a forma pontiaguda que lhe deu. Começava assim a fazer sentido a dificuldade do Herman. Não foi o facto de ter tido êxito em França, foi a sua passagem em Portugal no Verão Quente de 1975, numa altura atribulada sua e da vida do nosso Abril que parece tê-la afastado de nós. Que ela preferisse os franceses por a terem adoptado, é normal, porque foi ali que triunfou internacionalmente, mas que se tenha definitivamente posto de candeias às avessas connosco que a ouvíamos desde jovem, é que nunca aceitei. Saramago estava zangado com Portugal, o institucional, mas os portugueses estavam fora dessa amargura. Por que raio não quis a Cesária aceitar o nosso afecto?
Reedição por ressalva no título: "excluiu-nos" e não "exclui-nos".
Reedição por ressalva no título: "excluiu-nos" e não "exclui-nos".
4 comentários:
Sem ironia lhe digo que não me admiro. Hoje já há quem, inconfessadamente, admita outros países como primeira Pátria... Falo da Alemanha, claro
Quem nos dera que fosse pelos motivos da Cesária. :)
Saudações.
Também eu estou zangado com portugal... Porque mantenho forçadamente uma família na minha casa e ainda por cima tenho que pagar pelo privilégio... Havendo neste momento 5 milhões de portugueses zangados com Portugal.
Ricardo Corte-Real (Sydney)
Ricardo:
Não teremos nunca forma de saber o que é estar zangado e quantos o estão com Portugal. Sabemos que há portugueses que não gostam por uma razão ou por outra de Portugal, mas muitos manifestam essa animosidade desapontados com quem nos tem governado e na forma como colectivamente não nos coordenamos, projectando erradamente esse estado de espírito contra o país.
Presumo que o seu ressentimento tenha a ver com o Arrendamento. Na verdade quando falamos dos males que a governação de Salazar nos trouxe, esse é um dos males que deve ser lembrado, porque, o facto, é que Salazar só conseguiu manter o país que tivemos durante 50 anos, porque o empobrecimento a que vetou o país teve que ser conseguido à custa de artificialismos como esse. Recomendo a leitura do que diz aqui Daniel Oliveira sobre esta questão, melhor do que eu:
http://aeiou.expresso.pt/escrever-direito-por-linhas-direitas=f595853
E não se zangue com o país, lute antes pela mudança
Saudações.
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