01 dezembro 2011

A Independência às urtigas?

  
Os países tomam para seu dia nacional aquele em que o povo colectivamente melhor se revê, associado de um modo geral a factos de relevo que tenham sido de exaltação nacional. Os franceses têm o 14 de Julho comemorando o dia da tomada da Bastilha. E que dia! Os britânicos, pela razão da sua própria constituição não têm um dia específico, têm vários que celebram o dia dos países que constituem o Reino Unido. Os alemães instituíram o 3 de Outubro, Dia da Unidade Alemã, pela sua reunificação. Os americanos, o tão celebrado 4 de Julho, Dia da Independência. Na Rússia celebram o seu dia em 12 de Junho, pela Declaração de Soberania do Estado Russo. Os Espanhóis, pela dificuldade que têm devido à sua unidade como país, têm o 12 de Outubro, Dia da Hispanidade que celebra a chegada de Colombo às Américas. O Brasil celebra a sua Independência no dia 7 de Setembro, etc.
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Nós temos o 10 de Junho, Dia de Portugal, que é apenas o dia que celebra a morte de um poeta, o maior é certo, mas por muito que Camões nos valha, não deixa de ser apenas o da morte de um português que morreu na miséria e abandonado por uma nação que não o soube reconhecer em vida. O povo não soube durante muito tempo que ele morreu naquele data, e ainda hoje muita gente não saberá, sendo por isso uma data que nunca se inscreveu na memória colectiva. É com Salazar que este dia começa a ser celebrado como sendo o Dia da Raça, hoje alterado para Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Mas não deixa de ser uma data forçada com a qual o povo não se identifica, foi-lhe imposta, e para todos os efeitos uma data que o povo não viveu, e é nesses factos que radica a razão da genuína comemoração de um dia. É um dia que o povo não o canta na rua. Talvez seja por isso que ele continua a ser uma seca comemorativa. O 5 de Outubro, Dia da República, vai infelizmente sendo o mesmo, e talvez pelo período que a nação atravessou nos tempos que se seguiram, se tenha ofuscado para o povo o valor desta data, mas deve continuar a ser comemorado. O 1º de Dezembro, Dia da Restauração da Independência é um dia ainda na memória do povo, porque, ainda hoje nas vilas mais recondidas do Alentejo a alvorada se faz com a charanga da vila a acordar toda a gente tocando o Hino da Restauração. Aqui e aqui. Eu não o esqueço porque acordava estremunhado com o ribombar da banda ainda bem de madrugada. A República, tem erradamente deixado cair esta data por ela ser afecta aos Monárquicos, mas é um disparate que o faça por essa razão, e deve continuar a ser uma data a preservar como feriado, por celebrar o restauro da nossa Independência, coisa que me faria passar a guerrilheiro urbano se algum dia a voltássemos a perder.
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Que me desculpem os bons amigos espanhóis que tenho, este post nunca lhes foi dedicado, é antes, aos outros “espanhóis” que o povo gostaria de expulsar de Portugal.

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