Desculpem o desabafo, mas estou hoje demasiado sensível ao meu empobrecimento, o mesmo a que vocês estão também a ser sujeitos, numa despromoção social que é mais preocupante porque não é linear e é reveladora desta nossa índole de pategos, que qualquer razoável vendedor de banha da cobra engana. Poderia ilustrar este espírito reverencial perante os embustes na nossa história como povo, de outra forma, mas o que agora me ocorre é o da parte inicial deste excelente vídeo que encontrei no Alpendre da Lua, e que recomendo.
Deixámos criar nesta democracia uns mostrengos, que não sendo individualmente culpados da débâcle, servem perfeitamente como exemplo dos vendedores que na rua nos ofereciam um mundo de bugigangas para nos levarem finalmente a comprar a banha da cobra. Como na parábola das varas de vime, não são culpados isoladamente, mas são-no totalmente quando juntos. Estamos a empobrecer mas há uma casta que medra à custa do regime e nele vive alapada, como aquela praga resistente que tenho ali a definhar a planta do jardim. Começa a parecer-me que a solução não passa por aniquilar a praga, mas a fonte que a alimenta.
Hoje, somos um país acatrogado, mas já fomos num tempo de visões de oásis, um país acadilhado, aloureirado e isaltinado por indecorosas faltas de ética, nunca bastantes para impedir este povo de parar na rua para ouvir o banha da cobra. São resquícios, talvez da forma diferente como em Portugal ocorreu o feudalismo, porque nos outros é trauma que não se nota, ou ainda outra coisa mais remota. É este tremendo autismo social que continua a prestar reverencialmente tributos indecorosos a estes mostrengos, e continua a permitir que alguém, com um descaramento canalha, avinhado nas cores e cuspindo pentelhos, esfregue na cara deste povo imbecilizado, o seu rótulo: “o meu valor de mercado”.
O seu valor de mercado?… Desculpem, mas visto assim este é um povo de merda.
4 comentários:
Ups... de facto!!!
Obrigado, Graza!
Um abraço.
Hoje saiu assim, Ana Paula. Espero que não haja crianças a ler. :(
Saudações.
Grazina:
E chegados aqui, ao século XXI, descobrimos que tudo está reduzido ao mercado. De cidadãoas fomos (des)promovidos a clientes, eleitores, beneficiários, contribuintes e utentes. Ignorou-se o cidadão e desprezou-se a cidadania. O Estado passou a ser concebido como uma sociedade anónima, sendo o governo o conselho de administração. Até as eleições se transformaram em espalhafatosas campanhas publicitárias, com os políticos com o olho nas sondagens, para que nos seus discursos dissessem o que as pessoas gostam de ouvir.
A governação passou a pensar apenas na contabilidade. Durante estes quatro anos de crise, os dirigentes europeus apenas discutiram as finanças, as dívidas e os défices. Nenhuma medida de fundo, sobre saude, educação, economia, emigração, imigração e pobreza, foi tomada a nível nacional e a nível europeu. Um esgotamento total de ideias.
Os valores éticos e morais foram transladados para os antiquários. Talvez tarde demais, as pessoas começam a descobrir que a democracia formal é a capa que oculta a ditadura do capitalismo financeiro, que é quem verdadeiramente manda.
Alexandre:
Dei a resposta no seu blogue.
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