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17 maio 2015

Retiro-me do debate do Acordo

Retiro-me do debate sobre o Acordo Ortográfico, não sem que antes mostre a forma como estive nele. Esta foi como comecei em 2008:


Aqui, como continuei em 2012, [com vídeo do Saramago]:


E aqui mais recentemente, quando resolvi entrar depois de empurrado para ele pelos anti A.O.


Resisti durante muito tempo apesar das provocações com os tais exemplos errados de quem não leu o Acordo, e por saber que os ânimos de quem combate alguma coisa têm a tendência para o exacerbamento, acabando o debate por se fazer sempre nas franjas da animosidade, e é isso que está a acontecer. Como se pode aferir da forma como abordei a questão nos links que deixei, em momento nenhum recorri ao insulto para classificar os anti A.O., nem viram nenhuma espécie de arrogância  [aqui lembro a conversa de ontem de Miguel Sousa Tavares num canal de TV], ou qualquer outra forma de achincalhamento apenas por ter tomado uma opção pró Acordo. É mais importante para mim a boa relação com familiares e amigos, do que saber de que lado está cada um deles.

12 maio 2015

O Accordo Ortographico

Hoje deixo cahir symbolicamente os dois últimos accordos ortographicos, o de 1911 e 1990, no valle da cholera em que os metteram - uma attitude que se circumscreve quanto a mim, mais na área dos affectos com a língua, do que num olhar simultâneo para a evolução do passado e do futuro d’ella -, e volto por momentos ao universo das nossas queridas consoantes, algures alli pelo inicio do século em que cahiu a Monarqhia e se implantou a República, e Pessoa já ia em metade da vida que teve. Ámanhã, porém, vae deixar de sêl-o, liberto do atavio d’ellas, as que agora atrapalham a leittura e as phrases comprehender-se-hão egualmente bem. Talvez Fernando Pessoa não reclame hoje do tumulo como reclamou antes em vida, a língua portugueza sobreviverá, e o scisma que também hoje parece crear-se com as alterações que se attribuem à nova ortographia que foram as mesmas estranhamente reclamadas um século depois pelos descendentes linguísticos d’elle, repete-se.

As circumstancias da assignatura de um anterior accordo ortográphico, que deveria sêl-o mas não foi, e nos isolou do Brazil todo este tempo, vão repetir-se n’outra épocha e a  hyphotese de discórdia voltará como um echo dos desaccordos passados, philtrados comtudo pelos sentimentos de posse de cada um pela sua língua.

Peço desculpa pela cacophonia consonantal, mas voltar atraz é a melhor forma de comprehender que ahi, outros tiveram egualmente os problemas que hoje temos, e que a herva daninha d’ella é, não as revisões ditas commerciaes mas a clausura que leva às línguas mortas. Viva portanto a vida das vivas e paz à vida das mortas.


Este texto não é contra ninguém, muito menos contra familiares e amigos, é apenas a minha forma de responder – e já agora, o meu direito também - a tanto desafio que me fazem numa questão transversal que nos divide, mas apenas nisso, na escrita. Temos tanta coisa importante em lutas communs, porque não gastamos as nossas energias investindo n’ellas?

Graza

Fontes ortographicas: “O Castello dos Carpathos” 3ª Edição, de Júlio Verne. Tradução de Pinheiro Chagas. Ed. Aillaud & Bertrand s/data de edição mas algures no inicio do século passado.

Nota: Li Hoje, em Fevereiro de 2017, um dos melhores textos sobre o Acordo Ortográfico. Aqui fica o link:
http://www.jn.pt/opiniao/convidados/interior/acordo-ortografico-hino-a-democracia-5675999.html

05 março 2012

Da importância do contexto na comunicação

(Reeditado)

Como se pode verificar, não fiz aqui a migração para a nova ortografia estabelecida pelo Acordo Ortográfico (AO) de 1990, nem decidi ainda o momento. Tanto quanto sei, decorre até 2015 um período de transição para que tenhamos tempo de nos adaptarmos, sendo até lá válidas as duas grafias. Tive na questão do AO alguma renitência inicial, resolvida depois de ponderação, ajudado pelo exemplo do que foi também a polémica da última revisão no tempo do Pessoa, hoje pacífica. Convenhamos que não tenho nesta matéria formação bastante para argumentar com o suporte com que vejo alguns fazê-lo, mas também o que mais vejo são exemplos dados por quem se nota que nem o leu, e se resulta como intoxicação, também diz da má-fé de muitos. Resolvi, assim, colocar a uma amiga da área das Letras a seguinte questão:

“Acabo de ouvir o Manuel Alegre e o Bagão Félix, na RTP, falarem sobre o Acordo Ortográfico, e porque tocaram num ponto que é uma dúvida que tenho desde o início: ou seja, o da evolução futura da língua, uma vez que é falada por tantos milhões de diferentes culturas, e tendo este AO sido agora feito com base na predominância da língua falada no Brasil onde a dominante evolutiva é de base oral, - forma evolutiva esta, ditada pela abrupta expansão do português motivado pela chegada do nosso Rei D. João, ao Brasil, que daqui partiu apressadamente não levando consigo manuais que tivessem permitido que essa evolução se fizesse na base correcta. E pergunto: Como se dará no futuro essa evolução? No final, e em tom depreciativo, o Bagão brincou depois com uma frase cacofónica: "Não me pelo pelo pelo de quem não para para reflectir." Ou seja: "Não me pélo pelo pêlo de quem não pára para reflectir." Como se desmonta isto?"

E aqui fica a resposta que eu teria dificuldade em dar com esta clareza:

"Quanto ao preconceito anti-acordo dos que lamentam a alegada cedência ao Brasil, deixa-me só dizer-te que se houvesse predominância pela oralidade brasileira, até que nem seria mau de todo para a preservação da língua portuguesa. Eles abrem as vogais, dizem todas as sílabas, enquanto nós, portugueses, sobretudo os da região de Lisboa, tendemos a fechar as vogais, correndo-se o risco de excessiva consonantização da língua... Os militantes anti-acordo gostam muito de arranjar essas frases improváveis para o descredibilizar. Não te esqueças de uma coisa: antes de aprender a ler, já falávamos. E os analfabetos que ainda há – cada vez menos, felizmente – não deixam de abrir ou fechar as vogais por elas se escreverem com ou sem acento." E aqui introduzo eu já um exemplo: “(fulana) é tola da tola!”. "Mais: o pessoal do Porto, mesmo com acento, diz o verbo cantar da mesma maneira seja no presente seja no passado... Até a Fátima Campos Ferreira, há tantos anos em Lisboa, continua a dizer falamos/falámos cantamos/cantámos da mesma maneira. E quanto à frase do Bagão Félix, não sei como é que ele disse o 2.º "pelo", mas o que mais ouço é as pessoas pronunciarem de forma igual ao “pêlo” de um animal, o que não está certo no português europeu, já que se deve fechar a vogal na contracção da preposição POR + o artigo O/A/OS/AS.

No caso das palavras homógrafas e homófonas, “antes e depois do AO” há o CONTEXTO, que em situações de comunicação real ajuda a desfazer ambiguidades. Vejamos, por exemplo: “as partes conseguiram um bom acordo” por contraponto a: “todos os dias acordo às 7.00h da manhã”. Mesmo sem acento, parece que ninguém terá dúvidas sobre como se pronuncia e qual o sentido e a função morfossintáctica da palavra “acordo” em cada uma das frases."

Parece assim que a questão do “contexto” não é tão desprezível para quem queira fazer entender-se e falar do AO sem condições prévias, nem a exibição de frases armadilhadas por inusitadas cacofonias.

Reedição: O link do vídeo com a opinião de José Saramago, foi deixado em comentários mas merece bem fazer parte do corpo do post:


03 fevereiro 2012

O Vasco, a capelinha e o Acordo

(Reeditado)
Se o Ministro da Cultura, Viegas, já afirmou que o Acordo Ortográfico se mantém, é para implementar e essa obrigatoriedade é para o Estado, a partir de 2012, como se compreende que Vasco Graça Moura tenha na sua primeira grande decisão conhecida à frente do CCB, mandado suspender o seu uso naquela casa, inactivando até os suportes informáticos de ajuda existentes? Argumenta que a obrigatoriedade da sua implementação é para eles a partir de 2014, por se tratar de uma entidade de direito privado, mas como aceitar, que estando o Estado vinculado se coloque de fora dessa obrigação uma casa como esta, onde é fundador de referência, apenas porque o seu novo inquilino foi um dos mais acérrimos opositores do Acordo? Que imagem daremos da nossa cultura quando temos cada um a decidir no seu feudo de acordo com convicções pessoais? Ouvindo entretanto a veemência com que VGM justificou a sua decisão, diria até que ele tem em relação à medida que tomou, a certeza da cobertura por tutelas superiores. Não me surpreenderia. Que eu aproveite todos os limites da implementação do AO para me sentir mais confortável com a aplicação das novas regras, entende-se, o que não se percebe é termos entidades deste relevo a darem estas tristes imagens da forma como nos organizamos, num domínio tão importante como a Língua em que nos entendemos.

Terá sido exactamente daquele local que outro velho do Restelo bramou sem consequências contra a aventura, mas o seu espírito deve ter ficado por ali a pairar para que vindouros mediúnicos o encarnem no momento de decisões importantes, voltando sempre a mesma ladainha. Por muito Direito que lhe assista não ser pró-Acordo, não tem contudo o de ser "anti", no exercício das suas funções oficiais, só porque ganhou a sua capelinha. Foi assim Graça Moura no CCB: à primeira cavadela, minhoca! Promete.

Reedição:
Uma mensagem amiga alertou-me para o facto do Viegas não ser Ministro. Sim, agora reparo que nunca me pareceu Ministro, embora o tivesse promovido mais levado pela importância que atribuo à pasta do que ao empastado. Afinal ele é só Secretário de Estado. Bem feito para ele que não lhe bastou tanto polimento aos corredores do poder a que paulatinamente se foi chegando. Aqui fica a ressalva.

25 junho 2008

Eu e o Acordo Ortográfico

Neste momento, tenho como grande dúvida, um Sim ou Não ao Acordo Ortográfico. Debato-me por vezes com a dificuldade em defender com a veemência que gostaria, uma tomada de posição concreta sobre um determinado assunto da actualidade. Vejo com frequência, destemidos, assumirem posições onde eu tenho grandes dúvidas e surpreendo-me com as suas crenças nas capacidades de antevisão dos efeitos naquilo em que acreditam. Sinto-me muitas vezes preso pelo efeito da opinião do “acho que” e raramente avanço quando assim é, porque nunca defendo pontos de vista em relação aos quais a minha convicção falha. Mas invejo os que não precisam de grande debate interno para terem sempre uma opinião formada sobre tudo.
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A minha primeira opinião foi: Porque não por todos a escrever igual? Fui portanto sensível aos motivos de uniformização aduzidos para haver o Acordo, espreitando de soslaio aqui para o lado e vendo o que fizeram há mais tempo espanhóis e sul-americanos. Por curiosidade, em relação à evolução ortográfica mais recente do Português, abri um dos livros relíquia cá de casa: “Viagens Maravilhosas – César Cascabel”, de Júlio Verne, numa edição portuguesa de 1891, onde se pode ler: “pae; boccado; escripto; metter, anno; épocha; architectura; D’ahi; prompto; gymnastica, etc. etc.. Conclusão: hoje são consensuais todos os decaimentos e alterações acontecidas.
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As alterações feitas anteriormente talvez não mexam da mesma forma na etimologia das palavras, como agora se pretende e de facto, no caso dos exemplos do “ato, ótimo, úmido, adoção, conceção” e outros que tais, confesso a dificuldade que terei em escrever alguns deles. Por outro lado, este é o tipo de reformas a que um purista tem dificuldade em aderir e conservadores também vejo muitos nos dezanove subscritores iniciais da petição contra o Acordo. Para agravar, sinto-me longe de gente como Zita Seabra a quem não concedo um pingo de credibilidade e Graça Moura é-me indigesto. Mas, por outro lado, devo relevar, porque não posso esquecer que esta é uma questão transversal, sendo Manuel Alegre, Vicente Jorge Silva e outros um exemplo disso. Tenho porém dúvidas se bastará a opinião dos subscritores anti-acordo para garantirem que não acontecerá à Língua Portuguesa uma ghettização fatal, porque não temos aqui um LNEC que nos faça um modelo à escala e julgo que o isolamento proposto será uma aventura nova sobre cujos resultados apenas se pode especular. Até aqui, o grande veículo da escrita foi a forma impressa que influenciava maioritariamente o pais que editava, agora, passará a ser a forma electrónica e esta, transborda na quase totalidade e na hora, para o resto do mundo. Nada poderemos fazer neste cenário, contra o poder dos muitos milhões que vão estar do outro lado do Acordo. A minha dúvida quanto à sustentação da Língua Portuguesa e da sua unidade com ou sem o Acordo, passa muito pela fiabilidade das garantias dos seus apoiantes ou opositores, a que continuo atento tacteando uma orientação. Entretanto, mantenho a neutralidade e vou-me recusando a achar que. Até ver.
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Para melhor orientação, podemos ler:
A história do Acordo, na Wikipédia.

E o que dizem os Pró e os Contra:
Portal da Língua Portuguesa – O Acordo Ortográfico
Petição Contra o Acordo