27 outubro 2013

Dúvidas Legítimas


Também para nós, Lou Reed, um dia destes, será um dia perfeito. Por enquanto são assim, só temos estes, e de dor em dor, de raiva em raiva, lá virá também igual ao teu, o nosso dia perfeito. É da vida. Tank you Lou. R.I.P.



Sampaio da Nóvoa

Sampaio da Nóvoa está na TSF, e respondendo a uma pergunta diz que a alteração de tudo isto passa mais pelo lado do pensamento social do que político. É por isso que aposto no debate sobre o RBI www.rendimentobasico.pt 
Vale a pena ir ouvi-lo depois no link da TSF:
http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=3469518&audio_id=3495323

16 outubro 2013

A pont’apé e as minhas três opiniões.



Nota prévia: Quando manifesto a minha discordância perante o simbolismo das bandeirinhas pretas de luto como protesto político, encontro sempre numa certa esquerda alguma resistência, porque estou a retirar-lhes um símbolo. É que entendo que basear uma ação no significado do que possa parecer a forma como se faz, é teatralizar um ato.
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A TRAVESSIA DA PONTE – I opinião.

A primeira impressão que nos causa uma notícia é sempre a mais genuína de todas. Foi assim que a primeira vez que ouvi o anúncio da manif/travessia da ponte, me ocorreram duas questões que relacionei: uma, foi aquela dos 226 sequestrados do Bairro da Bela Flor que isolados de uma manif destas, acabaram encurralados pela polícia nos acessos à Ponte, relação que nunca deixaria de ser feita entre o que aconteceu a esta ação e à proposta de agora pacificamente conquistar a ponte, e a outra, de que seria uma manif feita no âmbito do simbólico, primeiro porque as pontes são sempre um elemento propenssíssimo a todos os simbolismos, como aquele das alamedas de gente, - e eles fazem lembrar-me aquelas jarras pirosas que não deitamos fora e não sabemos porquê -, e depois, porque uma multidão a ligar as duas margens através de uma ponte monumental é coisa próxima de terrenos que me fazem impressão que se pisem, e não é por questões de segurança, para não falarmos já na inconsequência do resultado para tanto investimento de esperança, ou seja: com manifs destas podem eles bem. Se a isto juntarmos aquela conversa do Arménio Carlos ao Mário Crespo, na SICN, fica composto o ramalhete. Diziam eles:

Arménio:-“Nós não estamos aqui para oferecer em bandeja de ouro uma situação de conflitualidade ao Governo!”
..Crespo:-“Diga-me lá, vocês que até são aceites pelo Governo pela não conflitualidade, isto não representa uma escalada de violência?”
Arménio:-“Não! É precisamente o contrário!”
..Crespo:-“(bla bla, bla bla.)”
Arménio:-“Nós não vamos bloquear pontes!”
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Pronto, fico mais sossegado! 

Post Scriptum: Porque este post só vai ser editado depois da manif, para não desmobilizar porque lhe é critico, o texto em cima foi escrito durante a manhã de sexta feira do dia 11, e na tarde do mesmo dia, li a seguinte declaração de Joaquim Dionísio: “Ouvido no Fórum da TSF, Joaquim Dionísio sublinhou o simbolismo da marcha de dia 19 na ponte 25 de Abril e garantiu que a CGTP está satisfeita com o incómodo do Governo”. Logo de seguida, foi Carvalho da Silva a bater na mesma tecla: o simbolismo. Aí está. Estas declarações só confirmam o que escrevi em relação à presença deles nesta manif/travessia, ou seja, que há qualquer coisa que me faz recuar perante a construção de um país assente em tanto simbolismo. Preferia realismo, porque a revolta nunca é transferível para panos pretos e coisas afins. Os simbolismos? Ultrapassam-me, não me convidem para os transportar. Mais uma razão para não ter filtrado nada em relação às minhas perceções iniciais.
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A TRAVESSIA DA PONTE – II opinião

Mas estranhamente faltam 4 dias para a manifestação - já é dia 15 -, e é o próprio governo que me está a fazer mudar de atitude, ou seja, sem embargo de tudo quando escrevi, porque mantenho a mesma opinião, é preciso dizer que são estas atitudes de tentar boicotar o protesto através de precauções de segurança, quando se trata de pessoas em marcha na ponte mas não se colocaram com pessoas aos saltos numa competição, que incentivam a que o protesto se faça. Torna-se evidente que é uma forma de a inviabilizar, e nesse sentido, a manifestação ganha um novo élan que não tinha à partida: é agora um desafio irrecusável e muda-lhe substancialmente o cariz.

Faltam 4 dias e por aquilo que acabei de escrever entendo que o texto já não é desmobilizador, daí que com segurança, acho que o devo editar antes da dada em que esteve para sair.

A TRAVESSIA DA PONTE – III opinião

Mas não tão estranho quanto isso ia publicar o texto hoje de manhã, faltam 3 dias – hoje é dia 16 – e a CGTP cancelou a marcha! Não há por isso pé na ponte, ou seja, é uma ponte fora de pé. Resultado, não foi ninguém ao banho. Também é simbólico, não?
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Dizia Miguel Torga que ao país, “Falta-lhe o romantismo cívico da agressão”.



A TRAVESSIA DA PONTE – IV Conclusão
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Dia 19, 18:30 - Fiquei cansado, desmobilizado, igual a um dia cheio de nuvens, mas sobretudo preocupado, porque não é desta forma que lá vamos. As canções do Alentejo alimentam os ouvidos mas não a esperança. Esta receita equivale a destapar a panela: só lhe retira a pressão. Por muito boa vontade que tenha esta gente boa que hoje veio de tão longe para molhar os ossos, não chega. É altura de pensar que conquistas se devem ao simbolismo. Não sei se eles querem, sei que não os deixam ter outra atitude, e o futuro que queremos, assim, nunca mais é.
 

24 setembro 2013

... e da Crise p'ra onde?



Estive ontem no debate “Da Corrupção à Crise - Que Fazer?” com Paulo Morais, organizado pela Associação Abril, no auditório da Sociedade Portuguesa de Autores, numa sessão extraordinária, talvez a que mais gostei. O vídeo gravado pelos serviços da SPA, vai certamente ser muito importante para ajudar a divulgar a mensagem urgente que representa o que diz Paulo Morais.

Para vos dar uma noção da importância da comunicação, tenho que acrescentar em primeiro lugar que receio que alguma coisa possa vir a acontecer a Paulo Morais, e não estive só nesse receio, pela razão de que em Portugal o nosso problema não tem o nome sinistro como tem em Itália, mas existe sem nome entranhado em todo o nosso tecido, público, privado, e até em nós individualmente, desde há muito. Em segundo lugar, porque raramente saio de debates destes com uma força tão inabalável para fazer coisas, com uma convicção tão forte de que Portugal só vai conseguir sair desta situação à força, - ponderei o que escrevi -, convicção que assenta nas minhas próprias leituras, porque o imbricamento é de tal ordem a nível institucional, que não há autoregeneração do sistema que medre depois da dissecação necessária a fazer em si próprio, para que nada fique na mesma. A profundidade do que temos que fazer é enorme, se entendermos que o mais difícil são os vícios enraizados. Pode não mudar-se a formação de um individuo por decreto, mas é possível corrigir o seu comportamento num coletivo e isso, já é tarefa do Estado, e se o Estado está doente só há uma solução. Com o voto não vamos conseguir mudar nada, ainda que o povo votasse agora ao contrário, porque a doença está espalhada por todo o regime. O poder do Estado foi manietado e já não há parlamentar que o consiga libertar. Entretanto há forças negras à espera que caia de maduro.

Paulo Morais tem condições excecionais para juntar forças, várias forças, porque tem uma capacidade e uma coragem que outros não tiveram, e essa é uma das razões porque está a ser tão ouvido, não esquecendo nunca de nos lembrarmos como dizia Alegre: que não há homens providenciais. Tenho porém dúvidas se não morrerá como projeto se escolher a via parlamentar. É por isso fundamental comprar o seu livro, “Da Corrupção à Crise - Que fazer?”, incluindo eu que ainda não o fiz, porque tenho a certeza que pode ser um ponto de partida para cada um. Mas o debate continua no dia 28 de Outubro no mesmo local, com Raquel Varela, que vamos ouvindo com atenção cada vez mais.

Há contudo uma questão para a qual é preciso estar alerta em relação à forma como começamos a olhar para este sistema: é ouvir ser-nos apontado o termo “proto fascistas” como já ouvi aflorado no Eixo do Mal, acusação que não deixo de interpretar como chantagem para inibir. Uma coisa é certa, a tendência da lei das probabilidades em relação ao comportamento ético dos políticos não contempla exclusão de nenhum: estão lá para ser uma delas, como disse aqui.
Leitura sugerida sobre isto: Mito & Realidade.