A recente tertúlia a que tive o grato prazer de assistir, organizada pela Comissão SOS Cinema Europa, na centenária Padaria do Povo, leva-me à seguinte reflexão:
Uma das grandes dificuldades do Povo Português, é a sua enorme dificuldade em aderir de modu próprio e com empenho, a uma “causa”.
Sempre que o faz, é com paixão, mas tem que ser bastante empurrado para isso. Timor é um exemplo.
Vive, na enorme letargia de quem pensa que alguém providenciará por ele, a resolução do problema.
Auto dispensa-se da participação, parecendo até que geneticamente lhe foi transmitido o conhecimento dos mecanismos de funcionamento deste “emperramento” nacional, contra o qual não vale a pena lutar.
Descarrega a sua consciência, concordando civicamente entre muros, por vezes exibe alguma vergonha quando expõe essa aderência, temendo à sua volta os olhares da crítica.
Atribui-se a si próprio, enquanto cidadão, menos direitos do que se atribui enquanto indivíduo, no que resulta num fraco conceito de cidadania que o leva à aceitação e à resignação.
Vem isto a propósito da luta dos habitantes de Campo d’Ourique pela preservação de espaços como o Cinema Europa e o Cinema Paris. Seria bom que tivessem a consciência de que esta luta ultrapassa pelo seu sucesso ou insucesso, os limites das suas freguesias e é extensível a todo o País. Seria assim como se estivessemos em Direito e falassemos de “Jurisprudência”. É um efeito com que se pode obter o mesmo resultado.
Pode dizer-se por isso que o que está em discussão é mais do que o Cinema Europa, conforme bem explicaram os intervenientes naquela conversa, tendo ficado bem patente na apresentação dada pelo nosso amigo catalão da Galeria Zé dos Bois, ali para o Bairro Alto, com o exemplo que nos trouxe dos Centros Cívicos de Barcelona que desconheço, mas que convido todos a descobrirem.
Valia por isso a pena fazer passar a mensagem às freguesias daqueles Cinemas (Campo d’Ourique, Lapa, Prazeres e Santa Isabel) que podem muito bem fazer história, por oposição ao que foram os crimes cometidos contra obras primas como o Monumental ou o Éden e tantos outros. Mas para isso, têm que passar de um apoio passivo a uma atitude mais interventiva e dinâmica.
Não há nesta luta com os poderes económicos envolvidos vitórias antecipadas. É mesmo preciso participar, porque é a Cultura e a preservação da memória das cidades deste país que está em risco. Qualquer dia acordamos e Lisboa é um condomínio fechado "noveau riche" q.b..
1 comentário:
Um exorcisar dos demónios? Talvez. E haveria quem precisasse de o fazer. Comigo duvido que tenha sido, porque, sempre me vi ao lado daquela luta mesmo quando atravessava o deserto do esquecimento e o desânimo era total nas vigilias de protesto que se faziam com três ou quatro activistas em noites frias e de chuva.
Claro que foi positivo e este mundo seria melhor se houvesse mais gente a conseguir exorcisar os seus demónios.
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