No Almoço da Igualdade (de Homens e Mulheres, mas não só Mulheres...) na Cervejaria Trindade confirmei que os apoios de Manuel Alegre são do mais sincero que tenho encontrado em eleições. Nas campanhas eleitorais onde se vê um grande entusiasmo à volta dos candidatos, essa força parece vir mais do elan colectivo que a gera, do que da convicção interior de cada um. Há nessas grandes convenções, como que um frenesi colectivo contagiante, diria até, um suporte semelhante ao do fenómeno religioso. Isto não vale para dizer que uns são votos bons e outros são votos maus, apenas que cada um deles encerra um determinado tipo de convicção.
Ao meu lado estava um desses apoiantes convictos. Votos destes devem ser ouro para qualquer candidatura, a sinceridade estava-lhe estampada no rosto, como se pode ver nestas linhas simples que tinha escrito e que me ofereceu. Aqui ficam:
VAMOS A VOTOS
Tenho um saco cheio de livros.
Ando com esse saco às costas.
Lá dentro, está muita coisa de que gosto.
O saco está fechado.
Não sei como se abre, mas, há-de abrir-se.
Estão lá trabalhadores, Democracia, amores.
Desejos, direitos e tudo de todas as cores.
Dentro do saco, esvoaçam, tentam sair, desejam Liberdade.
Querem abrir as suas asas e voar.
Estão lá muitas histórias. Reais.
Fome, miséria, glórias, caçadas e caçadores, sofrimentos e muitas dores.
Tanta História lá dentro.
Tantos sonhos, alegrias, recordações, perseguições.
Não consigo abrir o saco. Já tentei várias vezes.
Alguém terá de o abrir. Só eu não consigo.
Já me doem as costas, mas não largo o saco.
Ele, há-de abrir-se e os Poemas, ideias, convicções, hão-de abrir asas e voar.
Porque já espreitei… e lá dentro estás tu, os teus Poemas.
Voa Poeta.
Abre o saco, Manuel Alegre!
Texto de: José Martins
Galamares
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