O amigo João dizía-me no dia da reunião de Alegre com a Comissão de Candidatura, quando decidiram a passagem a Movimento:
- Vês? Como está lá o aparelho?
Aquela pergunta, foi quase um murro no estômago. Não pela surpresa do comentário vinda desta espécie já rara de guerreiro que prefere perder um amigo, a deixar as moscas a lamber os nossos equívocos. Valham-me os meus desencontros que não chegam a ser equívocos. Mas foi mais, por uma espécie de toque na ferida, da qual não lhe quis dar sinal imediato.
- Não cabíamos 200 ou 300 numa sala, cabíamos 100, mais eles! Mas ao menos estavamos lá a dar outra legitimidade e tínhamos deixado de ser carneirada - dízia ele -
contra argumentei com as munições que uma resposta oficial impunha. E ela é tão clara que me dispenso.
- Lá estás tu com o teu bom feitio!... Se não fosse eu, outro dia comias a açorda com pão de carcaça depois de fazeres a apologia da Miga Alentejana...
Já estava a ganhar 2 – 0.
- João, bem vez – disse-lhe eu - há decisões a tomar sobre esta questão que não podem esperar pelo aperfeiçoamento da dinâmica deste Movimento e tinham que ser tomadas. Depois, vinha o problema do braço no ar, etc. etc. etc.. Tentei fazer-lhe ver que nada estava a ser decidido contra o espírito pelo qual andou a colar propaganda, a comprar livros e jantares de apoio. Tentei, mas não consegui. De tal forma conhece o espírito humano – diz ele – que começou a ver maus prenúncios no arribar de algumas figuras que mais não farão do que repetir a história. Algumas, até na última noite no Pavilhão Atlântico não se coibiram de lhe dar provas disso mesmo:
- Não viste!? Perguntou.
O problema, é que eu estava lá para testemunhar e vi ...
E agora fazia 3 – 0, e mais alguns marcados com irregularidades. Preocupou-me o inesperado nesta conversa já esperada. Será alarmismo dar à estampa que há muita gente com expectativas neste movimento que vão reclamar um pouco mais do que as linhas e metas traçadas no Manifesto do Candidato? Talvez esta conversa não faça bem ao curto prazo do Movimento. Mas antes assim do que fazer falsas partidas. Os perigos estão aí, talvez mais por dentro dele próprio e este relato pode mostrar como não vai ser fácil e tão volátil se torna esta esperança, se a história não nos servir para nada.
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