Bordallo Pinheiro e Fontes Pereira de Melo
A propósito da tertúlia de amanhã sobre Raphael Bordallo Pinheiro, abri ao acaso o seu Álbum das Glórias, reeditado em 2003, pela Frenesi, e saiu na excelente caricatura do Sr. Fontes, que vem acompanhada de um bom texto de Guilherme de Azevedo. Este não é o mais representativo da crítica mordaz daquele período, mas dá-nos uma boa indicação do ambiente de sátira social e política com que Bordallo e os amigos se divertiram:
(...) O Sr. Fontes é um parlamentar hábil e um estadista inteligente. Pôs-se à frente da sociedade portuguesa no último quartel do século XIX, e deixa-a ir para onde ela muito bem quer, para a glória ou para a bancarrota, sem a contrariar nos seus desígnios. Tem sobretudo a suprema ciência de lhe saber fazer as vontades. Ela não tem a compreensão dos seus destinos, o sr. Fontes deixa-a viver nesta doce ignorância. Ela não gosta de pagar mais décimas, o sr. Fontes pede emprestado aos vizinhos. Ela gosta da marcha cadenciada dos porta-machados, o sr. Fontes proporciona-lhe paradas.
É uma espécie de pai benigno que, levando o seu menino a passeio, se mostra complacente até ao ponto de, quando ele se deita no chão, pedir um vintém emprestado a um vizinho, indo a uma loja comprar dois bolos para conseguir que o pequeno se levante.
Quando estes meninos birrentos possuem a inefável dita de ter um papá que se chama Pombal ou Bismarck, o mais que conseguem, quando se deitam teimosamente no caminho, não é apanhar dois bolos, é abiscoitar dois açoites. (...)
Só peço ao amigo João que não se sirva do "abiscoitar dois açoites" e o branda como sua carta de alforria para discussões posteriores, e que não me estrague o post com divagações sobre o método, sabendo sempre que democracia é democracia mas que também ainda não conhece o expoente máximo do meu poder censório, neste blog.
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