04 abril 2006

Todos podem Pintar.

Uma entrada em comentários em À Rédea Solta obriga-me ao desenvolvimento em forma de post, pelo seu alongameto. A propósito do que diz Isabel Magalhães: Hundertwasser quer, com esta imagem executada com uma simplicidade extrema, demonstrar que todo o mundo pode pintar. Acrescento-vos eu o que aconteceu comigo: Um dia decidi levar à prática o que era uma enorme vontade desde os tempos de escola. Peguei umas telas, uns quantos tubos de óleo, uns pincéis finos de pelo de marta e num fim de semana sem meninos, ataquei apoiado numa JB e ao som de Roy Orbison, porque o que pintava tinha muito a ver com os sons do California Blue. A surpresa foi mais para mim do que para os outros. Acabava de resolver o tal problema de todos: ...e depois na Reforma como vai ser? Garanto-vos que não há actividade que mais nos preencha e absorva do que a pintura. Tudo depende depois do que se pretende, se é Pintar ou fazer Pintura, mas isso também passa pelo nível em que cada um se quizer ou puder situar.

Deixo aqui um extrato do livro de História de Arte, editado pela Gulbenkian que poderá dar uma ajuda a alguns dos intervenientes.


(...) “Mas o nascimento da obra exige, na última fase a participação de um público, sem o qual não se realizará plenamente. O artista não cria simplesmente por mera satisfação pessoal – deseja que a sua obra receba a aprovação dos outros. De facto, é essa esperança que de início o impele a criar, e o processo criador só ficará completo quando a obra encontar um público. No fundo as obras de arte existem mais para ser apreciadas do que discutidas.

Talvez consigamos resolver o paradoxo se compreendermos o que é para o artista o seu “público”. Não se trata de público como entidade estatística, mas sim do seu público. Importa-lhe mais a qualidade do que a quantidade. No mínimo, podem bastar-lhe uma ou duas pessoas, cuja opinião ele aprecie acima de outra qualquer. Se puder convencê-las pela sua obra, sente-se estimulado para prosseguir, sem elas descrê da sua vocação. Houve artistas de grande categoria que tiveram apenas um grupo restrito de apreciadores. Praticamente nunca venderam as suas obras ou tiveram oportunidade de as expor publicamente, mas continuaram a criar graças ao apoio moral de alguns amigos. Esses casos são raros, evidentemente. Em regra, os artistas também precisam de arranjar patronos – os mecenas – que lhes comprem as obras, juntando assim o amparo financeiro ao moral. Mas, para o artista, esses protectores são sempre “público” e não “clientela” (...)


Toda agente pode pintar, foi também aquilo que passei a dizer a partir dali.

3 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Olá Graza;

Gostei da surpresa... :)

Do seu post escolho esta frase pela grande verdade que encerra:

"as obras de arte existem mais para ser apreciadas do que discutidas."

Eu tenho uma maneira muito simples - que não simplória - de estar na
arte; Gosto ou não gosto.

Quanto à velha questão da diferença entre pintar e fazer pintura, vou dedicar um post ao assunto. Fique atento! :)

Um []

Nota de rodapé: Nem todos os artistas têm mecenas; eu não tenho! e há que NÃO ter medo da palavra 'cliente'...

O anónimo que entra numa galeria e compra uma tela não está a ser mecenas de ninguém. Está a fazer uma compra seja para decorar a casa ou para investir.

Concorda?

Isabel Magalhães disse...

Aquele seu comentário teria ficado bem aqui! :)

[]

Graza disse...

Admito. Não é tão pessoal assim.

"Sem discussão: A Arte só faz efectivamente sentido se for muito mais para ser apreciada do que para ser discutida.
Quanto ao problema dos Mecenas, e do mercado da arte, confesso que são para mim questões laterais, face à forma como a vou consumindo (apreciando), pelo que não arrisco. O que sei é que o comprei foi porque gostei e gostando não ía por no fundo de um baú, estão nas paredes onde gosto de vê-los. E é verdade que não me senti mecenas de ninguém.
Quanto a Deus e Bush acho que percebeu, como eu a percebi. Bush encoberta-se cínicamente com a palavra Deus, como os ditadores o fazem, conhecendo a força desse apelo."