Não sei se vos acontece, mas comigo é frequente valorizar mais a recordação de pequenos e simples momentos não programados na vida, do que os altos, elaborados ou faustosos das nossas andanças. Muitas das recordações que me ficam como bons momentos conseguidos, são acasos para os quais não houve alguma preparação antecipada.
- Uma grande viagem, pode não ter o encanto que teve, levar horas a serpentear as montanhas de Trás-os-Montes, debaixo da canícula estival, sem horários, onde cada paragem se transforma num acontecimento cheio de marcos.
- Um caro passeio de barco, salvaguardando as proporções, talvez não marque como passear numa manhã na ria de Faro com amigos e descobrir ali, de onde nascem e como se apanham os espargos selvagens - e se vê de repente uma Julia Roberts passar por nós de bicicleta para se perceber na volta que deveria ser uma prima dela!
- Verberar com veemência o amigo por não se concordar com a sua furtiva chinxada na quinta que amavelmente nos recebeu, para depois o enaltecer à noite à frente de uma apetitosa taça de figos-mel.
- Ou valer ainda até hoje, aquela meia hora em que descemos às fragas do ribeiro lá em baixo e conseguimos ouvir o som do calor de Agosto, deitados à sombra de um choupo.
- Em pleno luar de Agosto, parar naquela estrada infinita da planície no meio do nada, desligar as luzes e passear no campo fingindo que a Lua era como se o Sol estivesse tapado com um pano e o céu colaborasse.
Poderiam ser outros, mas estes acasos, escolhidos sem critério, servem para definir que as fronteiras de alguma felicidade que procuramos estão mais vezes próximas de nós do que imaginamos, tudo parece depender das harmonias que criarmos, e da verdade e empenho com que vivermos cada momento, mesmos os mais insignificantes.
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