Não sou técnico no acompanhamento de problemas relacionados com a Droga, Prostituição, Marginalidade, ou dos Sem-Abrigo, mas isso não implica que não pense estas questões em voz alta no intuito de juntar elementos ao debate que é urgente. Estas pessoas vivem em Lisboa, com maior incidência neste bairro e a cidade não pode deixar de ter uma resposta para elas e para nós que convivemos com elas.
São problemas que tendem a aparecer juntos por alguma razão mas aqui, provavelmente terão alguma razão histórica. Abordarei apenas os Sem-Abrigo, não deixando de referir que para os outros existem experiências internacionais de quem se adiantou já nestes processos e bastaria para isso analisar esses resultados e actuar, perdendo as nossas vergonhas e estilhaçando os comportamentos conservadores que mais não são do que permanentes objectores de consciência à mudança.
Lisboa mudou muito desde a época em que o Sidónio Pais fundou nos campos de Arroios a instituição que provia a sopa à pobreza que grassava nos finais do século XIX em Lisboa. Os pobres que a procuravam eram aqueles portugueses que falharam no seu projecto de vida, porque vindos dos meios rurais também não conseguiram ser urbanos e naquela época já não haviam epopeias marítimas onde embarcar e o ouro do Brasil que nunca tinha servido ao povo, já não servia agora nobreza.
A localização da cantina da Sopa dos Pobres era na altura, na periferia do centro da cidade e na proximidade dos bairros operários da Mouraria e do Socorro. Com o tempo e o melhor desenvolvimento social do país, os campos viraram ruas e avenidas e a Sopa dos Pobres ficou no centro da cidade. O perfil dos seus utentes passou do pobre típico daquela época que tinha sido o objectivo da sua criação para o dos “Sem-Abrigo” que são agora uma outra derivação da pobreza existente, a nova geração de excluidos, não justificando esta, por si, a forma actual de funcionamento desta instituição nestes moldes. A prova disto são alguns programas bem sucedidos de outras instituições de apoio que o fazem diferente, como por exemplo a AMI Centro Porta Amiga, O Banco Alementar, a Associação CAIS, Comunidade Vida e Paz etc. que prestam um apoio com outras valências na medida em que o fazem sem que os auxiliados se desinsiram do seu meio e tenham que vaguear pelas ruas e redondezas da instituição que os auxilia.
Por muito que nos custe tê-los com os seus andrajos a dormir à soleira da porta, onde exercitam práticas que tentamos esconder às crianças, não temos o direito de os empurar dali para nenhum ghetto, porque já basta o ghetto pessoal em que vivem. Mas isto não implica que não se procurem alternativas que substituam uma solução que vem de outra época e que serviu outra realidade social. Achar que este problema está resolvido, mantendo esta estrutura simples de um refeitório e uma sala que abre e fecha a porta para dar umas sopas mantendo nos intervalos uma série de necessitados no engôdo salivar de outra refeição, é ter menos visão do que Sidónio e nada ter aprendido com a evolução das ciências sociais.
Partindo do principio que estas situações não se conseguem resolver com o apoio domiciliário, há que procurar uma fórmula de consenso, que inclua as polivalências necessárias para um bom tratamento do problema. Quando digo polivalência, refiro-me à procura das tais soluções integradas que não passem por ter farrapos humanos vaguendo pela avenida, excretando no passeio entre viaturas e dormindo pelas arcadas dos prédios.
(Continua)
São problemas que tendem a aparecer juntos por alguma razão mas aqui, provavelmente terão alguma razão histórica. Abordarei apenas os Sem-Abrigo, não deixando de referir que para os outros existem experiências internacionais de quem se adiantou já nestes processos e bastaria para isso analisar esses resultados e actuar, perdendo as nossas vergonhas e estilhaçando os comportamentos conservadores que mais não são do que permanentes objectores de consciência à mudança.
Lisboa mudou muito desde a época em que o Sidónio Pais fundou nos campos de Arroios a instituição que provia a sopa à pobreza que grassava nos finais do século XIX em Lisboa. Os pobres que a procuravam eram aqueles portugueses que falharam no seu projecto de vida, porque vindos dos meios rurais também não conseguiram ser urbanos e naquela época já não haviam epopeias marítimas onde embarcar e o ouro do Brasil que nunca tinha servido ao povo, já não servia agora nobreza.
A localização da cantina da Sopa dos Pobres era na altura, na periferia do centro da cidade e na proximidade dos bairros operários da Mouraria e do Socorro. Com o tempo e o melhor desenvolvimento social do país, os campos viraram ruas e avenidas e a Sopa dos Pobres ficou no centro da cidade. O perfil dos seus utentes passou do pobre típico daquela época que tinha sido o objectivo da sua criação para o dos “Sem-Abrigo” que são agora uma outra derivação da pobreza existente, a nova geração de excluidos, não justificando esta, por si, a forma actual de funcionamento desta instituição nestes moldes. A prova disto são alguns programas bem sucedidos de outras instituições de apoio que o fazem diferente, como por exemplo a AMI Centro Porta Amiga, O Banco Alementar, a Associação CAIS, Comunidade Vida e Paz etc. que prestam um apoio com outras valências na medida em que o fazem sem que os auxiliados se desinsiram do seu meio e tenham que vaguear pelas ruas e redondezas da instituição que os auxilia.
Por muito que nos custe tê-los com os seus andrajos a dormir à soleira da porta, onde exercitam práticas que tentamos esconder às crianças, não temos o direito de os empurar dali para nenhum ghetto, porque já basta o ghetto pessoal em que vivem. Mas isto não implica que não se procurem alternativas que substituam uma solução que vem de outra época e que serviu outra realidade social. Achar que este problema está resolvido, mantendo esta estrutura simples de um refeitório e uma sala que abre e fecha a porta para dar umas sopas mantendo nos intervalos uma série de necessitados no engôdo salivar de outra refeição, é ter menos visão do que Sidónio e nada ter aprendido com a evolução das ciências sociais.
Partindo do principio que estas situações não se conseguem resolver com o apoio domiciliário, há que procurar uma fórmula de consenso, que inclua as polivalências necessárias para um bom tratamento do problema. Quando digo polivalência, refiro-me à procura das tais soluções integradas que não passem por ter farrapos humanos vaguendo pela avenida, excretando no passeio entre viaturas e dormindo pelas arcadas dos prédios.
(Continua)
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