25 junho 2008

Eu e o Acordo Ortográfico

Neste momento, tenho como grande dúvida, um Sim ou Não ao Acordo Ortográfico. Debato-me por vezes com a dificuldade em defender com a veemência que gostaria, uma tomada de posição concreta sobre um determinado assunto da actualidade. Vejo com frequência, destemidos, assumirem posições onde eu tenho grandes dúvidas e surpreendo-me com as suas crenças nas capacidades de antevisão dos efeitos naquilo em que acreditam. Sinto-me muitas vezes preso pelo efeito da opinião do “acho que” e raramente avanço quando assim é, porque nunca defendo pontos de vista em relação aos quais a minha convicção falha. Mas invejo os que não precisam de grande debate interno para terem sempre uma opinião formada sobre tudo.
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A minha primeira opinião foi: Porque não por todos a escrever igual? Fui portanto sensível aos motivos de uniformização aduzidos para haver o Acordo, espreitando de soslaio aqui para o lado e vendo o que fizeram há mais tempo espanhóis e sul-americanos. Por curiosidade, em relação à evolução ortográfica mais recente do Português, abri um dos livros relíquia cá de casa: “Viagens Maravilhosas – César Cascabel”, de Júlio Verne, numa edição portuguesa de 1891, onde se pode ler: “pae; boccado; escripto; metter, anno; épocha; architectura; D’ahi; prompto; gymnastica, etc. etc.. Conclusão: hoje são consensuais todos os decaimentos e alterações acontecidas.
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As alterações feitas anteriormente talvez não mexam da mesma forma na etimologia das palavras, como agora se pretende e de facto, no caso dos exemplos do “ato, ótimo, úmido, adoção, conceção” e outros que tais, confesso a dificuldade que terei em escrever alguns deles. Por outro lado, este é o tipo de reformas a que um purista tem dificuldade em aderir e conservadores também vejo muitos nos dezanove subscritores iniciais da petição contra o Acordo. Para agravar, sinto-me longe de gente como Zita Seabra a quem não concedo um pingo de credibilidade e Graça Moura é-me indigesto. Mas, por outro lado, devo relevar, porque não posso esquecer que esta é uma questão transversal, sendo Manuel Alegre, Vicente Jorge Silva e outros um exemplo disso. Tenho porém dúvidas se bastará a opinião dos subscritores anti-acordo para garantirem que não acontecerá à Língua Portuguesa uma ghettização fatal, porque não temos aqui um LNEC que nos faça um modelo à escala e julgo que o isolamento proposto será uma aventura nova sobre cujos resultados apenas se pode especular. Até aqui, o grande veículo da escrita foi a forma impressa que influenciava maioritariamente o pais que editava, agora, passará a ser a forma electrónica e esta, transborda na quase totalidade e na hora, para o resto do mundo. Nada poderemos fazer neste cenário, contra o poder dos muitos milhões que vão estar do outro lado do Acordo. A minha dúvida quanto à sustentação da Língua Portuguesa e da sua unidade com ou sem o Acordo, passa muito pela fiabilidade das garantias dos seus apoiantes ou opositores, a que continuo atento tacteando uma orientação. Entretanto, mantenho a neutralidade e vou-me recusando a achar que. Até ver.
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Para melhor orientação, podemos ler:
A história do Acordo, na Wikipédia.

E o que dizem os Pró e os Contra:
Portal da Língua Portuguesa – O Acordo Ortográfico
Petição Contra o Acordo



6 comentários:

SAM disse...

Como o nosso primeiro contacto foi exactamente na defesa da língua portuguesa no blog do Vítor Sousa, sinto-me compelido a comentar, até porque sou firme defensor do Acordo.

Não me parece mau que uma pessoa se assuma sem posição sobre ele, o que me parece inaceitável é a quantidade de pessoas que se assumem contra o Acordo sem terem a mínima ideia do que se trata.

O pudismo léxico e etimológico parece-me equivocado. Nem no italiano eles mantém "h" mudos e, claro "ph" ser substituído por "f" mostra que isso já aconteceu anteriormente.

As línguas evoluem, a não ser que estejam mortas (e mesmo essas também...). O importante é que haja debate para que as pessoas passem a ter a noção do que irá mudar (ou não). As pessoas devem pensar e reflectir bem antes de dar a opinião, por isso, acho a sua conduta das mais louváveis ao dizer que não vai "achar que".

Graza disse...

Caro SAM

O meu agradecimento pela visita e o regozijo por me lembrar e ser de um amigo comum, o Vitor que muito estimo.

Efectivamente sentia algum desfasamento face a tanta certeza que via por aí, numa matéria quase nova para todos. A única forma era dizer o ponto em que me encontrava, não escondendo o que dizia o meu instinto inicial de defesa da Lingua, da qual sou um simples utente, sem qualificações especiais. Claro que me metem respeito alguns subscritores e apoiantes da petição contra o Acordo e me obrigam à reflecção que agora faço, mas por muito respeito que tenha por eles, e por alguns tenho muito, também me parece que nenhuma reforma deste tipo se fará alguma vez com os puristas de alguma Língua, o que faz sentido, porque eles são de alguma forma os seus guardiões. E é esta rejeição que compreendo, que me afoita um pouco mais na inclinação da defesa do Acordo e óbviamente agora, a contribuição que tenho de falantes como o SAM.

Anónimo disse...

Sei como se sente caro Graza, pois também eu continuo sem opinião formada sobre o acordo ortográfico.

Já reflecti sobre as vantagens e desvantagens, mas continuo sem uma opinião definitiva, apesar de ter, neste momento, uma ligeira inclinação para ser contra, tendo em conta o argumento de que parece ter prevalecido o interesse da maior potência entre os países envolvidos no acordo (Brasil), sendo que um acordo é uma concertação de posições e não uma imposição do interesse de um sobre os interesses dos restantes.

De qualquer das formas, continuo muito longe de uma ideia definida, pelo que subscrevo na íntegra tudo o que escreveu.
Abraço.

Ricardo S

Graza disse...

Quando vejo entre o subscritores iniciais editores como Paulo Teixeira Pinto, o mais recente e Zita Seabra, tenho razões para pensar que poderão estar lá por outros interesses que não exactamente os meus. É evidente que nós abdicamos de 1,6% e o Brasil só abdica de 0,5%, mas se isso resultar para crescimento e expansão Língua, também resultará para o seu enriquecimento. Se esta formula resultou com o Castelhano, porque não há-de resultar com o Português.

Folgo em saber que há afinal mais portugueses como eu interessados na busca do que melhor nos representa: a nossa Língua.

tacci disse...

Quando, há já muitos anos, esta questão foi discutida, o Jorge Amado, muito diplomaticamente, declarou-se neutral: deixava esse problema para o revisor das suas edições. E tenho reparado que, de facto, me incomodaria muito mais ter de escrever «de fato» do que me custa ler a expressão quando a encontro num livro brasileiro. Sou levado a pensar que o problema está muito mais nos meus hábitos de escrita do que na funcionalidade (e na beleza) do português.
Francamente, o abuso das siglas, de termos tirados directamente do inglês e para os quais temos excelentes equivalentes, incomoda-me muito mais do que ler Guimarães Rosa com trema, ou, a partir de agora, sem ele. Porquê «rendibilizar» em vez de rentabilizar, por exemplo? Ou externalizar em vez de exteriorizar?
A minha esperança (provavelmente tola, mas a última a morrer) é que, a partir do acordo, haja uma maior capacidade de intervenção para evitar este tipo de coisas.
Um abraço.

Graza disse...

Obrigado Tacci pela contribuição nesta fase de incertezas sobre a melhor opção a defender para o êxito da Lingua Portuguesa. Parece-me também que a funcionalidade (e a beleza) do Português se sobreporão com o tempo aos nossos hábitos de escrita que são os de mais dificil aceitação. Também não me parece aconselhável para o futuro da Lingua que este debate se faça com base no ressentimento, porque isso só criará anti-corpos a uma unidade linguística. Sinceramente, preocupa-me muito mais a falta ao longo de todos estes tempos e no futuro, de uma política de apoio e ensino do português no estrangeiro, à semelhança do que outras fazem, do que mudanças que mais tarde ou mais cedo surgiriam, a menos que o Português se transformasse numa Lingua morta.