23 agosto 2008

Soltos para a barbárie

Acabou a nossa presença nos jogos mas não o nosso hábito de ligar a Rádio e a TV para saber novidades, agora é para saber quantos ourives baleados, quantas bombas assaltadas, quantas caixa roubadas ou quantos velhinhos violentados e mortos. Fica-me no ouvido a notícia, com um contentamento mal disfarçado, do quase linchamento que não passou de uns borrachos aplicados pela populaça, enquanto a polícia não foi levantar o meliante de um assalto. Mas esta notícia dos dois velhinhos de hoje foi o copo de água e está a por a nu a capa civilizada que me cobre e a tornar-me primário na aplicação da Justiça. Tenho que reflectir melhor sobre isto, porque me preocupa saber que por mais voltas que dê, acabo sempre por cair nos métodos sumários, como forma de alerta aos desgraçados que deixaram de ser os coitados que não tiveram as mesmas oportunidades que eu, para passarem a ser os criminosos abjectos pouco merecedores da minha misericórdia. Baseio a auto-despenalização que me atribuo, por este raciocínio que não me conheciam, na constatação de que estes facínora são apenas uma ínfima percentagem dos pobres e infelizes que não tiveram as mesmas oportunidades que eu. Rechaço por isso o tal discurso compreensivo da procura dos motivos que levam esta gente à barbárie, porque tem que ter um interior podre de mais, quem opta pela violência gratuita e liquidação de velhinhos desprotegidos.

Depois, há uma outra questão, que passa pela apreensão que esta gente tem de que os nossos brandos costumes deram nisto e estão a entrar por aqui como faca em manteiga. É a Justiça ou a aplicação dela que deixa todos perplexos. Os princípios podem estar bem mas alguma coisa faz com que eles não estejam e se ainda não estamos em condições de os aplicar por falta de organização que não sejam as pessoas a pagar com a vida essa brandura que acaba por voltar a deixá-los à solta para a barbárie.
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