01 fevereiro 2009

Freeport?! Duvido.

A defesa que faço de qualquer figura acusada na praça pública, tem mais a ver com o espírito de confiança que o implicado me transmite, do que simpatias pessoais, ou do seu desempenho público. É uma questão transversal ao seu posicionamento político, pelo menos no meu caso, como já se percebeu aqui, em relação ao caso Freeport. Desse modo, não seria por um jornal implicar Cavaco em qualquer falcatrua que me poria a duvidar a sua honra. Tenho naturalmente muitas dúvidas sobre os desvios que Sócrates imprimiu ao PS, mas não o vejo no papel em que anda a ser metido. E este benefício da dúvida, é um crédito de confiança que não consigo alterar sem motivos fortes para isso, e não é este jogo mediático de meios de Comunicação Social à beira da falência que me farão ver as coisas doutra forma. Não vou fazer aqui uma ronda pelos blogues que o consideram culpado antecipadamente, porque para isso já basta o que nos entra em casa a toda a hora embrulhado como notícia. Sigo antes o rasto de quem anda a escrever no sentido inverso. Veja nos links a seguir se desta forma não lhe parece que o caso Freeport tem andado a ser mal contado:
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15 comentários:

Ricardo Sardo disse...

Boa noite Graza.
Obrigado pelos links, realmente esta situação deixa-me inseguro, porque um país em que seja possível existir este tipo de manipulação da opinião pública é um país que tem a democracia em perigo.
Como alguém escreveu num blogue algures, pelo menos em África os africanos são mais honestos, já sabemos que nunca aceitam as derrotas em eleições e partem logo para a guerra civil e para o golpe de estado...
Não sei, tal como sempre escrevi no blogue, se Sócrates é ou não culpado, mas que a forma como este caso tem sido explorado e usado pelos media em geral tem sido vergonhosa e mesmo escandalosa se fosse num país como os EUA, por exemplo, onde um jornal que fizesses este tipo de jornalismo não mais vendia exemplares...
Mesmo que seja culpado, a sensação que tenho é que a estória foi explorada e utilizada para correr com ele.
Abraço e boa semana.

Graza disse...

É de facto preocupante, porque há muita gente de bem, naturalmente com dúvidas perante tanta pressão dos jornais. Há os que não acreditam nele, mas isso é como digo uma questão de confiança, e estão no seu direito, mas há os que não sabem lidar com a notícia por falta de sentido critico, para não falar já das iliteracías.

Alexandre de Castro disse...

Não me parece correcto, atacar a comunicação social, quando ela cumpre o seu dever de divulgar os factos "fundamentadamente relevantes" e de interesse público, como é o caso vertente, o do confuso licenciamento do Freeport e as suspeições também "fundamentadas" da existência do "crime" de corrupção.
E ao revelar à opinião pública "os factos relevantes", a comunicação social está a possibilitar e a potenciar o direito e o dever de informar e ser informado, que a Constituição da República consagra. Por isso, discordo frontalmente,na minha qualidade de cidadão e de jornalista, com todos aqueles que, embora exercendo o seu direito inalienável de exprimir com total liberdade a sua opinião, consideram a comunicação social a sede de um vespeiro para sacrificar políticos na praça pública. Quero afirmar que os jornais não são nenhumas câmaras da Santa Inquisição.
Se não existisse liberdade de imprensa, muitos crimes e muitas situações obscuras da política e da sociedade teriam ficado impunes ou, pelo menos, nunca teriam chegado ao conhecimento público, como acontecia antes do 25 de Abril.
E já que se reivindica o que, neste âmbito, se pratica nos Estados Unidos, convido os leitores a recordarem o que aconteceu no caso do Watergate e no caso do escândalo sexual que envolveu Clinton. O caso Warergate foi o resultado de uma acção corajosa de dois jornalistas que, já tendo conhecimento das graves irregularidades cometidas pelo Partido Republicano, resolveram assaltar a sua sede para obter as provas necessárias, que com êxito conseguiram, iniciando-se assim um longo processo mediático que levou à destituição de Nixon. Se no Portugal pacóvio e ignorante, algum jornalista português tentasse utilizar idênticos processos de investigação, seria queimado na praça pública por todos aqueles que, com o seu redutor e arcaico pensamento, ainda vêem o jornalista como um escriba e uma redacção como uma repartição pública.
Também é necessário desmascarar a má fé de todos aqueles que andam a apregoar aos quatro ventos de que de que a comunicação social acusou de corrupção o primeiro ministro. Desafio quem quer que seja, os bem ou mal intencionados, a provarem essa aleivosa afirmação. Os jornalistas apenas descrevem factos "verdadeiros", retirados da investigação judicial e policial. E para a polícia inglesa, Sócrates é suspeito de ter praticado os crimes de favorecimento e de corrupção. E se um qualquer jornalista se atrever a fazer uma tal acusação, antes da justiça a declarar, está a cometer um crime, segundo a lei, e a infringir o seu Código Deonológico. É bom que os detractores da comunicação social saibam que existe um Código Deontológico do Jornalista.
Se as pessoas ficam enjoadas com o ruído que a comunicação social faz à volta deste caso, e se ficam incomodadas com a aplicação no terreno do exercício do direito de informar e ser informado, um direito constitucional de que os democratas não abdicam, então o melhor será ir para a África, onde tudo se resolve à cacetada. E eu não quero ir para a África!

Ricardo Sardo disse...

Caro Alexandre, concordo e subscrevo o seu comentário, mas permita-me referir alguns aspectos:
desde o inicio desta estória (10 de janeiro, com a primeira manchete do Sol) que tenho criticado algum do tratamento jornalístico desta situação, independentemente do conteúdo do caso, isto é, se Sócrates esteve ou não envolvido nas suspeitas que lhe imputam. Vejamos alguns exemplos:

a) o Alexandre fala em "factos" divulgados pelos jornalistas. Mas acontece que nem tudo o que veio publicado nas últimas semanas corresponde a "factos", já que alguns se mostraram serem falsos, como alguns exemplos que eu dou nos meus posts.

b) Nos EUA existe uma regra deontológica de que todas as fontes terão que ser confirmadas, isto é, a informação por elas transmitida terá que ser confirmada ou por outra fonte ou por documentos, sem as quais a informação nao é publicada. No caso Watergate, os jornalistas como nao podiam confirmar a fonte (o "garganta funda") com outra fonte, entao la arranjaram uma forma de obter os tais documentos que pudessem confirmar a fonte. Ca em Portugal, isto nao acontece ou raramente se verifica. E neste caso quase toda a informaçao publicada nao foi confirmada ou por documentos ou por outras fontes...

c) Quanto ao facto de os jornalistas nao terem acusado o PM de ser corrupto, certamente leu o Correio da Manha de sabado passado, em que insinuava que a Mae do PM tinha pago uma casa a pronto em Lisboa, sem rendimentos para tal, quando a propria noticia explicava que a senhora tinha vendido, alguns meses antes, a moradia em Cascais, pelo que tinha cash, dinheiro a pronto, para o tal apartamento. Mas isso o jornalista nem sequer mencionou, da possibilidade de a senhora ter uma poupança ou ter pago com a venda da moradia, deixando no ar, com a primeira pagina, mais uma suspeita. Isto nao é jornalismo serio!

Caro Alexandre, como jornalista sabe melhor do que eu como ha muitos jornalistas serios e profissionais, mas acontece que, tal como nas outras profissoes todas, existem tambem os maus profissionais. E nas ultimas semanas, temos visto algum do trabalho destes maus profissionais, que ignoram os deveres deontologicos e os principios eticos, como sejam o rigor e a imparcialidade.
Existe, alias, um blogue, chamado A Pente-Fino (http://apentefino.blogs.sapo.pt/), que detecta muitos casos de falta de rigor e mesmo de profissionalismo nos media. Recomendo.
Termino, relembrando que subscrevo o que escreveu, que todos temos o direito à informaçao e os media tem o dever de informar. Mas muitas vezes esses deveres sao ultrapassados por interesses eocnomicos (vendas, etc) ou puro sensacionalismo. Os media e a informaçao sao uma necessidade, mas desde que bem utilizada.

Abraço.

Graza disse...

Caro Alexandre, o problema quanto a mim, é que alguma C.S. considera por vezes alguns factos “factos relevantes” aqueles que, e atente-se no Caso Ferro Rodrigues, mais não o são porque, com o objectivo de se tornarem relevantes, a isso foram promovidos pelos diferentes intervenientes na (de)formação da notícia.

Se não o conhecesse, poderia ter da sua posição indefectível na defesa dos Jornalistas, dúvidas legítimas, dado que em momento nenhum admitiu no que escreveu, a existência do mau jornalismo que não duvido que sabe existir, como existem maus cuidados médicos, má advocacia, maus parlamentaristas etc., apesar de todos eles terem o seu Código de conduta profissional, mas como o conheço, sei que a sua formação não pactua com os corporativismos que ambos detestamos. O escrutínio desta profissão, mais do qualquer outra, estará é todos os dias a ser realizado. A louvável defesa que faz da profissão que exerce e que nos lembra a existência do Código Deontológico dos Jornalistas, são o exemplo da sua postura e essa defesa, é a mesma que eu subscrevo, porque se há uma classe que eu nunca gostaria de ver constrangida e limitada na sua acção, é a de Jornalista. Fár-me-á justiça na verdade desta afirmação, pelo que acho que conhece de mim.

Não leve no entanto à letra o que vou dizer e agradeço que saiba interpretar porque só de falar neste nome, arrepia: se Goebbels tivesse sido jornalista, talvez tivesse exercido com êxito a sua profissão, mas nunca deixaria de ter sido um Goebbels, porque esse já existia dentro daquele que conhecemos. Doutra maneira, mas atenção não confundir o exemplo extremo, também cá temos gente que exerce a profissão ao abrigo de um Código, mas o código que têm dentro é outro. Sei isso quando não consigo ler o que escrevem ou ouvir o que dizem e alguns foram até conduzidos a figuras de topo na direcção da notícia nacional.

O seu comentário levanta tanta questão que se torna dificil a síntese para uma resposta neste espaço, mas há uma frase que não posso deixar de comentar pela injustiça do pressuposto que nela está implicito: ”Se não existisse liberdade de imprensa...” Acho que elevou o debate para uma discussão onde nunca entrou aqui. Mas se se referia a exigências ou outras pressões oficiais também lhe confesso que não me parece que estajamos nesse patamar. Considero portanto este “condicional” desajustado porque não é de liberdade de imprensa que estamos a tratar.

Este espaço limita como vê o debate, mas não deixa de ser uma óptimo recurso. Para quando um blog!

Um Abraço.

Alexandre de Castro disse...

Grazina:
Nesta discussão não está em causa a liberdade de imprensa, assim como não está em causa a existência de bons e maus jornalistas, nem a tendência sensacionalista da imprensa tablóide, que foram referidas como contra-argumento.
Mas todos sabemos que as posições daqueles que se dizem entediados com o ruído da comunicação social sobre o caso Freeport acabam por ter efeitos no auto-condicionamento dos jornalistas, ao mesmo tempo que dão pretextos aos governos para legislarem no sentido de limitarem aquela liberdade, como foi o caso deste governo ao alterar o conceito do sigílio profissional em relação à identificação das fontes.
Considero,pois, que a sua crítica não é correcta.
O recurso à expressão "liberdade de imprensa", que surge no meu texto, justifica-se plenamente no contexto do pensamento que a seguir exprimi.
E é esse tédio de muitos portugueses em relação ao ruído da comunicação social que encoraja o ex-ministro Correia de Campos a vir a afirmar, como o fez hoje, sem ter medo do ridículo, que, neste caso do Freeport, a imprensa ocupou o lugar da oposição, porque esta se encontra enfraquecida (vide Porugal Diário).

Anónimo disse...

Caro Ricardo S.
O motivo que me levou a intervir, circunscreve-se unicamente ao facto de ser posta em causa a utilidade do trabalho da comunicação social em tentar investigar e divulgar o complexo caso da Freeport, e a que se junta o protesto contra a afirmação de que o seu último objectivo seria "correr" com José Sócrates.
Esta posição, que eu denunciei, constitui a plataforma da antecâmara da campanha da "vitimização” do primeiro ministro e da teoria das forças “ocultas”, cujo desenvolvimento já está em marcha, como se pode ver no desfile alinhado dos vários actores a proferirem declarações mediáticas, previamente delineadas, e que não respondem às interrogações legítimas que muitos portugueses colocam sobre caso, e onde eu me incluo.
Recordo que numa sondagem recente da Universidade Católica, à pergunta «Acha que o primeiro ministro José Sócrates já esclareceu completamente as dúvidas que surgiram em relação à sua actuação neste caso ou que deixou coisas por esclarecer?», a maioria das pessoas (61%), que conheciam o caso, declarou não ter ficado convencida completamente. Também me incluo nessa maioria. Isto quer dizer que José Sócrates, com as suas explicações, não foi capaz de satisfazer as interrogações destes cidadãos.
As perplexidades remontam a Salamanca, onde pela primeira vez se pronunciou sobre as notícias que o Sol revelou, e que se baseiam em provas documentais (a carta rogatória da polícia inglesa que, explicitamente, o apontam como suspeito do crime de corrupção). Em Salamanca, muito displicentemente, afirmou que não tinha nada a ver com o licenciamento do Freeport, por ter delegado funções no seu secretário de Estado, afirmação esta que lhe atraiçoa a competência e o empenho, pois não é admissível que um ministro do Ambiente se desinteresse assim por uma proposta respeitante ao maior centro comercial do género e localizado na maior reserva de área protegida da Europa.
Mas, o mais inquietante, é que, dias depois, em face da bombástica entrevista do tio, já veio a admitir que, afinal, tivera uma reunião a pedido do edil da câmara de Alcochete com representantes da Freeport, caindo assim por terra aquele fingindo distanciamento que ensaiara nas declarações em Salamanca.
Também causa surpresa e inquietação o facto de não ter actuado dignamente quando o tio lhe disse que no ministério alguém estava a pedir dinheiro ao J. Smith, representante do Freeport em Portugal. No mínimo, impunha-se que tivesse efectuado um inquérito interno, que tivesse comunicado o caso à Polícia Judiciária. Ministério Público e ao primeiro-ministro, a quem devia lealdade. Não fez nada disto e, ainda por cima, presenteou o homem da Freeport com uma reunião, dizendo ao tio para o mandar falar com ele. Estranho comportamento, perante a eventual ocorrência de uma tentativa de extorsão de dinheiro por parte de funcionários do seu ministério.
São estas perguntas, e outras que, para não entediar muito, agora dispenso referir, que semearam a dúvida e a suspeição em muitos portugueses, tal como o inquérito da Católica refere. Dispenso-me também de referir as tergiversões do Ministério Público.
José Sócrates não é suspeito perante a Justiça. Mas, politicamente, é suspeito, pois as suas respostas evasivas mais adensaram o mar de dúvidas. Por exclusiva culpa sua. A comunicação social de referência, em termos de reportagem, apenas revelou o relatório e anotou as polémicas declarações do primeiro-ministro, fazendo com isso aquele ruído, desnecessário para aqueles portugueses que a sondagem refere estarem satisfeitos com as explicações dadas, e que é também incómodo para alguns, como é o seu caso.
Se existe uma campanha suja por parte da comunicação social para “assassinar o carácter” do primeiro-ministro, só existe um caminho a seguir. Proceder criminalmente contra os jornalistas que assinaram as peças eventualmente difamatórias. E não venha o ministro Silva Pereira falar de “perguntas insultuosas”, nem o ex-ministro Correia de Campos a afirmar que a comunicação social está a substituir uma oposição enfraquecida.
Oxalá que a Justiça inocente Sócrates, para que o governo tenha tempo para governar e fixar-se no combate aos efeitos perversos da crise e deixe de gastar energias alinhando na campanha do combate às forças ocultas, antes chamadas forças do bloqueio e mais tarde forças da cabala.
Alexandre de Castro

Anónimo disse...

Tal como Salazar se considerava o último defensor da civilização cristã e ocidental, também José Sócrates deve julgar-se o último combatente das forças ocultas, forças ocultas estas que vão de vento em popa nos Estados Unidos, onde, no passado, já derrubaram um presidente, e, agora, conseguiram bloquear a tomada de posse de dois colaboradores de Obama. E os crimes de Tom Daschle e de Nancy Killefer relacionaram-se apenas com a fuga aos impostos, situação esta que, em Portugal, é vulgaríssima, sem que ninguém se indigne.
Também o grande estadista Will Brant não lhes resistiu, mas aqui a força do bloqueio era a polícia secreta. Bastou um seu colaborador da chancelaria, então em Bona, ter sido apanhado a passar informações para a então RDA, para que ele se demitisse, gesto este envolvido por uma grande dignidade, que por cá vai escasseando.

Graza disse...

Caro Alexandre, depois de tudo passar, uma destas três hipóteses será verdadeira:

1ª – Apura-se a culpa de Sócrates. Prejudicado Socrates por razões concretas.
2ª – Apura-se a inocência de Sócrates. Prejudicado Sócrates pelas dúvidas de que foi vítima, também pela explicacão mediática dos factos, através de um formato que apontava para a culpa.
3ª – Não se apura nada e encerra-se o processo. Prejudicado Sócrates, porque a dúvida lançada sobre ele vai permanecer sempre.

Temos três conclusões possíveis no final desta saga, com Sócrates prejudicado em todas elas, mas apenas uma o condena. É justo dizer, quando hoje lhe apontam o dedo e ele se defende com a veemência que bem entender, porque se sente inocente, que isso “é companha de vitimização”?. Proibindo que faça alguma coisa para logo se acusar de vitimização? Aliás, se repararmos no significado da expressão, ela só faz sentido numa situação de culpado, porque se estamos a dizer: “está a armar-se em vítima?”, “não me tome por parvo!” e outras expressões do tipo, estamos automáticamente a dizer ao outro que o consideramos culpado, e nem lhe permitimos que nos esclareça porque nós já fizemos o veredito. São até, pelo imobilismo que implicam, uma forma de condicionar a defesa. Por outro lado, diz-se: não ser suspeito judicilmente, mas ser politicamente. Mas então não falamos do mesmo porque do crime, é a Justiça que trata. A César o que é de César, à Política ... etc. etc. Uma dúvida política desmonta-se com argumentos e no combate político.

Uma justiça lhe faço quando diz: “Oxalá que a Justiça inocente Sócrates, para que o Governo tenha tempo para governar...”, porque considero que a sua afirmação não contêm a falsidade desta que ouvi a uma voz da Direita: (...)«Com toda a tranquilidade, vamos enviá-lo para o Ministério Público para que não fiquem quaisquer dúvidas e suspeições sobre o bom nome do primeiro-ministro» (...). Amem!...É falso, porque a Direita outra coisa não quer se não isto. Mandem o que quizerem para o Ministério Público mas poupem este tipo de palavras apadralhadas.

Quanto a Willie Brandt e à ética política e a todos os outros tipos de ética, estamos inteiramente de acordo, essa é para mim quasi uma causa.

Um abraço.

Anónimo disse...

As três hipóteses avançadas pelo Grazina, além de ignorarem as questões pertinentes que eu levanto no meu penúltimo comentário, embrulham-se no mais perfeito pensamento da sofística, pensamemto este que, no sec. V a.C, o filósofo Sócrates atacava com a sua maiêutica. E, como se sabe, a sofística foi uma corrente filosófica, ou melhor, foi um método de pensamento destinado, não para a encontrar a verdade, mas para alcançar um determinado fim. Por isso os sofistas foram ridicularizados, e, posteriormente, ignorados, na antiga Grécia.
Eu prefiro utilizar o método dialéctico, que conduz o pensamento à formulação da tese e da ani-tese, para depois chegar a uma síntese, tal como foi formulado por Hegel.
E foi o que fiz no meu penúltimo comentário, onde procurei escrutinar o comportamento de um ministro do Ambiente que, ou foi negligente, ao tratar com leviana ligeireza o processo de licenciamento do maior centro comercial do género da Europa numa área de uma enorme sensibilidade ambiental, ou foi conivente com os interesses dos donos do empreendimento. E, neste ponto, apenas existem duas hipóteses, e não três ou quatro. Já existe a tese e falta a ani-tese para depois se proceder à síntese (conclusão).
Resta também saber a razão de tanta urgência para aprovar, no final da legislatura, o licenciamento da obra e alterar, sem o devido conhecimento da União Europeia, o limite da Zona de Protecção Especial, também a maior da Europa.
A todas estas perguntas, José Sócrates não respondeu concretamente, atirando para o ar a estafada fórmula de que "tudo tinha sido feito de acordo com a lei então em vigor", resposta esta que tenta tomarmo-nos por lorpas e mentecaptos.
É evidente que o recurso à vitimização em face das tais forças ocultas que o querem atacar a si e à sua família é uma elaborada estratégia de ataque de quem não consegue defender-se. É uma fuga para a frente.
Enquanto as perguntas formuladas à volta das contradições encontradas na condução do dois processos administrativos encontram sólido apoio na racionalidade, a estratégia da vitimização, de Sócrates, apoia-se no apelo emocional primário das suas mensagens estereotipadas, jogando habilmente com os conhecimentos da psicologia colectiva, que explica que as vítimas têm mais probabilidades de obter a comiseração do que os seus carrascos a compreensão. E eu, cidadão pacífico, sou assim atirado para o grupo dos carrascos, situação nada confortável.
Também o longo comunicado de hoje do Ministério Público deixa na sombra uma evidência. Nele, nada se refere sobre as razões que levaram à paragem das investigações em 2005, que, por mera coincidência, foi o ano da nomeação de Sócrates como primeiro-ministro.
Foi necessário a polícia inglesa esporear o MP para que "o caso da Freeport estivesse na moda", para utilizar a frase infeliz do Procurador Geral.
Alexandre de Castro

Graza disse...

Caro Alexandre, não devo ter caído bem no buraco da argumentação sofística porque desde muito cedo que nunca gostei do raio do palavrão, nem me considero assim tão artista da palavra para o merecer. Falsa dialética não será porque acredito no que estou a dizer e não sinto que esteja voluntáriamente a travestir factos e muito menos será retórica porque, aí já me estaria a despojar de valores.

O meu discurso é este, porque, ou não tenho como suficientemente credíveis os elementos para a formulação da tese, ou porque me faltam mesmo. Gostaria no entanto que acreditasse que há só uma hipótese que nunca lamentarei em relação a Sócrates, é a primeira que formulei, porque já nos basta que a culpa morra sempre solteira.

Anónimo disse...

Caro Grazina:
O problema que se coloca sempre nestas discussões é a variação dos ângulos de apreciação que cada um apresenta.
As três hipóteses que colocou, cuja racionalidade não está em causa, só são pertinentes na visão prospectiva e que só serão validadas quando a verdade surgir, o que, no meu ponto de vista, não vai acontecer, porque em Portugal, ao nível do poder, a culpa morre sempre solteira. E o que eu pretendo é abordar uma visão retrospectiva.
Eu,nos meus comentários, abordei um conjunto de dúvidas sobre a condução do processo de licenciamento do Freeport e da alteração da área protegida, dúvidas estas que recolhi da comunicação social, comunicação social esta que foi desvalorizada injustamente num comentário deste blogue.
O que se constata, é que o primeiro-ministro não as clarificou. Porquê?
Ainda julguei que pudesse ter alguma explicação da sua parte e do Ricardo S., já que desvalorizaram sempre estas dúvidas. Em vão.
Respeitemos a presunção de inocência do antigo ministro do Ambiente. Mas eu não abdico da suspeição política em relação aos dois processos administrativos.
Se houver alguém que possa esclarecer-me, agradeço. Eu não sei mais, o que lamento.
Um abraço
Alexandre de Castro

Graza disse...

Por aqui ficaría muito mais tempo neste debate com a sua preciosa colaboração, mas no momento em que nos encontramos parece terem já ficado esclarecidos cada um dos nossos pontos de vista. Isto, é também como diz, em função dos ângulos de apreciação que cada um escolheu e que acabam por ser determinados ou não, pela tal confiança que me levaria noutro extremo, a tê-la em Cavaco. E esta escolha não é de menor importância, é logo indiciadora da tendência de cada um dos observadores, o que faz com que não tenha a mesma dose de dúvidas sobre as mesmas fases do acontecimento e logo por aí, tenha alguma dificuldade em substituir-me aos actores, se eles não emitiram sobre essas dúvidas algum comentário ou os tais esclarecimentos que gostaria de ter, porque o nível de respostas oficiais via comunicação social, têm sido de caracter geral. É esta a razão pela qual não me vê entrar na formulação da tal anti-tese que gostaria de ver aqui em debate. Mas isto não faz com que deixe de exigir a necessidade de uma investigação eficaz que nos apure o que aconteceu e quem foi, e por isso, de entender a sua necessidade de uma visão retrospectiva, fundamental se atendermos à nossa classificação no ranking destas famigeradas “informalidades”.
Um abraço também.

Anónimo disse...

Caro Grazina:
De qualquer modo, o debate foi útil, pois alargou o horizonte de visão do grave problema criado pelo caso Freeport. Talvez venha a utilizar as ideias aqui expostas para sustentar um artigo de opinião para o Jornal do Douro, de onde estão sempre a pedir-me colaboração.
É confrangedor verificar a dificuldade de, na província, a imprensa local encontrar colaboradores competentes. Os que dominam as matérias têm dificuldade na escrita e os que gostam de escrever, por vezes, falta-lhes o conhecimento.
Um abraço
Alexandre de Castro

Graza disse...

Claro que foi útil e algum reboliço nesta casa discreta na paisagem blogosférica só lhe fez bem, animou o share de audiências (!), o que faz com tenha cuidado com o próximo post sobre o assunto, não vá acontecer alguma intrepretação errada sobre o meu aproveitamento jornalistico :)