19 junho 2009

A oportunidade das lutas.

Custa dizer isto, porque sabemos que alguns empresários aproveitam a maré para tirar ganhos ilegítimos, mas deixa-me confuso o problema da recusa do acordo laboral pelos trabalhadores na Auto Europa, numa altura em que recebemos email com fotografias de filas intermináveis de automóveis novos alinhados em portos, aerogares, terminais ferroviários e até autódromos por esse mundo fora, aguardando quem os compre, e numa altura em que assistimos à fusão das grandes marcas para evitar a catástrofe. A diferença que gerou a recusa foi de apenas uma centena de trabalhadores que votou o não acordo. Não sabemos que tipo de trabalhadores fez a diferença, qual é a sua consciência política, profissional e cívica, mas a avaliar pelos vv de vitória à saída do plenário, pela firme determinação como defendem os seus postos de trabalho devem ser gente mais corajosa e esclarecida do que eu, embora saiba que esta é uma velha questão que entronca com a luta e a firmeza dos trabalhadores, mas também com a solidariedade forçada e sofrida dos que não têm emprego e gostariam de ter, e olham de fora estas lutas com outros olhos.

Se a Auto Europa falhar como falhou a Quimonda, não teremos todos, os que vamos pagar esses enormes prejuízos que olhar para a coragem e para esclarecimento daquela centena de trabalhadores com outros olhos? Ou então, a responsabilidade de um qualquer grupo de cem trabalhadores de uma PME, pode ser considerada em termos nacionais, igual à de cem trabalhadores na Auto Europa? Isto não são certezas, são dúvidas.
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4 comentários:

Ricardo Sardo disse...

Concordo inteiramente. No caso concreto, com a reserva de nao conhecer em pormenor as razões da recusa, parece-me que se exagerou nas exigências. O João coloca bem a questão. Em comparação com outros empregos e com o actual estado do país e do mundo (desemprego crescente) muita gente olhará, certamente, para este caso com desconfiança e até desdém.
Todavia, não queria deixar de escrever que lá por vivermos tempos difíceis, tal não deverá justificar ou legitimar perda de direitos inalienáveis. Uma coisa é prescindir, temporariamente, de certas regalias ou benesses, outra coisa é permitir que se abuse dos trabalhadores só pelo simples facto de ser preferível, nos tempos que correm, ter 'trabalho escravo' do que nenhum...
Abraço.

Graza disse...

Óbviamente Ricardo. Eram medidas para enfrentar o momento actual que estavam em causa. Parece que até o histórico Chora votou vencido.

Alexandre de Castro disse...

Não conheço em pormenor a situação, nem acompanhei devidamente o processo de negociação. Também não sei se a administração da Auto Europa não estará a jogar com o medo dos trabalhadores de que a empresa venha a ser encerrada, para tentar fazer passar um contracto que lhe seja muito favorável na actual conjuntura. São situações muito complicadas, que só os trabalhadores da Auto Europa poderão em consciência decidir. Eles não são estúpidos, e não se deixarão manipular por forças partidárias e sindicais, como alguns tentam fazer crer. Se um partido, a um seu militante, o mandar afogar-se, ele não o irá fazer, certamente.
Uma coisa sei eu, por experiência passada. A UGT costuma acabar por assinar cláusulas contratuais, ao arrepio das ideias que, nos comícios, diz defender.

Graza disse...

Mas sabe Alexandre, neste caso, não sei se os trabalhadores conseguem comer queijo se tiverem só acesso à faca.

Parece que já circula uma Petição para voltarem às negociações...